28 de março de 2024
Campo Grande 30ºC

Cultura

De menina a mulher, a cultura paraguaia de geração em geração

Tatiana realiza um importante trabalho em prol da cultura paraguaia no MS

A- A+

Mato Grosso do Sul tem muita influência de nosso vizinho de lingua espanhola e guarani. Brindados fomos com sua cultura, gastronomia e música, que conquista, contagia e faz parte de nossa formação cultural e social, o Paraguai. Muitas pessoas do país fronteiriço, compõem a população sul-mato-grossense, trazendo em nosso DNA, a força de um povo forte, resiliente, alegre, talentoso e hospitaleiro. Com isso, existir pessoas comprometidas em manterem vivas essa integração e difusão cultural, é um bem precioso e recompensador.

A corretora de imóveis, Tatiana Lopes Baungarten, 42 anos, descendente de paraguaios, diretora de ações sociais da Associação Colônia Paraguaia de Campo Grande, e apaixonada por ser uma representante da paraguaia. Gosto que herdou de seu pai, o construtor Raul Baungarten Cabreira (já falecido), um dos fundadores da entidade que veste a camisa. 

Homenagem

Por sua contribuição e trabalho na manutenção e valorização da cultura paraguaia no estado, Tatiana foi uma das homenageadas na solenidade realizada na última sexta-feira (11) em homenagem ao "Dia do Povo Paraguaio", celebrado em 14/05, dia da independência do Paraguai. Para ela, foi uma honra, pois vem trabalhando continuamente pelo melhoramento da entidade. 

"Fiquei muito feliz e honrada de ter recebido essa homenagem. Foi uma proposição do deputado Cabo Almi, que me convidou pra ser homenageada. O dia 14 de maio, é uma lei estadual instituida como o dia do povo paraguaio em Mato Grosso do Sul, sendo um dia emblemático por ser o dia da independencia do paraguai. Fui convidada, porque atualmente faço parte a diretoria da Associação Colônia Paraguaia, antiga Casa Paraguaia, fundada em 1973. Tive ao longo deste ano nesta gestão, trabalhando em prol do projeto de revitalização da entidade, angariando recursos para custear o projeto arquitetônico", afirma. 

Revitalização

Tatiana destaca a importância da parceria recentemente firmada entre governo do estado e municipal, na obtenção de recursos que serão revertidos no melhoramento físico da atual sede, localizada no bairro Pioneiros, na capital, transformando-a, num espaço turístico da cidade.

"O projeto foi aprovado pela prefeitura começo de maio e estamos no aguardo pela asssinatura do convênio com o governo do estado. Assim transformaremos o local num ponto turístico e gastronomico da cidade. Mato Grosso do Sul possui a maior colônia de paraguaios fora do Paraguai, com cerca de 300 mil descendentes no estado, e 80 mil apenas Campo Grande. É algo benéfico, pois teremos salas multiuso, para aulas de linguas, violão, além de utilizá-lo para o social, desenvolvendo projetos a comunidade, espaço para bazares de artesanato e a construção do monumento da arpa e do violão, um sonho para nós, projeto do Sr. Cesar Sanchez, co-fundador e historiador", destaca. 

O pai de Tatiana, Raul Baumgarten, um dos fundadores da Colonia Paraguaia (primeiro da esq. prar dir.).

Um pouco da história

Tatiana conta um pouco de como a Associação Colônia Paraguaia nasceu e seus primeiros movimentos.

"Tudo começou com a doação pelo governador Pedro Pedrossian (1928-2017), da área que corresponde a Escola Estadual Hércules Maymone hoje. O projeto inicial seria do Hospital Paraguaio. Como estavam em busca de recursos, meu pai tinha uma construtora e, com recursos próprios, construiu um ambulatorio que passou a atender com dentista (Dr. Jorge Oruê) e clínico geral  (Dr. Horácio Carsetelli). Devido a questões de gestão, com a saída de Pedrossian e entrada de Wilson Barbosa Martins (1917-2018), resolveram dar outra destinação ao espaço. Nos anos 80, a gestão municipal fez a doação da área onde está atualmente".

Minha irmã mais velha

Com o pai sendo um dos fundadores, Tatiana acompanhou desde pequena a criação e desenvolvimento da Associação, tendo uma relação totalmente afetiva com o espaço. Ela brinca que considera a Colônia, sua "irmã mais velha", pois ela nasceu um ano depois da criação da entidade cultural.

"Meu pai, junto com minha mãe, foi um dos fundadores da Associação, em 1973. Costumo dizer carinhosamente que a Colonia é minha irmã mais velha (risos), pois nasci em 1974. Cresci dentro dessa entidade que eu amo profundamente e está no meu coração. Convivendo com os fundadores, as iniciativas sempre foram com o intuito de ajudar ao próximo. No início, o objetivo era ajudar os paraguaios que aqui chegavam, acolhendo-os, ajudando a conseguir emprego, e unindo-os paraguaios", diz.

Catando garrafas

Ainda destacando sua presença na instituição desde muito cedo, ela conta sobre sua grande dedicação, sobre os eventos e a união de todos, em conseguir fundos para a construção da sede fixa da associação. 

"Bem menina, eu ajudava meu pai em grandes eventos, como em inúmeros churrascos pra angariar recursos pra construção da Casa Paraguaia na Fazenda Rancharia, o local de eventos da época, onde já chegamos a fazer eventos com público de  dez mil pessoas. Antigamente, as bebidas eram somente em garrafas de vidro e faziamos em forma de consignação. Se quebrasse, tinhamos de pagar. Então, no fim das festas, minha mãe falava pra mim e minhas primas, "se ver garrafas no chão, vocês juntam e trazem pra mim". Minha primeira função foi catadora de garrafas (risos). Dos meus irmãos, eu fui a única que participava e ainda participa ativamente das atividades da entidade".

A fé

A fé e religiosidade, é uma marca da força da entidade, força que Tatiana atribui justamente a devoção a Deus e a Nossa Senhora de Caacupê, a santa padroeira dos paraguaios.

"A festa da Virgem de Caacupê, no dia 08 de dezembro, sempre foi uma tradição muito importante, pois meu pai era devoto. Me recordo da missa no local onde seria o ambulatório paraguaio. O padre rezou a missa em baixo de uma marquise. Como pedra fundamental, foi construida uma pequena gruta que envolvia uma imagem da santa. Hoje encontra-se dentro da gruta maior lá na sede atual. Então, acreditamos que a força da nossa entidade, está também na religiosidade e na proteção da virgem, que nos sustenta diante das adversidades que já passamos", considera. 

Força e empoderamemto mulher

A força da mulher paraguaia, é algo notório e Tatiana destaca que a garra delas, foram vitais para reerguerem um país devastado pela guerra.

"O empoderamento da mulher paraguaia começa muito antes do que se fala hoje. Quando houve a Guerra do Paraguai, a maioria da população masculina foi dizimada. Com isso, foram as mulheres e seus filhos, que reconstruíram o país. Então, a mulher paraguaia, é uma mulher forte e que apoia incondicionalmente sua família. Temos algumas mulheres na diretoria da entidade, que trabalham, ajudam e são guerreiras. Outras do grupo de oração, que estão sempre orando, pedindo o bem, e isso pra mim é a nossa fortaleza, rezando sempre, temos o grupo que participa na TV Imaculada, as mulheres estão ali".

PresidentA

Questionada sobre uma futura presidente mulher na Associação Colônia Paraguaia, Tatiana acredita que o momento é válido e que a mulher tem condições de ocupar posições de liderança em todas as esferas.

"Acredito que sim. Estamos num momento onde a mulher deve sim, ocupar mais espaços dentro da sociedade. O empoderamento da mulher, não deve ser tolido. No Paraguai, temos a vice-ministra que cuida de questões contra a violência feminina, que é uma mulher de fibra. É um exemplo dentro do cenário de mulheres despontando em todos os lugares do mundo. Ela tem outra visão, pois o homem na hora de gerir algo, estar a frente de uma empresa, é extremamente racional, diferentemente da mulher, que sabe equilibrar o racional e também o emocional, é mais harmonica neste sentido. A mulher precisa ganhar mais espaços, ter as mesmas oportunidades que os homens, não igualar-se. Há diferenças", considera.

O futuro
Sobre o futuro da entidade, Tatiana vislumbra um futuro positivo e realça o valor da generosidade e gratidão.

"Eu vejo a Colônia com um belo futuro, podendo ajudar a comunidade, mantendo e ampliando a difusão de nossa cultura e tradição. Como diz Manoel de Barros em "Livro Sobre Nada, "há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira". Isso traduz que o verdadeiro sai da alma, do coração, e o que desejo para a Associação Colônia Paraguaia e todo mundo, são pessoas sempre melhores. A partir do momento que as pessoas olhem para as outras com uma visão mais humana, que pensa em melhorar algo que não está bom e solidificarmos a cultura da generosidade e gratidão pela vida, pelo mundo que Deus criou para nós, caminharemos pra frente e com sucesso", finaliza.