29 de março de 2024
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'Direita x cultura'

Movimento que ataca peça infantil, apoia Bolsonaro e diz que cultura em MS não tem qualidade

"Após tentar boicotar a peça infantil no sábado no teatro Prosa o grupo atacou toda a classe artística"

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O auto escalão de políticos em Brasília começou a influenciar parte dos sul-mato-grossenses, para ser específico a 'Direita MS', grupo responsável pela defesa dos ideais da política pública atual instalada à frente do Brasil. 

Após virar "moda" manifestos contra a arte e contra a cultura em geral, o grupo 'Direita MS' dessa vez, resolveu 'boicotar', a exibição da peça de teatro infantiu "Judith e sua Sombra de Menino", durante a 5ª Mostra de Teatro Infantil de Mato Grosso do Sul; na noite de sábado (14), o grupo 'Direita MS' foi para frente do Teatro Prosa,  realizar manifesto contra a peça acima citada, um dos integrantes do grupo, o arquiteto Pietro Decenzo (44),  disse ao site Campo Grande News, que eles não queriam censurar  o espetáculo, "somente boicotá-lo", o que segundo a interpretação do arquiteto são coisas bem diferentes. 

“Estávamos lá para alertar os pais que a peça se trata de ideologia de gênero, que não é um assunto par ser discutido com crianças, elas só devem brincar”, disse ao Campo Grande News. Segundo ele, muitos pais deram meia volta depois de ficar sabendo o teor da história. 

Foto: Reprodução/ Facebook 

O grupo de 'pensadores' que integram o grupo 'Direita MS', nas redes sociais defendem ideais tais como Escola Sem Partido, a volta do voto impresso e ainda nas redes sociais tem como prática espalhar a #bolsonaro2018. 

Antes do manifesto realizado no sábado, outro movimento que tem atacado bastante as livres expressões artísticas, o MBL (Movimento Brasil "Livre"), diz ter entrado com uma ação no Ministério Público Estadual para proibir a exibição do espetáculo por ter utilizado verba pública para a montagem e circulação.

Foto: Reprodução/Facebook 

O espetáculo em questão é vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz. A peça é premiada, de autoria do grupo teatral Júnia Cristina Pereira, de Dourados, com direção de Gil Esper. De acordo com a sinopse, conta a história de uma criança que vive sendo criticada por não se comportar adequadamente para uma menina. Até que um dia, sua sombra se torna a sombra de um menino e começa a atrapalhar a sua vida. Com a belez da arte tem trilha sonora executada ao vivo, elementos do teatro de máscaras, sombras e bonecos. O trabalho busca refletir, de forma lúdica, sobre padrões de comportamento impostos a meninas e meninos. 

Para um dos líderes do MBL no Estado, discutir gênero é algo muito perigoso na infância. “A peça fala de ideologia de gênero, querem enfiar isso goela abaixo nas crianças, este não é um assunto que deve ser discutido no ambiente infantil, ainda mais usando dinheiro público”, pontua  Lucas dos Santos, de 19 anos, coordenador do MBL em Mato Grosso do Sul.

Apesar de não frequentar museus ou produções culturais do Estado, Lucas é categórico ao afirmar que a cultura daqui não presta. “Mato Grosso do Sul é recente, a cultura aqui não tem qualidade. Já frequentei museus e peças de vários lugares do mundo, não sou ignorante”, justifica.

Estudante de Jornalismo Igor Matheus, 24 anos. Foto: Tero Queiroz

Já para o estudante de jornalismo Igor Matheus, de 24 anos, ambos os movimentos 'MBL e Direita Livre',  "Deveriam ter um entendimento maior ao que a peça proponhe, e como isso interfere de fato na sociedade", diz Igor ao site MS Notícias.  

Ainda segundo o estudante, os movimentos estão presos a laços políticos e não a discussões sociais de fato, "É um movimento extremista que deveria ter um olhar mais apurado dos problemas da sociedade e não se prender a brigas partidárias", comenta Igor.  

O estudante ainda afirma que a peça é aberta as crianças e os pais podem criar seus filhos como querem, o grupo que diz querer o 'brasil livre' quer interferir no modo como cada pai cria seu filho, proibindo o acesso desses a cultura, "A arte está sendo agredida e vem sendo muito mal interepretada por quem tem intenções de ganhar com essa deturpação da verdadeira mensagem",  finaliza Igor.   

Mesmo concordando sobre a peça, os movimentos divergem em algumas questões. Questionados sobre a causa verdadeira das manifestações, os lados foram divergentes em opniões, “Nós não somos dessa direita que apoia Bolsonaro, pesquisamos e nos embasamos para defender o que pregamos”, explica o coordenador do MBL/MS.

Um pouco contraditório o coordenador do MBL, Lucas, diz não ser contra a arte. “Para mim o repasse para a cultura tem que aumentar, mas não este tipo de produção”, ressalta depois de afirmar que não tem conhecimento técnico para avaliar produções artísticas. “Muitos dos que estão se apresentando por aí também não tem, não julgo pelo mérito artístico e sim pelo que está na lei”, complementa o jovem. Porém a autora e o diretor de Judith e Sua Sombra são professores universitários.