19 de abril de 2024
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Editorial

A redenção do PMDB pode estar na queda de Olarte

O PMDB, tirante a luz produzida pelas faíscas do atrito entre quem manda e quem quer, vem mantendo um profundo e contemplativo silêncio. Estratégia.

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Longe da santidade religiosa, e com capacidade mais aguçada para entender dos deslocamentos dos anseios da população do que da probabilística da física quântica, os políticos, assim como Einstein, também sabem que “Deus não joga dados com o universo”. E as consequências, na política, mostravam até a pouco que o prefeito Gilmar Olarte (sem partido) era a personagem mais rejeitada na política local, seguido de perto pelo PMDB como um todo.

Olarte, por motivos óbvios: levar a Capital a um estágio de letargia administrativa acreditando que teria o mesmo poder de convencimento que sempre mostrou em púlpito, onde todo o errado se atribui ao Demo, e seu eu não “Sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, sou o assessor ungido para encaminhá-los à Ele.

Já no caso do PMDB, ficou atado, nas certezas imaginárias da população, ao desgoverno que descomanda Campo Grande, por ter participado ativamente das articulações que levaram à queda do prefeito eleito Alcides Bernal (PP), e por manter em seu braço, enquanto presidência e maior bancada do legislativo, o escudo que protege a atual administração além de postar seus asseclas entre os colaboradores do rejeitado prefeito.

Por outro lado, seu grande mentor e ex-governador André Puccinelli parece ter perdido a capacidade de Midas e, apesar de ser considerado, conforme pesquisas não oficiais, o grande nome a ganhar tudo o que venha a disputar, não consegue sequer dar um brilho dourado àqueles que elege seus favoritos. Ainda assim impede o crescimento de lideranças corroendo ou fazendo corroer suas sustentações. Assim se dá com Marquinhos Trad (PMDB).

Nesta guerra pessoal do ex-governador entre sua intolerância e sua sagacidade política, pode-se novamente parafrasear Einstein e dizer que “… talvez Deus não queira ser observado. Acho que Ele não gosta de curiosos.” Por isso perguntado sobre suas pretensões ao Governo, indica que pode ter pretensões ao Senado, e vice-versa.

Mas o acaso que não existe parece que vem trazendo a galope a solução tão sonhada pelos peemedebistas. Ou por intermédio da Justiça, ou por intermédio da primeira Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que deve abrir as portas a outras, contra o desgoverno Olarte, o PMDB pode vir a retomar o poder municipal em breve.

Cassado Olarte, assumira por consenso o presidente da Câmara, Mario Cesar (PMDB), com as roupas e as armas de Jorge para combater o dragão do caos administrativo, com a vantagem de já contar com velhos e bons amigos que cuidam da administração do dinheiro que não existe na prefeitura. Neste caso, tanto pela capacidade que demonstra ter, quanto pelos fatos que envolvem forças e contraforças políticas, certamente conseguiria dar um norte para a gestão municipal e chegar nas eleições de 2016 com uma máquina administrável. Por conseguinte, seu caminho para a reeleição estariam pavimentados como provavelmente estejam até lá algumas das principais vias esburacadas e remendadas da Capital.

Assim, com Marquinhos Trad obrigado a sair cabisbaixo pela tangente da janela de infidelidade proporcionada com a fusão de PTB com DEM, e com o esfacelamento de candidaturas pela mal compreendida reforma política, Mario Cesar seria o cavaleiro da esperança e tábua de salvação do PMDB.

Tudo isso, ainda, falta combinar com o eleitorado. Tudo isso ainda não leva em conta o turbilhão Bernal, uma incógnita.

Bernal pode retomar a prefeitura por decisão judicial, e ai provavelmente seria seu fim político porque as mesmas forças que o apearam do poder irão trabalhar intensamente para seu desastre. E ai o povo e a barafunda a que seria levada Campo Grande, seriam meros detalhes para aqueles que pensam política e poder a longo prazo. Ou não pode acontecer. E ainda que Mario Cesar navegue numa imensa onda de prestígio, nunca é demais lembrar que Bernal obteve nas eleições de 2012, 176.288 votos em primeiro turno; 270.927 que o elegeram no segundo turno. Caso haja dúvidas sobre sua força, em 2014 já cassado, sem estrutura para visitar todas as cidades do estado e cavalgando solitário no seu PP, obteve 204.262 votos para o Senado.

Mas, enfim, obedecendo as leis da natureza, tem-se quase por certo que é necessário que Olarte morra para que o PMDB germine.