25 de abril de 2024
Campo Grande 23ºC

MANOBRA

Bolsonaro encontra presidentes do Centrão e PSD após crise no PSL

Presidente busca MDB, DEM e PSD para assegurar apoio no Congresso, após romper com parte dos deputados da legenda pesselista

A- A+

O jeito foi recorrer aos “velhos amigos”, ação escolhida por Jair Bolsonaro (PSL), na tentativa de evitar isolamento após deflagrada a crise no partido do presidente. Além de ter negociado a reforma da Previdência, que avançou apenas com a liberação de R$ 3 bilhões em emendas parlamentares, Bolsonaro procura aqueles que sempre estiveram no poder, MDB e PSD, centrão. Ao que tudo indica, os planos do Centrão e peessedebistas de estarem no governo 'vão bem'.  

Nas últimas semanas, Bolsonaro reuniu-se com o emedebista Baleia Rossi e Gilberto Kassab (PSD), ambos presidentes de suas siglas. Bolsonaro resgatou do passado a prática de receber líderes partidários no palácio do Planalto. 

Em agenda na Ásia e Oriente Médio, Jair Bolsonaro deve continuar com os “encontros políticos”, assim que voltar, daqui a duas semanas. 

O conflito no PSL se deu após o anúncio de R$ 110 milhões que serão destinados ao fundo partidário pesselista.  De um lado está o clã bolsonarista e do outro àqueles liderados pelo presidente da legenda, deputado Luciano Bivar (PE).

A crise no PSL desdobrou em racha no PSL, tudo quando o presidente brasileiro disse à um ciclista que o cumprimentava para: “esquecer o PSL”, a gota d’água leva Bolsonaro a procurar um outro pouso, acontece que quem está lhe oferecendo guarida, “PSD, centrão e MDB”, são os mesmos que o associam a prática da ‘velha política’. 

Em reunião com Kassab, no Palácio da Alvorada na última sexta-feira (18), compromisso que não estava na agenda oficial, Bolsonaro usou tom amistoso ao se referir ao presidente emedebista. “Eu converso com todo mundo. Uns eu convido, outros querem vir. Eu converso com todo mundo. É o papel de um presidente. Eu quero paz para poder governar. Temos problemas enormes para poder resolver”, disse Bolsonaro logo após o encontro.

No entanto a postura do presidente agora é diferente pois durante campanha atacou Kassab, dizendo que ele não sabia diferenciar “gravidez de gravidade”. O presidente emedebista esteve nos governos Temer e Roussef. 

A visita do ex-prefeito de São Paulo ocorreu a convite do presidente e foi bem avaliada por líderes do Congresso.

“Não há como fazer andar essas pautas [de interesse do governo], fazer com que as coisas aconteçam com maior celeridade se não for com uma sólida relação de parceria entre Executivo e Legislativo”, disse à Folha o líder do PSD na Câmara, deputado André de Paula (PE). 

“Os sinais que a gente começa a perceber tanto do presidente quanto do general Ramos nesse sentido são muito bem-vindos”, afirmou. 

Bolsonaro tem recebido ainda quadros do DEM, como o ex-deputado Alberto Fraga (DF), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).

O governo, apesar do movimento, tem mantido o discurso de que não cederá à práticas da “velha política”. 

O objetivo dos encontros, dizem interlocutores do Palácio do Planalto, é angariar apoio das legendas.

Baleia Rossi vê com bons olhos a tentativa de Bolsonaro de buscar diálogo, mas se diz independente.

“Não temos nenhuma intenção de aderir ao governo e muito menos de indicar nenhum tipo de cargo. Não temos essa expectativa e não queremos isso”, diz. “Esse diálogo é sadio e republicano”, salientou. 

Embora segundo Rossi seu partido não tenha aderido ao governo, é filiado ao MDB o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (PE), que, assim como Bivar, foi alvo de operação da PF, mas segue firme no posto.

Bezerra Coelho é investigado sob suspeita de desvios de recursos de obras quando era ministro da Integração Nacional em governo do PT.

O MDB ganhou ainda mais espaço com a destituição de Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso. O senador Eduardo Gomes (TO) assumiu a vaga.

Bolsonaro espera que a crise que assola seu partido se arrefeça em duas semanas, quando ele voltar das viagens.

Líderes políticos ouvidos dizem que a chegada de Ramos à Secretaria de Governo ajudou na quebra dessa resistência de Bolsonaro.

Com a debandada de apoiadores, as pautas contra o governo, como as CPIs da Lava Toga e das Fake News, não terão mais adesão incondicional, já que dos 53 deputados, apenas 20 deles se mantêm ao lado de Bolsonaro.

Eduardo Bolsonaro (PSL), estopim da crise, usou as redes sociais para cobrar fidelidade dos deputados ao governo do pai. O filho do presidente ainda comentou o escândalo das candidaturas laranjas e salientou que isso tem feito o pai “levar muita pancada”. No entanto, Bolsonaro mantém no cargo o ministro Marcelo Álvaro Antônio (MG), o suspeito na ocasião apontada. 

BALANÇO DA CRISE

Crítica a Bivar
A um apoiador Bolsonaro disse, no dia 8, que Luciano Bivar, presidente do PSL, estava "queimado pra caramba".

Saída do partido
Um dia depois, Bolsonaro disse a pessoas próximas que estuda soluções jurídicas para sair do PSL e levar consigo deputados aliados.

Transparência
Bolsonaro e mais 21 deputados encaminharam um pedido à direção do PSL para que forneça a prestação de contas do partido.

Guerra dos líderes
Deputados bolsonaristas tentaram depor o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, que é ligado a Bivar, e substituí-lo por Eduardo Bolsonaro. O próprio presidente atuou nesse sentido, mas a tentativa naufragou.

Destituídos
Em reação, Bivar decidiu destituir Eduardo e Flávio Bolsonaro do comando dos diretórios do PSL em SP e no Rio. Já Bolsonaro tirou Joice Hasselmann da liderança do governo no Congresso.

Suspensos
O grupo bivarista anunciou a suspensão das atividades partidárias de 5 deputados que assinaram a lista para destituir Waldir.

Fonte: Folha de S. Paulo.