20 de abril de 2024
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2022 - 'PRÓPRIO VENENO'

Com a chave do inquérito das milícias, apetite de Moro pela cadeira assusta Bolsonaro

Sem chances de retorno à toga, ministro só terá a cadeira da presidência como alvo principal

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O jeito de inclinar a cadeira no Palácio do Planalto mudou, nesta manhã (11), até mesmo quem apoia, sussurrava desconforto com as conversas atribuídas à Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, no entanto os lava-jatistas afirmam que as redes sociais estão ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública brasileira. Que tem chances anuladas de retorno ao seu campo de estudo, lhe restando apenas um alvo principal: a cadeira ocupada pelo chefe. Isso, por sua vez, causa temor na família presidencial, que esperava mesmo manter-se no poder em 2022. 

Essa história já foi contada tantas vezes na literatura e se repete na vida real. Quem teme Moro agora é o próprio chefe, que tentaria jogar o ministro para baixo da toga, lhe oferecendo um trabalho na Suprema Corte. Porém, à divulgação dos áudios de conversas entre o ex-juiz e o procurador da Lava Jato, causa distanciamento das possibilidades de Moro retornar ao judiciário.  

Outros incômodos, como o silêncio do chefe, Jair Bolsonaro (PSL), foi o mais eloquente. Um fator que pode mudar isso é o comportamento das redes sociais.

A articulação de uma eventual Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra Moro está na mão da mesma esquerda que já 'pedia sua cabeça'. Os incomodados com o ministro e seu pacote anti-crime no Congresso apenas observam.

Aqui, outro silêncio indica importante neutralidade que se traduz como apoio: o do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Moro só pôde contar com manifestações de militares com assento no governo, que sempre o apoiaram. Ainda tem ao seu aldo o vice Hamilton Mourão e de Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). Fora disso, o que mais se ouviu foram sussurros incomodados.

Não é nada desprezível o dado de que Bolsonaro queixou-se a pelo menos dois interlocutores sobre o que considerava apetite de Moro por sua cadeira em 2022.

A exposição pública que fez do acordo entre os dois, visando dar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), pode ser vista como um tiro de advertência claro.

No campo da teoria conspiratória, fertilíssimo, sempre é lembrado que o ministro tem as chaves que regem o inquérito que apura se há envolvimento entre milícias e a família do presidente.

Fora do governo, Moro ainda nada bem na espuma da onda que levou o chefe ao Planalto. Ali, recebeu apoio dos filhos da primeira-família mais ativos virtualmente, Eduardo e Carlos. Não haveria de ser diferente: o espírito da Lava Jato estava no centro da insatisfação popular que ajudou a eleger Bolsonaro.

Mas mesmo o bolsonarista mais empedernido deve saber que a vida real não se resume a likes, e a revelação do teor das conversas até aqui atiçou adversários de Moro que nada têm a ver com a campanha Lula Livre.

Além da situação no Congresso, a disputa no Supremo entre os chamados legalistas e aqueles que aprovam a Lava Jato tende a pegar fogo.

É uma briga que remonta a debates sobre a Operação Satiagraha na década passada.

Ainda que as coisas se acomodem, as chances de o ministro ir para a corte parecem bastante reduzidas agora.

É importante ressaltar também o "agora". A ameaça feita pelo The Intercept de revelar mais episódios comprometedores a conta-gotas deixa qualquer avaliação ao sabor do acontecimentos.

Criticado pelos apoiadores de Moro, o modus operandi é irrelevante dado que ninguém contestou o conteúdo do que foi exposto até aqui.

Nesse quesito, aliás, há alguma ironia histórica. Moro sempre gostou de ser associado à Lava Jato, mesmo como seu líder, o que não lhe garantiu muito prestígio na Polícia Federal, por exemplo.

Daí toda a revolta dos expostos contra o vazamento ser intrinsecamente risível: o argumento de criminalizar a revelação foi usado por todos os afetados pela operação desde seu começo em 2014, culpados ou não.

Se é fato que qualquer ascensorista de tribunal sabe que juízes trocam impressões com procuradores ao longo de processos, por errado que seja, ao fim a Lava Jato está provando de seu próprio veneno.

As informações são do jornalista Igor Gielow