25 de abril de 2024
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PALAVRA DO GRÃO VIZIR

Delator garante que Taques é o "sultão" e acusa advogado de fazer "caixa 4" em 2014

Alan Malouf assume que R$ 7 milhões não foram declarados na campanha de tucano

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Reportagem exibida pela TVCA, afiliada da Rede Globo, mostrou trechos de depoimentos prestados ao Ministério Público pelo empresário e delator Alan Malouf detalhando profundamente a arrecadação e gastos de dinheiro não contabilizados através de caixa 2 na campanha de 2014 de Pedro Taques (PSDB), hoje ex-governador de Mato Grosso. Dentre outros pontos, foi exibida uma parte onde Malouf afirma que Pedro Taques, já na condição de governador, sabia da arrecadação de propina para quitar dívidas da campanha e coloca o tucano como o “sultão” do esquema de corrupção e fraudes a licitações operado na Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e desarticulado na Operação Rêmora deflagrada em 3 de maio de 2016 pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco). 

Malouf faz referência à 3ª fase da Operação Rêmora batizada de “Grão Vizir” deflagrada em 14 de dezembro de 2015. Na ocasião, ele foi preso por determinação da então juíza titular da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Rosane Santos Arruda, hoje senadora pelo PSL. "À operação foi dado o nome de Grão Vizir. Se eu sou o Grão Vizir, quem é o sultão então? Fica muito claro que o sultão é o Pedro Taques, é o governador. Então, eu fiz a mando dele para saldar a dívida de campanha dele e não minha. Eu não sou governador. Eu não fui governador", afirma o delator Alan Malouf. 

O empresário e delator confessou participação no esquema revelando que atuou como o “braço direito” do então candidato Pedro Taques na campanha de 2014. Ele garantiu que o tucano sempre soube das irregularidades na arrecadação da campanha e que nada teria sido feito sem autorização de Taques.

Malouf foi condenado em outubro de 2017 numa ação penal derivada da Operação Rêmora a  11 anos de prisão por integrar a organização criminosa que fraudava licitações na Seduc. A reportagem também mostra vários pontos em comum entre as delações de Malouf e do ex-secretário da Seduc, Permínio Pinto (PSDB) que também foi preso na Operação Rêmora e depois assinou acordo de colaboração premiada. 

Permínio afirmou que um grupo de empresários deu dinheiro para o caixa dois da campanha de Pedro Taques em 2014. Nos depoimentos prestados ao Ministério Público, o ex-secretário disse que teve contato com o grupo chefiado por Alan Malouf dois meses antes de assumir a chefia da Seduc. 

Conforme Permínio, o próprio Malouf afirmou que coordenou a captação de recursos financeiros junto a alguns empresários. Ele próprio admitiu compor um grupo de doadores intitulado G5, composto, além do próprio Alan Malouf, Eraí Maggi, Juliano Bortolotto, Marcelo Malouf e o atual vice-governador do estado, Otaviano Pivetta (PDT). 

“CAIXA 4”

Sobre as doações eleitorais não contabilizadas, Alan Malouf confirma a versão de Permínio de que parte da arrecadação da campanha de Pedro Taques foi registrada em outra contabilidade.  "Até aqui é oficial, daqui pra baixo é o caixa 2 que totalizou até a data R$ 34,148 milhões com caixa 2", diz ele em vídeo extraído dos depoimentos.   

Nas prestações de contas à Justiça Eleitoral, Pedro Taques declarou ter gasto R$ 27 milhões na campanha, R$ 7 milhões a menos do que o total arrecadado, segundo Alan Malouf. Parte dos valores arrecadados pelo grupo de empresários, segundo Malouf, foi parar nas mãos do advogado Paulo Taques, primo do ex-governador e que ocupava o cargo de secretário-chefe da Casa Civil. 

Conforme a reportagem, a contabilidade paralela da campanha Taques chegou a registrar doação num caixa desconhecido até para quem cuidava do dinheiro ilegal. "Ai seria o caixa 4", disse Malouf. 

A defesa de Pedro Taques disse que no momento certo vai provar que as denúncias não procedem. Alan Malouf e Permínio Pinto reafirmaram que estão cumprindo os acordos de colaboração. Os demais citados na reportagem não se manifestaram para a TVCA.