20 de abril de 2024
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Destino da “lama” nas mãos do Judiciário!

Corruptores e corrompidos apostam na impunidade, mas estão acuados pela pressão da opinião publica no maior escândalo político da história de Mato Grosso do Sul!

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Diante das fartas revelações documentadas pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União, Ministério Público e Gaeco em operações contra o crime organizado e a corrupção nos poderes públicos, o Judiciário de Mato Grosso do Sul julga nesta segunda-feira, 3, um recurso que pode restabelecer a Campo Grande a normalidade político-administrativa arrebentada em março do ano passado por um esquema que derrubou o prefeito Alcides Bernal e investiu seu vice, Gilmar Olarte. O Tribunal de Justiça decidirá hoje sobre um recurso que pleiteia a restituição a Bernal do cargo que lhe foi tirado de forma criminosa, segundo confissões registradas em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça.

Para a opinião publica e os políticos não há dúvida alguma que Bernal, independentemente de seus atos na chefia do Executivo, foi alvo e um golpe financiado por empreiteiros que controlam a quase totalidade das grandes obras pulicas da cidade e do Estado, especificamente os empresários João Amorim e João Baird. Com seu dinheiro e seu poder, eles envolveram políticos de diversos matizes e profissionais liberais, alguns em posição estratégica nos poderes Legislativo e Judiciário, para uma ampla rede de poder, tráfico de influência, fraudes, prevaricação e outros delitos.

DONOS DOS COFRES PÚBLICOS - Com a operação “Lama Asfáltica”, cujas descobertas vêm sendo reveladas as poucos, constatou-se que o domínio de Amorim e Baird sobre contas publicas é absoluto, inclusive sendo decisivo na armação para derrubar Bernal. O golpe que beneficiou Olarte foi planejado e executado com a participação de políticos – entre os quais vários vereadores – e profissionais liberais que em grande parte foram aquinhoados com cargos de primeiro escalão na gestão do atual prefeito. Dois desses premiados eram Rodrigo Pimental, que comandava a Pasta mais forte da administração, a Secretaria de Governo, e Fábio Leandro.

O primeiro entregou o cargo quando detalhes do inquérito que corria em segredo de justiça começaram a vazar. Em gravações captadas pela Polícia é identificada a participação de Rodrigo como assessor incumbido de missões relacionadas ao golpe, além de ser um dos motivos da segurança com que Olarte reagia às denúncias, dizendo estar protegido por poderosa blindagem. Rodrigo e Leandro são filhos de dois magistrados da ativa, Sideni Pimentel. O pai de Leandro é Paschoal Carmello Leandro, ex-presidente e atual vice-presidente do Tribunal de Justiça e fazem parte da composição do Pleno, o colegiado que decide as demandas submetidas à instituição.

SUSPEITOS - A lista de suspeições nos episódios que chocam a sociedade é grande. A operação que o Gaeco (Grupo Especial de Apoio no Combate ao Crime Organizado) fez em 2014, com mandados de prisão e de busca e apreensão que incluíram vistorias na casa e Olarte e detenção de assessores do prefeito, investigava denúncias do Ministério Publico sobre possível participação de agiotas no esquema que levou à cassação de Bernal. Com isso, os vereadores, em sua maioria, caíram de vez na bacia dos suspeitos – afinal, Bernal foi cassado pela Câmara Municipal com o voto de 23 dos 29 parlamentares votantes. O Gaeco investigava se agiotas estariam pressionando Olarte para receber o dinheiro que haviam emprestado para garantir a votação favorável ao golpe.

Mas, revelados novos e minuciosos detalhes registrados pelas investigações policiais, chegou-se à constatação que o golpe foi financiado com dinheiro de Amorim e, provavelmente, de Baird. São vários os indícios e evidências dessa articulação nas escutas telefônicas que vêm sendo divulgados todos os dias, com conversas entre Amorim, Olarte e o presidente da Câmara, Mário César (PMDB) sobre o preparo, a realização e o êxito da trama. As propinas, de acordo com as investigações, eram tratadas em código. A palavra “cafezinho”, por exemplo, sugerindo repasse financeiro, foi citada em conversa entre Mário César e Amorim, quando comemoravam a cassação de Bernal.

LAMA QUE DERRUBA - Para a Polícia, está desenhada a relação entre a Operação Lama Asfáltica (que investiga desvio de verbas e favorecimento de empreiteira) e a derrubada de Bernal, a posse de Olarte e o acumpliciamento da Câmara. Por enquanto, provada está a cumplicidade política. A associação criminosa ainda depende dos resultados das investigações.

A visão clara e inequívoca de que a rede de corrupção está instalada na máquina publica e que seus benefícios e agrados seduzem e arrastam pessoas de todas as formações põem um desafio determinante para a credibilidade dos agentes públicos e instituições que, em suas atribuições, podem e querem combater a corrupção e responsabilizar corruptos e corruptores. Enquanto isso não acontecer, e com ampla visibilidade midiática no Brasil e no exterior, a sujeira seguirá contaminando gregos e troianos e embolando no mesmo saco de suspeições os pecadores e os inocentes.