O prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte (PP por liminar), em função da letargia administrativa da Capital tem promovido eventos para projetos e obras que sequer estão conclusos e, conforme alguns comissionados, “informando” a estes que devem comparecer aos eventos. “Se falta o pão, que se promova o circo” não é novidade ou invenção dessa administração, mas tem sido muito bem utilizada pelas equipes de comunicação.

Discursos prontos, que não fogem de uma linha de recitações de “centenas” de projetos, obras, realizações que, até o momento, mesmo passado mais de um ano de governo, são discursos. Toda a culpa pelos revezes da gestão, ficam por conta de antigas administrações. Todo o dinheiro deixado em caixa, todos os projetos em andamento, todas as obras em conclusão, se transformaram em dívidas, obras paradas, desacertos administrativos.

Os catadores estavam reivindicando o acesso à Unidade de Triagem de Resíduos (UTR), que acreditam ser prioritária, mas explicam que ela foi formulada para 49 catadores, enquanto o total de pessoas que trabalham com reciclagem, no Lixão da Capital, somam 429.

Durante a manifestação, guardas municipais formaram um cordão de isolamento impedindo o acesso dos catadores, uma vez que o salão estava tomado por secretários e seus familiares, assessores e comissionados que foram convocados por carta para que compareçam aos eventos promovidos e, dessa forma substituam todos os que possam vir a se manifestar contra a atual administração.

Segundo os catadores, a prefeitura os coagiu a assinarem documento em que desistem de trabalhar no lixão, mas não englobou todos os que sobrevivem da reciclagem na UTR, até porque existem problemas estruturais de rachaduras e falta de equipamentos que possam comportar o trabalho de todos os 429 catadores cadastrados.

“Têm rachaduras de dois dedos, e eles passaram massa corrida para tapar o problema. Nesse local vão subir caminhões e isso coloca em risco os que estão trabalhando. É uma bomba relógio”, disseram os manifestantes.

Conforme explicou Sebastião, eles não pretendiam fazer esse protesto, mas pelo fato de o prefeito haver convidado a população para o evento, e por eles serem catadores e dos mais interessados, entendem que são os mais prejudicados. “A UTR não está pronta, a coleta seletiva não vai atender os catadores, porque eles vão começar a coleta em julho, e não vão conseguir atender aos objetivos da noite para o dia. Os operadores da UTR puderam entrar, nós não. Viemos em poucos para representar os catadores, imagine se tivessem vindo todos os 429. Eles até ofereceram o curso, que se formassem cooperativas, mas dentro do que eles querem, não ouviram nossas sugestões. Nós pedimos que eles dessem um tempo para o fechamento do Lixão, para que tivéssemos tempo de fazer uma triagem, e que mostrassem um levantamento do total previsto dessa triagem para que a gente ver as condições necessárias para atender. Isso é atropelar o processo” disseram.

Ainda segundo os catadores, o projeto federal exige que os trabalhadores estejam representados na formulação da política de reciclagem. “As prensas são pequenas, foram beneficiados apenas 49 catadores do total de 429, são três esteiras para os cooperados e apenas uma para todos os 429.”

Os trabalhadores temem o fato de que o Lixão deve ser fechado a partir dos inícios de trabalho de UTR, e questionam como vai ficar a situação de todas as outras famílias. Os trabalhadores ainda pedem ao juiz Marcelo Ivo que reveja a liminar dada em relação à interdição do Lixão e envie uma perícia para avaliar a coleta seletiva e as condições da UTR.

Questionado a respeito, na saída do evento, o prefeito Gilmar Olarte reafirmou que a Prefeitura fez o treinamento e cadastramento daqueles que aceitaram formar as três cooperativas que irão operar a UTR, e que não tinha notícias de que os catadores haviam sido impedidos de participarem da cerimônia.