17 de abril de 2024
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Movimentações

Matos atropela DEM e expõe partido a questionamentos

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O ex-secretário e pecuarista Paulo Matos não considerou necessário buscar o apoio político do Diretório ou das principais lideranças do partido para apresentar-se como pré-candidato à Prefeitura de Campo Grande. Seu rosto e sua presença estão sendo massificados em eventos e todos os espaços midiáticos imagináveis, numa incansável busca de visibilidade.

Matos faz sua pré-campanha por próprios risco e conta, carregando consigo dirigente de partidos ancorados em bases de sustentação de Marquinhos Trad (PSD), que vai tentar a reeleição, e do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que já declarou interesse na reeleição do prefeito. Uma de suas escoltas é o presidente local do Podemos, Juliano Gogozs, assessor parlamentar do deputado federal Fábio Trad (PSD), que é irmão do prefeito.

As movimentações de Matos não têm chancela oficial e nem informal do partido. A cúpula partidária não demonstra interesse em alimentar o assunto. O presidente regional do DEM, o vice-governador e secretário de Infraestrutura Murilo Zauith, comenta apenas que qualquer filiado tem direito e legitimidade de aspirar indicações do gênero. Contudo, ressalva que esta não é uma agenda para ser debatida ou encaminhada agora. “Neste momento o povo não quer saber de política, de disputa eleitoral. O povo quer emprego, quer infraestrutura, quer as respostas contra a crise”, enfatizou, antes de avisar que o DEM só vai tratar de eleição na hora certa, em abril do ano que vem.

Duas outras lideranças democratas, ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), até agora não se manifestaram. Considerados os nomes mais competitivos e de maior inserção política e eleitoral dentro do DEM para esse tamanho de disputa na capital, preferem aguardar o momento adequado para o debate eleitoral.

A postura de Zauith, antenada com a liturgia partidária, e a indiferença de Mandetta e Tereza Cristina, evidenciam duras respostas à iniciativa de Paulo Matos. O DEM não deve ter gostado nada das reações que vêm registrando desde que a pré-campanha teve início. Mesmo distribuindo flores, brindes e abraços, criando blog pessoal e ocupando espaços em redes sociais, ele tem no próprio histórico seu principal descredenciamento junto à direção e às lideranças mais expressivas da legenda.

Incomoda o Democratas a ficha de um filiado cuja candidatura atrai questionamentos políticos e éticos. Matos não conseguiu firmar-se como dirigente, liderança ou mesmo um candidato de provada inserção popular. Quando disputou uma cadeira na Câmara de Vereadores com toda estrutura para conquistar excelente votação, sofreu uma vigorosa rejeição nas urnas. Quando esteve acomodado no poder, ocupando cargos nas gestões de Nelsinho Trad (presidente da Empresa Municipal de Habitação) e no período de Alcides Bernal-Gilmar Olarte (quando foi chefe de Gabinete e secretário de Governo e Relações Institucionais), virou alvo de suspeitas processuais sob a acusação de fazer política com programas de entrega de casas populares às famílias de baixa renda.

 Nesse contexto, o DEM pode enveredar por um caminho bem embaraçoso. Com um presidente que é vice-governador e secretário estadual de Infraestrutura, fidelizado na base de apoio de um Governo que cogita estender ao campo eleitoral a parceria administrativa e institucional com a Prefeitura, o partido vai testar seus limites. E não sabe até que ponto conseguirá permanecer equidistante, entre o direito legítimo de qualquer filiado de ser candidato e o compromisso estratégico oficializado pelo partido para permanecer inteiro e leal ao governador, ao menos até às convenções de 2020.