19 de abril de 2024
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Política

Para deputados, repercussão da "Carne Fraca" traz prejuízo incalculável

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As repercussões da operação Carne Fraca, desencadeada no último dia 17 de março pela Polícia Federal (PF) em seis estados brasileiros, foram temas de debate durante a sessão plenária desta terça-feira (21/3). Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Políticas Rural, Agrária e Pesqueira da Assembleia Legislativa, Marcio Fernandes (PSDB) lamentou a repercussão internacional e os prejuízos ao Brasil e ao Mato Grosso do Sul. "O mundo todo está repercutindo que a carne brasileira é de má qualidade, o que não é verdade, e em nosso Estado duas plantas da JBS suspenderam os abates de quinta e sexta-feira, de gado já escalado, porque os países que importam preferem esperar", disse. Marcio considerou como exagerada a cobertura por parte da imprensa. "A operação da PF durou quase dois anos e, de todas as 4.837 plantas frigoríficas do Brasil, 21, ou seja, meio por cento, cometeram alguma irregularidade", ponderou.

O deputado, que também é médico veterinário, ressaltou que 11 mil profissionais trabalham nos serviços de inspeção em todo o País. "Não tenho nada contra a operação e nem contra o trabalho sério da PF, mas me estranha muito ter uma divulgação ampla e tanta mídia para dizer que, do total de médicos veterinários, 33, ou 0,3% deles estavam envolvidos em alguma irregularidade", afirmou. Para ele, a operação detectou situações isoladas, que não justificariam tamanha exposição. Marcio propôs a elaboração de um documento, assinado pelos deputados estaduais, federais e senadores por Mato Grosso do Sul, solicitando a ampla divulgação, por parte da PF e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da lista dos estabelecimentos que estão cumprindo a legislação. "Os que erraram devem ser punidos e presos, mas gostaria que fosse dada a mesma divulgação àqueles que estão de acordo com as normas", disse.

Para Zé Teixeira (DEM), os prejuízos são incalculáveis e recairão sobre os produtores rurais, que têm a mercadoria como única moeda de troca para garantir a produção. Ele lembrou a crise da aftosa, em 2005, e como os produtores do Estado se uniram para recuperar o status de carne de boa qualidade junto ao mercado internacional. "De vez em quando, querem destruir a cadeia produtiva brasileira, mas não tem como matar o produtor; esse dano ocorreu por exagero, nos atingiu e desmoralizou, mas para tudo tem jeito, as irregularidades serão apuradas e continuarão sendo produzidos os alimentos para todos", afirmou.

Os deputados Beto Pereira (PSDB), Onevan de Matos (PSDB) e Dr. Paulo Siufi (PMDB) criticaram duramente a operação da PF. No total, 35 pessoas foram presas e o Mapa afastou 33 servidores envolvidos em suposto esquema que envolvia pagamento de propina para liberação de carne para venda sem a devida fiscalização - eles respondem a processo administrativo disciplinar. Para Beto, exageros resultaram em prejuízos imediatos. "O que aconteceu no último fim de semana [divulgação da operação Carne Fraca] chocou e somente agravou a já difícil crise por que passa nosso País", afirmou. Segundo ele, a Polícia Federal envolveu 1,5 mil homens na operação e realizou uma "obra de arte do radicalismo investigativo". "A PF e o Ministério Público Federal geraram fatos midiáticos que prejudicaram muito os setores que são os responsáveis pelos bons números da economia nacional e por manter nosso País de pé", disse, se referindo à agricultura e à pecuária.

"Nunca vi tamanha irresponsabilidade e, se a PF realizou a operação e investigação durante dois anos, teve tempo para avaliar o tamanho do impacto que teria", afirmou Onevan. Para o deputado, a PF deveria ter analisado os desdobramentos da divulgação dos resultados da operação. Dr. Paulo Siufi qualificou os resultados da operação como "pirotecnia surreal". Segundo ele, o Congresso Nacional deveria aprovar medidas punitivas com relação ao abuso de autoridade. "Infelizmente, o que fizeram não tem volta e hoje tem gente cortando pedaço de carne para ver se encontra papelão dentro, mas precisamos buscar meios de evitar situações semelhantes", afirmou.  

Operação

A investigação da PF revelou que os frigoríficos exerciam influência direta no Ministério da Agricultura para escolher os servidores que iriam fiscalizar as empresas, por meio do pagamentos de vantagens indevidas. Os fiscais recebiam os valores, muitas vezes, dentro de isopores, por transferências bancárias em nome de terceiros ou até como picanhas e outras carnes nobres. Foram ainda detectados: ocultação do uso de carne vencida ou de produtos proibidos em linguiças; tentativa de mudar data de validade de embalagens, esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais para acelerar a liberação de produtos; suposto oferecimento de suborno para evitar suspensão de uma unidade ou injeção de mais água do que permitido em frangos; além de substituição de carne de peru por soja em salsichas enviadas para merenda escolar.

O Ministério da Agricultura interditou 3 dos 21 frigoríficos investigados na operação Carne Fraca: uma unidade da BRF em Mineiros (GO), uma unidade da Peccin, dona da marca Italli, em Curitiba (PR) e outra em Jaraguá do Sul (SC). A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) anunciaram ontem (20/3) que cinco unidades de produção tiveram certificações suspensas de forma preventiva e não poderão operar nem no mercado interno nem no externo. Nem a PF nem o Ministério da Agricultura afirmaram que há risco para os consumidores. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) afirmou que "na intenção de proteger setores do mercado e do governo, há uma orquestração para descredenciar as investigações de uma categoria que já provou merecer a confiança da sociedade".

União Europeia, Coreia do Sul, China e Chile já anunciaram algum tipo de medida restritiva ao Brasil. Os países também anunciaram o aumento na fiscalização da carne originada do País e a União Europeia declarou que vai suspender a importação de mercadorias das empresas envolvidas na operação.