20 de abril de 2024
Campo Grande 25ºC

"CASOS DE FAMÍLIA"

Privilégios aos filhos coloca Jair Bolsonaro contra o Congresso e pode narrar o fim do mandatário

Generais da base falam que confusão está explicitamente ligada aos três filhos do presidente

A- A+

EDITORIAL - Já percebido e concedido pelo Poder, o nepotismo atravessa gerações políticas nas instâncias democráticas do país. À vez de Jair Bolsonaro (PSL), não se faz diferente, basta ver o número de deputados e senadores que levam o "Filho", "Júnior" ou até "Neto" e "Bisneto" à cargos públicos. 

Antes da era Bolsonaro, esse apadrinhamento respeitava algumas regras. O pai treinava seu substituto aos poucos, de cargo eletivo em cargo eletivo. O patriarcalismo das relações só era quebrado quando emergia alguma mulher na linha sucessória, como no caso do clã Sarney.

Jair Bolsonaro errou até nisso. O tratamento expresso, “na cara dura” [jargão popular], dado à seus três filhos na política é algo inédito na história republicana.

A expressão “filé mignon”, que o presidente já disse reservar aos seus descendentes sempre esteve destinado aos herdeiros do poder, mas nunca com tal franqueza – seja na proteção ao enrolado Flávio Bolsonaro, aos caminhos tentados para dar um cargo de peso á Eduardo, até mesmo na embaixada ou mesmo nas ações vexatórias do vereador Carlos Bolsonaro na comunicação do governo, a qual não depende da opinião de Jair Bolsonaro. 

A crise vivida entre o presidente e PSL, expõe a indignação que esses privilégios dado por Bolsonaro aos filhos, provoca nos deputados da base. “Desde que ele se elegeu, trata a gente que nem cachorro”, disse um dos participantes da reunião gravada na cúpula do PSL.  A reação poderosa que pôs para fora da liderança do partido Flávio e Eduardo, a decisão aguarda assinatura do poderoso Bivar. 

Dois oficiais generais, um da ativa e outro servindo ao governo, disseram reservadamente que a confusão toda tem começo e fim na influência dos filhos de Bolsonaro no governo. A queixa é antiga entre os fardados, que foram largamente colocados a escanteio pela dobradinha entre Carlos Bolsonaro e o ideólogo expatriado Olavo de Carvalho.

Presidentes isolados que desafiam o Congresso sempre existiram e se deram mal, como Jânio Quadros, Fernando Collor e Dilma Rousseff. Mas um líder amparado por uma corte palaciana familiar e que ataca seu próprio partido achando que não haverá consequência é novidade histórica.

JOICE EM SP

As repercussões do imbróglio, que parecia um passeio paroquial no seu começo, começam a reverberar fora de Brasília. A destituição de Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso, por exemplo, sela a percepção de que a deputada terá dificuldades sérias para levar à frente seu plano de ser candidata ao governo da capital paulista ano que vem.

Joice poderia sair do PSL e tentar o DEM, mas por lá José Luiz Datena já é o nome da sigla em São Paulo. Para derrubar Datena, Joice teria que convencer Milton Leite, que é presidente da Câmara Municipal paulista. No entanto, ela {Joice} tem seus contatos, o que pode facilitar sua corrida pela cadeira em SP é a sua proximidade com o governador, João Doria (PSDB), mas ela ainda não acenou esse caminho. 

Na outra instância, isso é, no Planalto, Jair Bolsonaro aposta suas ‘fichas’ derrubar Bivar. Mas, o poder do chefe do PSL, mostra uma “guerra” sem preferidos. 

Em conversa nos bastidores, o ar ‘pouco oxigenado’ dentro do Planalto, mostra que Jair Bolsonaro está uma “bomba relógio” e seu cronômetro, saltou de 100 para “17” após a divulgação de áudio, em que o líder do PSL Delegado Waldir, chamou o presidente de vagabundo e prometeu ‘implodi-lo’. 

Bolsonaro sempre pregou sua aversão ao presidencialismo de coalizão brasileiro. Venceu a eleição e manteve a palavra, mas na hora de apresentar a alternativa, emulou o pior de práticas de famílias reais. O preço da opção está sendo colocado na mesa agora.