28 de março de 2024
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Tribunal Regional Eleitoral

TRE diploma eleitos em ciclo político mais conservador de MS

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Em seus 40 anos de vida constitucional, iniciada em 1979, Mato Grosso do Sul está para iniciar mais um período administrativo. Na próxima sexta-feira, 14, o Tribunal Regional Eleitoral vai diplomar o governador, vice-governador, dois senadores, oito deputados federais, 24 deputados estaduais e respectivos suplentes. 

A solenidade será também o ato que precederá a abertura do próximo exercício político-administrativo, com a investidura e os mandatos dos eleitos em outubro, compondo um mosaico de forças predominantemente conservadoras. O Estado, na verdade, antes e depois da divisão tem um histórico de conservadorismo, que só foi interrompido por oito anos durante os governos de Zeca do PT (1999-2006).

Houve períodos em que o velho e o novo Estado viveram experiências um pouco mais liberais, como em seu primeiro ano de vida, nos seis meses da gestão do gaúcho e tecnocrata Harry Amorim Costa, e na sucessão de Zeca, quando o governo teve no comando o médico Andre Puccinelli, que sucedeu o petista e conduziu Mato Grosso do Sul de 2007 a 2014.

SEM A TINTA - O período de governo que começou com Reinaldo Azambuja (PSDB) em 2015 e vai continuar até 2022 não tem a tinta carregada do conservadorismo ideológico e estreito. Mas no saldo das escolhas do eleitorado que foi às urnas em outubro passado nota-se que o ranço característico do pensamento clássico e intransigente da direita ganhou ou retomou seu espaço. 

Basta identificar, por meio de uma análise rápida, mas escorada na realidade e na lógica comportamental, o perfil dos eleitos em todas as instâncias de representação no Executivo e Legislativo. O governador Reinaldo Azambuja e o vice, Murilo Zauith (DEM), pertencem a partidos de história ideologicamente diversa. 

O PSDB veio de uma escola progressista, iniciada no MDB para fzer a resistência democrática ao regime militar de exceção. Azambuja não integrou essa composição, originária da filosofia social-democrata. Está mais identificado com o PSDB que se recompôs depois dos governos de Fernando Henrique Cardoso, instalando-se mais à direita. Ruralista, defensor do liberalismo econômico, Azambuja é conservador e deixou isso bem claro no segundo turno das eleições, ao proclamar seu apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Porém, caminha com todo cuidado para não misturar-se aos arautos da pantomima ranheta do discricionarismo ideológico.

Zauith está mais ajustado aos modelos conservadores. Empresário bem-sucedido, de formação liberal, quebrou o paradigma ao filiar-se ao PSB. Nunca, entretanto, deu-se verdadeiramente ao pensamento e à prática do socialismo empunhado pela legenda. E depois de usufruir do mandato de prefeito, deixou a direção do PSB, desfiliou-se e retornou ao ninho ideológico, ingressando no DEM.

SENADO E CÂMARA - Os dois senadores eleitos, Nelsinho Trad Filho (PTB) e Soraia Thronicke (PSL), a grande surpresa das disputas majoritárias, têm pouca diferença no vínculo ideológico. Ele trafega pelos atalhos do centro e ela entrou em cena mergulhada na cantilena de direita - às vezes atávica e despropositada - , inspirada em seu guru na política, o presidente eleito Jair Bolsonaro. Até selfie com armas nas mãos já fez para marcar bem em que time está jogando.

Dos oito deputados federais que saíram das urnas este ano, só um, Vander Loubet, é de esquerda. Outro, de centro-esquerda, é Dagoberto Nogueira, do PDT. Ambos foram reeleitos. Sobram seis para a orquestra conservadora no salão. Os mais empolgados são Tereza Cristina, Luiz Ovando e o desconhecido Tio Trutis. Ela já foi confirmada para comandar o Ministério da agricultura. 

Com formação superior em agronomia, Tereza é ruralista das mais atuantes, já avisou que vai combater os movimentos de sem-terra e desideologizar a pauta fundiária, fecha com posições extremadas de lideranças e segmentos do setor, como a UDR (União Democrática Ruralista) e o governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado, que foi um dos "padrinhos" de sua indicação. Tio Trutis é da chamada direita atávica, que nasce basicamente de interesses e posições radicais de antiesquerdismo. Outro que posa com fuzil, advoga o fim do PT e vê comunistas até embaixo da cama.

Eleito deputado federal, o médico Luiz Ovando chegou a conviver com um pensamento menos mal-humorado ideologicamente quando estagiou no PPS. Mas encontrou seu lugar adequado no PSL, onde professa, empolgado, a conceituação bolsonariana de existência política, fundamentada no conservadorismo extremo, aquele que desfralda bandeiras associadas à defesa da família, da moral cristã, do nacionalismo. 

Rose Modesto, Fábio Trad e Beto Pereira, os três vais votados para a Câmara dos Deputados, ainda flutuam no vão ideológico que separa esquerda e direita, porém mais identificados com esta. Podem ser classificados de centro-direita e têm, no geral, posições conservadoras, especialmente em temas como o aborto e a redução da presença do Estado na economia. 

ASSEMBLEIA - Dos 24 deputados estaduais, 13 foram reeleitos em outubro, um (Londres Machado, do PSD) está voltando à Casa e 10 chegam para a sua primeira experiência no cargo. A maioria já exerceu ou está exercendo mandato eletivo. Só dois entre os 24 são declaradamente de esquerda, ambos do PT: Cabo Almi, que se manifesta em intervenções mais moderadas, e Pedro Kemp, ideologicamente mais ajustado às concepções socialistas da legenda.

Os demais 22 são ou de centro, de centro-direita ou de direita. Há os mais acelerados na ideologia conservadora, caso do Capitão Contar (PSL). Bolsonarista convicto, foi o campeão das urnas em seu primeiro teste eleitoral. Assim como seus correligionários Tio Trutis, Luiz Ovando e Soraia Thronick beneficiou-se do "efeito Bolsonaro". 

Ao mesmo grupo se junta o Coronel David, também do PSL. É bolsonarista e de direita. Ao contrário de Contar, seu colega de bancada, David é uma figura bastante conhecida, desde que exerceu funções publicas como comandante-geral da Polícia Militar e exercendo o mandato de deputado estadual por dois anos, no lugar de José Carlos Barbosinha, que se licenciou para comandar a Secretaria de Justiça e Segurança Publica. David tem prestígio e experiência, conquista espaços e é um dos nomes do PSL para a sucessão municipal em Campo Grande.  

Entre os que estreiam no Palácio Guaicurus predomina o conservadorismo. O pantaneiro Evander Vendramini (PP), vereador em três mandatos, presidente da Câmara Municipal de Corumbá, ganha espaços na política com ações e pensamentos identificados com a direita. Apoiou Bolsonaro.  São estreantes também Jamílson Name (PDT), Neno Razuk (PTB), Gerson Claro (PP), Antonio Vaz (PRB), João Henrique (PR), Lucas de Lima (Solidariedade) e Marçal Filho (PSDB).

Os reeleitos são: Felipe Orro, Paulo Corrêa, Onevan de Matos e Rinaldo Modesto, do PSDB; Márcio Fernandes, Renato Câmara e Eduardo Rocha, do MDB; Zé Teixeira e José Carlos Barbosinha, do DEM; Cabo Almi e Pedro Kemp, do PT; Lídio Lopes, do Patriota;  Herculano Borges Daniel, do Solidariedade. Por sua vez, o decano Londres Machado, reestreia. É recordista brasileiro em mandatos eleitorais sucessivos (foram 13, até 2014, quando interrompeu a sequência e cedeu seu espaço à filha, Grazielle).