29 de março de 2024
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Autor de 'Game of Thrones', George R.R. Martin lança novo livro

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"Eu passei a primeira metade da minha carreira sendo escritor de ficção científica, e não de fantasia. E, se tem uma coisa que eu aprendi com a ficção científica, é que nós somos uma espécie só. Muros parecem legais numa cidade medieval, mas gostaria de acreditar que já passamos dessa fase", diz George R.R. Martin, criador de "Game of Thrones" e de sua célebre muralha -aliás, Muralha, com maiúscula- de gelo eterno.

O autor conversou em Nova York, nesta terça (20), com uma dezena de jornalistas europeus e latino-americanos, entre eles este repórter, sobre seu novo livro, "Fogo e Sangue", que acaba de ser publicado -no Brasil, pela Suma de Letras, selo da Companhia das Letras.

Trata-se do primeiro volume da história da dinastia Targaryen, os invasores oriundos de Valíria que usaram as chamas dos dragões que cavalgavam para transformar os Sete Reinos de Westeros em seu império.
Quando concluída, a narrativa cobrirá em detalhes todos os 283 anos do domínio dos senhores de dragões no continente ficcional de Martin (a primeira parte conta um pouco menos da metade desse período).

Embora destronados uns 15 anos antes do início dos eventos de "Game of Thrones", os Targaryen podem voltar ao poder na série da HBO (e nos livros nos quais ela se baseia), graças à única herdeira sobrevivente da família, Daenerys.

Martin chegou ao escritório de sua editora nos EUA, a Penguin Random House, com a boina que sempre usa na cabeça e brincou com os jornalistas: "Uau, não sabia que ia ter esse monte de vocês aqui".

Mesmo que a equipe da editora tenha pedido para evitar algumas questões espinhosas antes de ele chegar -como o futuro da série de livros, cujos prazos estão muito atrasados em relação à TV, ou a saúde do autor,  "ótima", segundo a Penguin-, o americano, em geral, não fugiu das perguntas, inclusive as de cunho político.

O comentário sobre a Muralha, por exemplo, foi provocado por uma questão sobre o uso de elementos de sua obra nos debates da era Trump. "Bom, não acho que o presidente seja o tipo do cara que lê livros, talvez nem mesmo os que ele mesmo diz que escreveu", brincou Martin.

Ele afirma ser contrário a enxergar suas narrativas como alegorias de situações reais específicas, como as mudanças climáticas. "É claro que você pode ler a história dessa maneira, mas lembre-se de que o primeiro livro [até agora, são cinco] foi publicado em 1996, quando havia muito menos debate sobre o aquecimento global. Grandes ameaças que exigem a união de toda a humanidade sempre existiram -não que tenhamos tido muito sucesso nesse tipo de união até hoje."

Duas grandes influências marcam "Game of Thrones" e "Fogo e Sangue", segundo ele. A primeira é a obra do britânico J.R.R. Tolkien (1892-1973). Mais conhecido por "O Senhor dos Anéis", Tolkien também é o autor de "O Silmarillion", ao qual Martin comparou "Fogo e Sangue" diretamente, já que ambos os livros relatam a história mais antiga de seus universos de ficção.

A presença de pequenos trechos de poesia "tradicional" de Westeros nos textos são uma marca tolkieniana, afirma ele. "Em 'O Senhor dos Anéis', os hobbits mal abrem a boca e já vem uma canção. Para mim, é meio assustador tentar inventar algo parecido, mas vale a pena."

A segunda influência são as grandes histórias populares sobre o mundo medieval, em especial sobre dinastias como os Plantagenetas (monarcas ingleses de origem francesa). "Não leio nada em revistas acadêmicas nem teses de doutorado -só narrativas que contem uma boa história, com bons personagens", resume.

Martin diz que raramente se diverte escrevendo. "É trabalho, portanto é coisa séria", explica. Faz questão de usar um computador antiquado, com sistema operacional DOS, processador de texto WordStar (que deixou de ser produzido no começo dos anos 1990), capítulos gravados em disquetes e, é claro, sem acesso à internet. "O único jeito de me hackearem é invadir fisicamente a minha casa", argumenta.

Nos livros da série "Game of Thrones", costuma escrever, de uma enfiada só, vários capítulos sob o ponto de vista de um mesmo personagem, passando depois a outro. Depois, os capítulos são embaralhados para ganhar a ordem vista nos romances.

O escritor sorriu de modo matreiro quando lhe perguntaram sobre o momento inicial de "Fogo e Sangue", quando se menciona a possibilidade de que o primeiro Aegon Targaryen (também conhecido como Aegon, o Conquistador) tenha empreendido sua invasão de Westeros por ter previsto que o continente precisava se unir para enfrentar uma ameaça grandiosa no futuro.

"Bem, essa é uma pergunta muito interessante, mas não sei se posso respondê-la, não é?", disse, olhando para um de seus editores. "Sabemos que os Targaryen, além do dom de domar dragões, também tinham a fama de possuir certos poderes proféticos, que podiam ou não levar a previsões sobre o futuro. Vamos descobrir logo."

FOGO E SANGUE
Autor: George R. R. Martin
Editora: Suma de Letras
Quanto: R$ 69,90