28 de março de 2024
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Audiência

Cumprimento de cotas para jovens aprendizes foi tema de audiência

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A dificuldade de as empresas cumprirem na íntegra a legislação relacionada a jovens aprendizes foi ressaltada por participantes de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH).

Realizado na segunda-feira (5), o debate abrangeu os desafios enfrentados pela juventude, pelo setor empregador e pelo governo, visando a efetividade da chamada Lei da Aprendizagem (Lei 10.097, de 2000), que junto com o Decreto 5.598/2005, determina cotas para as empresas na contratação de trabalhadores como jovens aprendizes, entre 14 e 24 anos de idade.

Para estes casos, o contrato de trabalho pode durar até dois anos e, durante o período, o jovem é capacitado na instituição formadora e na empresa, combinando formação teórica e prática.

As empresas de médio porte devem possuir uma porcentagem equivalente a 5% de jovens aprendizes, enquanto para as de grande porte, esta cota sobe para 15%.

Ainda segundo a legislação, no setor de comércio e serviços, são consideradas empresas de médio porte as que tem entre 50 e 99 empregados. Já na indústria, são as que possuem entre 100 e 499 contratados.

No caso das empresas de grande porte, no setor de comércio e serviços são as com mais de 100 funcionários; e no setor industrial, as com mais de 500 empregados.

Lei não é cumprida

A própria representante do Ministério do Trabalho, Tatiane Padilha, admitiu que hoje existem apenas cerca de 500 mil jovens aprendizes contratados no país, número que poderia ser o dobro caso a lei tivesse a efetividade esperada.

Ainda segundo os levantamentos atualizados do ministério, a maioria dos jovens aprendizes atuam em funções administrativas, como auxiliares de escritório (42,24%) e assistentes administrativos (17,22%).

Outras funções que se destacam são as de vendedores no comércio varejista (5,51%), repositores de mercadorias (5,07%), mecânicos de manutenção de máquinas (3,81%) e alimentadores na linha de produção (2,73%).

E com base em dados de 2016, Padilha demonstrou que a taxa de aproveitamento dos aprendizes no mercado de trabalho formal, após o desligamento, é de cerca de 43%.

Estes dados mostram que o país está longe de atingir o potencial da lei. A taxa de contratação a nosso ver está baixa, está abaixo da metade.

É necessário aprofundar a discussão no Fórum Nacional de Aprendizagem, talvez devamos alterar os conteúdos pedagógicos, tornando-os mais sincronizados com o mercado de trabalho.

O Ministério do Trabalho está aberto para sugestões de todos os setores, inclusive dos empresários, para que aumentemos a inserção do aprendiz. O ideal é que ele seja aproveitado dentro da empresa após o término do contrato — defendeu Padilha.

Demanda empresarial

O representante da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Felipe Morgado, informou que a entidade vem trabalhando em estudos prospectivos sobre o mercado de trabalho, com cenários desenhados para os próximos cinco a dez anos.

Um dos objetivos do estudo, cuja metodologia já foi exportada para mais de 20 países, é identificar quais competências serão requeridas dos jovens, que já num futuro próximo, deverão estar entrando no mercado de trabalho industrial.

Acertando isso, com certeza oferta e demanda se alinham. E a CNI considera a aprendizagem como a principal porta de entrada pro mercado. É do interesse da empresa efetivar o aprendiz, desde que se cumpra o perfil profissional.

Acreditamos que os indicadores de contratação serão melhores num futuro próximo — disse Morgado, explicitando ao final que a aprendizagem "necessita ser boa para todos, inclusive para quem contrata, reconhecendo valor de fato no aprendiz".

Para que o objetivo seja atendido, ele também defendeu que governo, Ministério Público e o setor empresarial dialoguem mais profundamente.

Riscos para a aprendizagem

Também participou da audiência o representante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Francisco Correa.

Ele acredita que a sociedade necessita estar atenta para que a Lei da Aprendizagem não seja na prática revogada.

O país vem passando por um período muito difícil nos últimos anos, de retirada de direitos. Esta lei tem um caráter social, busca a inserção no mercado de trabalho.

Já existem 22 projetos de lei no Congresso Nacional tratando da Lei da Aprendizagem, alguns deles na prática esvaziando ainda mais sua efetividade — alertou Correa.