29 de março de 2024
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IGUALDADE

Diversidade escandaliza senadores, revolta militares e desafia a intransigência

Daniela Mercury beija esposa no Senado e nas ruas soldado PM troca alianças com seu namorado

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Os homofóbicos, intransigentes e quetais não estão gostando nada das recentes cenas que vêm escancarando a diversidade humana de gêneros e afirmações no Brasil. A partir da midiática Parada do Orgulho LGBT - realizada domingo passado em São Paulo, com centenas de milhares de participantes -, algumas situações emblemáticas revelam que a hora é de enfrentar as carrancas de ódio, encarar os preconeitos e estabelecer um marco civilizado na convivência entre as pessoas.

Uma semana antes da parada na Avenida Paulista, o soldado Leandro Pior, da Polícia Militar de São Paulo, planejou fazer do desfile o cenário para pedir em casamento o seu namorado, Elton Luz, 26. Solicitou ao comando autorização para usar a farda durante o pedido. O comando negou e ainda designou um grupo de soldados para, secretamente, vigiar o apaixonado policial. A perseguição teve um requinte de sadismo: o comandante alterou a escala de serviço e pôs Leandro Prior para trabalhar no dia da parada.

Pressionado, sob ameaças homofóbicas, vigiado e humilhado com a mudança na escala e trabalho, Leandro não se entregou. Combinou com o namorado para se encontrarem na rua em frente à unidade em que trabalha, no Largo Coração de Jesus, que naquele dia se tornaria a Avenida Paulista do casal. Elton chegou. Com a farda da PM, Leandro se ajoelhou e fez o pedido com uma declaração de amor. Olhos nos olhos, trocaram as alianças, se beijaram e derramaram sua felicidade a quem quisesse ver, inclusive os espiões do comandante e os furiosos agentes da homofobia existentes na corporação.

COM A PALAVRA 

A canção “Rapunzel”, de Carlinhos Brown, tem um trecho em seu refrão assim: “E dou um grito grão de bololô/E verso nós imenso amor/O amor de Julieta e Romeu/O amor de Julieta e Romeu/Igualzinho o meu e seu/Igualzinho o meu e seu”. A música é um dos maiores sucessos de Daniela Mercury e esses versos parecem ter sido criados para situações como a que a cantora baiana viveu na segunda-feira, 24, um dia após a parada gay de Sampa. Uma diferença brutal de cenário: em vez das ruas coloridas e liberadas da capital paulista, o palco oferecido a Daniela era um ambiente clássico da sisudez, do rptocolo e dos (nem sempre seguidos) bons modos: o plenário do Senado da Republica.

Mas era um ato de celebração pelos 50 anos do marco histórico das lutas do movimento gay e a cantora à vontade, assim como sua companheira, a jornalista Malu Verçosa. E o que era previsível aconteceu: Na sua vez de se manifestar, Malu abriu um parágrafo e chamou Daniela. Diante de todos, o casal se beijou. Na boca. Com intensidade, mas sem os arroubos exagerados. Aplausos, alguns tímidos, outros vitoriosos. Sim, vitoriosos. Era a democracia do amor sugerindo aos senadores que façam mais do que fizeram quando derrubaram o decreto das armas livres. É de amores livres que o Brasil precisa. É de amores livres que o mundo está sentindo falta.