18 de abril de 2024
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Estudo revela doença cerebral semelhante a Alzheimer

Estudiosos explicam que doença vem se camuflando junto à Alzheimer

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Já imaginou você trabalhar como presidente de um país e depois se esquecer disso? Pois é, Ronald Reagan morreu aos 93 anos sem lembrar que havia sido presidente dos EUA em plena Guerra Fria. Rita Hayworth faleceu aos 68 sem saber que protagonizara Gilda. E Adolfo Suárez partiu aos 81 tendo esquecido que foi o primeiro presidente democrático da Espanha depois da morte de Franco. A cada três segundos um novo caso de demência é diagnosticado no mundo, com resultados demolidores. Mais de um século após a descoberta do mal de Alzheimer, ainda não existe qualquer tratamento possível e nem sequer se compreendem bem as causas da doença.

Documento revela os fracassos aos tratamento de Alzheimer, isso é, porque nem sempre a doença é de fato Alzheimer. Pesquisadores comandados por Peter Nelson, descrevem um novo tipo de demência, batizado LATE, (modo facilitado de dizer o nome científico,  “encefalopatia TDP-43 límbico-predominante relacionada com a idade”), que se parece muito com o Alzheimer, e atinge pessoas com idade acima dos 80. 

Camuflado durante décadas. “Existem mais de 200 vírus diferentes que podem causar o resfriado comum. Por que pensar que só há uma causa par a demência?”, argumentou Nelson, da Universidade de Kentucky, em um comunicado.

As vitaminas que aceleram o desenvolvimento da doença também não é desconhecida, a TDP-43, já aparece em outras doenças do sistema nervoso, como a esclerose lateral amiotrófica.

“Até agora, a demência senil mais prevalente é o mal de Alzheimer, que tem um pico de incidência entre os 65 e os 80 anos de idade”, explicou o bioquímico Jesús Ávila, diretor científico da Fundação Centro de Investigação de Doenças Neurológicas (CEM) de Madri, em entrevista ao EL País. “Agora, neste trabalho se indica, e há um consenso, de que existe outra patologia para os mais velhos. Isto é, conforme vai aumentando a vida média, vão aparecendo novos tipos de demência”, acrescentou Ávila.

Os responsáveis pelo o estudo, argumentam que sinais da LATE estão presentes em mais de 20% dos cérebros analisados de pessoas com mais de 80 anos. “Muitos dos ensaios clínicos de tratamentos contra o Alzheimer fracassam porque estão incluindo pacientes que deveriam ser excluídos”, alerta María Anjos Martín Requero, cujo laboratório no Centro de Investigações Biológicas (CSIC), em Madri, pesquisa o papel da proteína TDP-43 nas demências. “LATE provavelmente responde a diferentes tratamentos que o Alzheimer”, concorda a psicóloga Nina Silverberg, do Instituto Nacional sobre o Envelhecimento dos EUA.

Há treze anos atrás, uma equipe da neurocientífica Virginia Lee, da Universidade da Pensilvania, já observou em presença de indícios da proteína TDP-43 na degeneração lobular frontotemporal do cérebro, um dos principais tipos de demência junto ao Alzheimer, a demência de corpos de Lewy e a demência vascular. No caso de LATE, a TDP-43 costuma se concentrar na amígdala e no hipocampo, duas áreas do cérebro relacionadas, respectivamente, com as emoções e com a memória autobiográfica. 

Há anos Alberto Rábano vê essas acumulações de TDP-43 dentro dos neurônios. Ele dirige o banco de cérebros da Fundação CEM, com 155 órgãos doados por pacientes do Centro Alzheimer Fundação Reina Sofía, no bairro madrilenho de Vallecas. “Sempre dissemos que o Alzheimer, a partir de 85 anos, parece outra doença. Nessas idades tão extremas, a demência é uma soma de patologias. Vemos Alzheimer, Alzheimer com Parkinson, doença vascular cerebral, inclusões de TDP-43…”, ressalta ele.

Os autores do novo estudo, publicado na revista especializada Brain, alertam que cada vez há mais pessoas com mais de 80 anos em todo mundo e, portanto, “LATE tem um impacto crescente e pouco conhecido na saúde pública”. Há “uma necessidade urgente de investigação”, advertem. Rábano, por sua vez, aproveita para fazer um apelo à população: “Doem seus cérebros [para a ciência]”.

*Com El País