19 de abril de 2024
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ARTIGO

Eu sou ansioso, depressivo. Eu sou burro. Eu sou...

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Gente! Viram todos esses rótulos? Quem não se pegou pensando alguma coisa dessas em algum momento? Parece que a nossa “mente” goste de organizar o mundo para nós. Colocar as coisas em caixinhas, em categorias. Cada coisa na caixinha certa. Aliás, tem uma caixinha para as coisas “certas” e outra para as coisas “erradas”. Tem caixinhas diversas: a das pessoas obsessivas, a das pessoas malucas, a das pessoas inteligentes. Tem muitas e muitas caixinhas ao nosso dispor para organizar nossa percepção da realidade. Será, talvez, que tem caixinhas demais?

É normal para o ser humano usar categorias. Elas servem para economizar tempo e esforço. Imaginem nossos ancestrais durante a pré-história. Depois que aprendiam que certa planta fazia parte da categoria “comidas perigosas”, não precisavam mais ficar testando e arriscando a vida sempre que encontravam a mesma planta, nem precisavam esperar milhares de anos para desenvolver defesas biológicas no corpo para sobreviver caso a comessem. Nossos ancestrais ficavam protegidos dos efeitos danosos de ingerir a planta simplesmente colocando-a sob o conceito (sob o rótulo) de “coisa que não é para comer”.

Esse comportamento de criar categorias foi tão útil ao longo da história da nossa espécie que ele ganhou muito protagonismo. Quando olhamos para alguém na rua, automaticamente, já colocamos essa pessoa em algumas categorias: jovem/velha, arrumada/desarrumada, magra/gorda, bonita/feia, ágil/vagarosa, etc. Julgamos. E julgamos automaticamente, sem má intenção, porque é assim que nossa mente funciona. Mas julgamos e fazemos isso o tempo inteiro. E fazemos isso não apenas com as outras pessoas, mas também com nós mesmos. Eu sou ansioso, ou eu sou depressivo, ou eu sou isso ou aquilo. Às vezes, esses julgamentos são pesados, injustificados, cruéis até, e fazemos mesmo assim.

Esse é Jaume Ferran. Foto: Arquivo Pessoal 

Sabendo disso, é importante lembrar que a realidade é a realidade e os rótulos são apenas rótulos. Você não ficará com mais dinheiro na sua conta apenas porque seu vizinho pense que você é rico. E você não perde pontos de QI se um colega imagina que você é burro. É importante aprender, e a terapia ajuda nisso, a pautar o nosso comportamento de acordo com a realidade e não com os rótulos que inevitavelmente criamos. Quando conseguimos estar em contato com a realidade, ou seja, perceber as consequências reais das nossas ações, fica mais fácil distinguir quais rótulos são úteis e quais não nos ajudam, conseguindo que esses autojulgamentos tenham um papel bem menos importante nas nossas vidas. Por exemplo, se tiramos uma nota ruim em uma prova, talvez pensemos “Como eu sou burro!”; mas prendermos a essa ideia não é muito útil para ir bem na próxima prova. Para me dar melhor nas provas vindouras poderia ser bem mais interessante analisar objetivamente quais técnicas de estudo já me ajudaram no passado. É claro que não é tão fácil assim tomar distância dos rótulos que nossa mente cria, mas caminhar nessa direção, mesmo que vagarosa e gradativamente, é muito bom para nosso equilíbrio emocional.

AUTOR: *Jaume Ferran ARAN CEBRIA é Psicólogo e Supervisor Clínico, CRP: 06/ 131178 e 14/00281-8 Pesquisador do grupo CLiCS (Cultura, Linguagem e Comportamento Simbólico). Bacharel em Psicologia pela UFGD Licenciado em Psicologia pela UFGD Mestre em Psicologia pela UFSCar +55 (16) 996 24 73 00 - faz Atendimento presencial e online.