O jovem índigena Tamy Zoé foi flagrado pelo médico neurocirurgião Erik Jennings carregando o pai, Wahu Zoé, nas costas por quilômetros dentro da mata fechada até o posto de saúde. O objetivo, de acordo com o médico, era aplicar no pai uma dose da vacina contra o coronavírus.
A imagem foi registrada na floresta amazônica em 2021. O idoso não enxerga bem e tem dificuldades de locomoção, por isso, o médico explicou em um post na rede social que o filho carregou o pai por 12h subindo morros e meio a mata fechada.
"Tawy carregou o pai, por 6 horas dentro de uma floresta com morros, igarapés e obstáculos até a nossa base. Feito a vacina, colocou o pai nas costas novamente e andou por mais 6 horas até sua aldeia", disse o profissional da medicina, autor do registro.
Segundo Erik, até o momento não se registrou nenhum caso de Covid-19 nos 325 indígenas da etnia zoé que vivem nas matas do noroeste do Pará, perto da fronteira com o Suriname.
O neurocirurgião está trabalhando há quase 20 anos na assistência de saúde aos zoés. A foto foi feita há um ano atrás, quando começou a vacinação. Jennings contou que decidiu divulgá-la agora, em seu perfil no Instagram, para incentivar a vacinação num momento em que o mundo enfrenta mais uma onda de contágio e como o Brasil, se tem gestores negacionistas que estimulam a não vacinação.
O esquema de vacinação dos zoés foi definido pelos próprios indígenas. "Os zoés decidiram se isolar voluntariamente. Montaram um sistema entre eles para não usar as mesmas trilhas entre as aldeias e só vão ao posto para tomar a vacina ou em caso de extrema necessidade", explicou Erick.
Marcos Colón, doutor em estudos culturais e profundo conhecedor da assistência aos zoés, destacou a importância de "uma estratégia de saúde que não agrida a cultura nem o modo de vida dos indígenas".
"A foto do jovem zoé carregando seu pai nos dá uma aula de humanidade, de ação coletiva de sobrevivência, de respeito aos mais vulneráveis e de amor entre pais e filhos. Essa é uma agenda de vida, poderosa, bela e indestrutível. Contra ela não há agenda da morte que prospere", destacou a jornalista paraense e escritora Cristina Serra em sua Coluna na Folha de S. Paulo.
*Com Folha de S. Paulo.