19 de março de 2024
Campo Grande 26ºC

VERIFICAÇÃO DE FAKE NEWS

LUPA: É falso que Protógenes Queiroz se refugiou na Suíça porque 'descobriu fraude nas urnas'

Trecho de uma entrevista gravada em 2017 para a emissora RedeTV! e vem sendo compartilhado em correntes de WhatsApp sem contexto, dando a entender que a denúncia feita em 2014 e arquivada um ano depois, por falta de provas o levou a ser perseguido

A- A+

Circula por grupos de WhatsApp um vídeo em que o ex-delegado da polícia federal e ex-deputado Protógenes Queiroz diz ter provas de que urnas eletrônicas foram fraudadas no Brasil.

A gravação reproduz um trecho de uma entrevista na qual o político afirma ter investigado suposta fraude nas urnas depois de não ter sido reeleito deputado federal pelo PCdoB de São Paulo nas eleições de 2014.

Protógenes diz ter também provas de que as eleições presidenciais de 2014 foram adulteradas — naquele ano, Dilma Rousseff (PT) foi reeleita.

O vídeo é acompanhado de uma legenda que sugere que, depois das investigações, Protógenes descobriu que o PT nunca venceu uma eleição no Brasil. Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado.

Confira a seguir o trabalho de verificação:

“Quem lembra do Delegado Federal Protógenes que foi investigar as urnas eletrônicas e acabou descobrindo que o PT nunca venceu uma eleição no Brasil..??? (…)”, diz legenda do vídeo que circula em grupos de WhatsApp.

FALSO 

A informação analisada pela Lupa é falsa. O ex-deputado e ex-delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz nunca provou que as urnas eletrônicas foram fraudadas no pleito de 2014. Após perder as eleições daquele ano — ele tentou a reeleição como deputado federal pelo PC do B de São Paulo —, Protógenes denunciou suposta fraude e o caso foi investigado pela Procuradoria-Geral Eleitoral de São Paulo e pelo Ministério Público Federal (MPF). No entanto, as investigações não constataram qualquer irregularidade e foram arquivadas em março de 2015.

Protógenes recebeu 27.978 votos e ficou em 143º na lista de mais votados para deputado federal. Menos de 20 dias depois de perder as eleições, ele foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de violação de sigilo funcional em decorrência de sua atuação como delegado na Operação Satiagraha, da Polícia Federal.

Também não foram constatados erros nas eleições presidenciais daquele mesmo ano. No vídeo, além de acusar, sem apresentar provas, de que sua derrota nas eleições para deputado se deu em razão de fraude no sistema eleitoral, o ex-delegado sugere também que as urnas foram adulteradas para favorecer Dilma Rousseff (PT). Na ocasião, Dilma foi reeleita no segundo turno numa disputa com o então senador Aécio Neves (PSDB-MG). O próprio PSDB pediu uma auditoria para verificar o sistema que apura e faz a contagem dos votos. A investigação do partido não conseguiu identificar fraudes. 

Vale pontuar que o vídeo reproduz um trecho de uma entrevista gravada em 2017 para a emissora RedeTV! e vem sendo compartilhado em correntes de WhatsApp sem contexto, dando a entender que a denúncia feita em 2014 — e arquivada um ano depois, por falta de provas — o levou a ser perseguido politicamente, o que não é verdade. 

“Ele teve de se refugiar na Suíça sob ameaças de morte”
Vídeo que circula em grupos de WhatsApp 

FALSO

A informação analisada pela Lupa é falsa. Não procede a informação de que Protógenes Queiroz precisou se refugiar na Suíça em razão da “descoberta” de fraude nas urnas, como sugere a legenda do vídeo. O ex-deputado federal de fato pediu asilo político ao país europeu, mas essa decisão não tem relação com a denúncia de fraude no sistema eleitoral, feita em 2014. O pedido de asilo ocorreu um ano depois de Protógenes ter sido condenado a 2 anos e 6 meses por vazar informações da Operação Satiagraha, de 2008. Ele faltou a três audiências em que deveria informar como deveria cumprir as penas.

Ainda em 2015, o ex-deputado foi exonerado da Polícia Federal por ordem do Ministério da Justiça por causa de “infrações disciplinares”. Em um tuíte de dezembro de 2016, o próprio ex-delegado compartilhou a capa de um livro de sua autoria, intitulado Operação Satiagraha: Os bastidores da maior operação já feita pela Polícia Federal, e sugeriu a leitura da obra para que as pessoas “entendam porque fui perseguido e demitido da PF pelo sistema corrupto que domina o Brasil”. 

Em abril de 2016, o ex-parlamentar foi convocado a comparecer à Justiça de São Paulo pela primeira vez, mas foram “frustradas todas as tentativas de localização do apenado”, conforme disse, à época, a juíza federal Andréia Moruzzi, da 1ª Vara Criminal de São Paulo. 

OPERAÇÃO SATIAGRAHA

Protógenes Queiroz comandou a Operação Satiagraha, investigação realizada pela Polícia Federal entre 2004 e 2008 sobre crimes financeiros. A operação resultou na prisão de políticos e empresários, entre eles o banqueiro Daniel Dantas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (PTB), morto em 2009. Em 2011, a operação foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), acatando um parecer do Ministério Público Federal. Na ocasião, o STJ considerou que a atuação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na operação da Polícia Federal “violou os princípios constitucionais da impessoalidade, da legalidade e do devido processo legal”.

Esta‌ ‌verificação ‌foi sugerida por leitores através do WhatsApp da Lupa. Caso tenha alguma sugestão de verificação, entre em contato conosco pelo número +55 21 99193-3751.

Editado por: Chico Marés