A literatura regional acaba de produzir mais um presente para os brasileiros, em geral, e particularmente para os leitores sul-mato-grossenses. Trata-se de “Airê, o Menino Invisível”, lançado em fevereiro deste ano pelo escritor, editor, dramaturgo e pesquisador do folclore Marlei Cunha, um paulista de São José do Rio Preto que há anos veio para Mato Grosso do Sul.
Instigante e provida de um lirismo crítico, a obra romanceia realidades replicadas na infância - a do autor - que foge da concepção de uma faixa etária idealizada, como define a mestra em Educação Graciela Mendes Targino, admiradora de Marlei. "Esse livro é um grande presente para a nossa cultura", afirmou Graciela. "Trata-se de um romance em que o pesquisador e escritor narra eventos de sua infância e traz, no bojo de seus escritos, uma concepção de experimentos infantis, brinquedos e brincadeiras de um menino que nasceu e cresceu em Mato Grosso do Sul".
OLHAR UNIVERSALISTA
O olhar da admiradora não é o de um estreito corredor afetivo, mas de uma especialista em Educação que aprimora seus conhecimentos e qualifica o exercício de ensinar com a saudável peregrinação pelos diferentes caminhos oferecidos no universo literário. É nesta planície de universalidade que ela buscou inspiração para redigir o prefácio. Em uma das construções do texto, ela escreveu: "Mato Grosso do Sul faz fronteira com cinco estados (Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo) e com dois países (Paraguai e Bolívia). Povos indígenas, africanos, japoneses, sírios, libaneses, turcos e palestinos fazem parte da constituição do povo sul-mato-grossense. Desta forma, a produção da cultura regional dialoga com muitas culturas diferentes", acentuou.
Em seguida, Graciela faz estas indagações: "Mas onde está o registro da cultura lúdica do estado? Qual é a identidade das brincadeiras regionais de Mato Grosso do Sul? E acrescenta que depois de muito pesquisar, constatou existir considerável deficiência do Estado na produção escrita sobre cultura lúdica regional. Assim, Airê é uma criança com a "sua aldeia" e nela conhece, inventando e experimentando sensações ao sabor dos ventos imprevisíveis e inquietos dos ventos soprados por sua liberdade. "É uma infância real, com seus desejos, inquietações e algumas ações socialmente vistas como negativas. O cenário onde se passa essa história é um ambiente rural, rico em diversidade de fauna e flora", reforçou Graciela. "As brincadeiras são ações lúdicas. Neste contexto, talos de mamona, bagaço de laranja, raízes e sabugo de milho eram brinquedos ricos em possibilidades lúdicas".
Quem já conhece a rica contribuição que o Estado já vem recebendo há décadas do compromisso e das iniciativas de Marlei Cunha, seguramente não haverá de duvidar do que salienta Graciela: este livro é um marco na história de Mato Grosso do Sul. "Leva os leitores em uma viagem pela infância de um menino sul-mato-grossense, trazendo contribuições significativas para os registros escritos da cultura lúdica regional”.
Em 2012 - Com o Plenário da Câmara de Vereadores de Costa Rica (MS) lotado, o escritor Marlei Cunha lançou o seu livro “Ruas – Nomes Lembrados”, a publicação resgata a história do município ao longo das décadas.
Com 150 páginas, o autor utilizou para a pesquisa histórias no arquivo público, entrevistou pessoas que moram na cidade e algumas que são da cidade, mas residem em outras regiões. "Eu já conhecia a maioria dos personagens", disse Marlei. Lançou "Suarentos", em 1979.
QUEM É?
Marlei Rodrigues da Cunha nasceu em 27 de fevereiro de 1950, na Fazenda Mequém, perto do hoje município Paraíso das Águas, que era distrito de Costa Rica. É ator com registro profissional no Ministério do Trabalho e Emprego, dramaturgo filiado na Sociedade Brasileira de Atores Teatrais (SBAT) desde 1983, escritor filiado na União Brasileira de Escritores (UBE) e tem seu nome inscrito na Enciclopédia Brasileira de Literatura, organizada por Afrânio Coutinho.
O início no teatro foi em São José do Rio Preto (SP), no ano de 1971, quando Marlei participou de peças e integrou a Comissão Organizadora dos primeiros festivais de artes cênicas na cidade. Declaradamente socialista, interpretou, dirigiu e escreveu várias peças, algumas alvo de censura da ditadura militar. Sua produção literária e teatral inclui títulos e histórias de grande repercussão. "Morte Lenta", por exemplo, está entre as peças que foram censuradas.
Militante de movimentos sociais e políticos como o da anistia, no livro "Galdino, o Profeta das Águas", que virou também peça teatral, contou a história do profeta Aparecidão, que viveu num hospital psiquiátrico e foi tratado como prisioneiro político pela imprensa. Outro espetáculo autoral, "Na Rua do Lazer Você Tem o Que Fazer", dirigido ao público infantil, ficou em cartaz durante três anos na capital paulista e depois percorreu outros estados.
Atuou nas seguintes peças:
- Capa Verde e o Natal de Osman Lins - 1981
- Ave Palavra – Adaptação de Guimarães Rosa 1972
- Diretor
- O pirata de Jurandir Pereira – 1973
- A História de João Rico- Teatro de Cordel 1974
- Código - 295 – De Wilson Daher
DRAMATURGO
- Escreveu as seguintes peças:
- Morte Lenta – Interditada pela Censura.
- Suarentos que em seguida foi publicada em livro. A peça foi encenada em diversas regiões do país por diversos grupos.
- Relento – Encenada e publicada em livro.
- Dezenas de peças teatrais inéditas.
- Marlei Cunha escreve e edita seus livros. Publicou vários e tem outros no forno.
POESIA
Na poesia, é autor de "Fragmentos" (coletânea de poetas sulmatogrossenses), "Janela Poética" (antologia com poetas de Paranaíba), "banco Surreal" e "Utilidade Publica". A história regional é outra fonte que o abastece. Entre outros títulos literários, são de sua lavra:
- Fragmento -
- Antologia – Poetas sul-mato-grossenses
- Utilidade Pública -
- Banco Surreal – Poesia em cheque
- Janela Poética – Antologia com poetas de Paranaíba
- São Paulo
- Galdino, o Profeta das Águas – Encenada e publicada em livro. Fez parte do movimento pela Anistia. História de profeta Aparecidão, num hospital psiquiátrico e a imprensa o tratou como prisioneiro político.
- Na Rua do Lazer, você tem o que fazer – Infantil. O espetáculo ficou três anos encenado em São Paulo (capital) e percorrendo diversos estados do Brasil
- Costa Rica – MS
Foi o primeiro Assessor de Cultura no período de 1989 a 1992. Organizou um movimento de teatro na cidade e participou de festivais promovidos pela Federação de teatro Amador do Estado de Mato Grosso do Sul.
Escreveu e encenou a peça Porandubas do Sertão – Baseada em causos da nossa literatura Popular Narrativa.
Escreveu e encenou a peça Infantil 'A Caça, a Caçada e o Caçador'. Tem dezenas de peças de teatro esperando a oportunidade de uma encenação.
HISTÓRIA REGIONAL
Na área de História Regional, publicou os seguintes livros: "Pay Pirá, O Bandeirante" (sobre Antônio Pires de Campos, que exterminou índios caiapós na confluência dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro); "Costa Rica, História e Genealogia", "Aparecida do Taboado: O Portal do Desenvolvimento", "Ruas: Nomes Lembrados", "Cantigas e Cirandas do Cerrado".