16 de abril de 2024
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Base de Alcântara

MP extingue empresa espacial criada com Ucrânia para explorar base de Alcântara

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O Congresso Nacional recebeu a Medida Provisória 858/2018, que extingue a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS), resultado de uma parceria com o governo ucraniano para explorar comercialmente o lançamento de satélites a partir da base de Alcântara, no litoral do Maranhão. O texto foi publicado na sexta-feira (23), em edição extra do Diário Oficial da União.

Junto com a extinção da empresa, a MP determina prazo para o fim da atuação dos membros do conselho de administração e da diretoria, e o fim dos mandatos dos membros do conselho fiscal.

A extinção da empresa decorre da decisão do governo brasileiro de sair do Tratado sobre a Cooperação de Longo Prazo na Utilização do Veículo de Lançamentos Cyclone-4, assinado pelos dois países em 2003.

A decisão foi formalizada em 2015 pelo Decreto 8.494, quando o Brasil denunciou o tratado sob a alegação de falta de viabilidade comercial. A denúncia é um ato no qual um país manifesta sua vontade de sair de um acordo internacional. Segundo o estatuto da ACS, a empresa deve ser liquidada em caso de denúncia por um dos países.

O governo afirma que em janeiro deste ano acabaram os recursos financeiros que mantinham a empresa.

Inventário

De acordo com a MP 858, o patrimônio e as dívidas da empresa binacional no Brasil serão inventariados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, que recebeu prazo até 29 de março de 2019, prorrogável, para concluir o processo. A União assumirá essas obrigações e bens. Entre as funções do inventariante estão rescindir os contratos de trabalho remanescentes e dar um destino aos bens da empresa, podendo inclusive vendê-los. Publicado junto com a medida provisória, o Decreto 9.581/18 regula o processo de inventário.

A MP determina ainda que a Advocacia-Geral da União (AGU) passará a ser a representante legal do governo em ações judiciais de interesse da ACS e que os ativos e débitos no exterior deverão ser inventariados pelo governo ucraniano e o resultado será objeto de compensação entre os dois países.


Cooperação

A cooperação espacial entre Brasil e Ucrânia começou em 2003, quando foi assinado o tratado em Brasília. A ideia era usar o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) para enviar satélites brasileiros, ucranianos e de outros países ao espaço, cobrando pelo serviço. O documento, aprovado em 2004 pelo Congresso Nacional, previu a criação da ACS.

Caberia à Ucrânia desenvolver o foguete, uma nova variante do Cyclone já usado pelo país do leste europeu. Ao governo brasileiro caberia cuidar da infraestrutura de solo — os ucranianos detinham a tecnologia para fabricar foguetes mas não possuíam centro de lançamento próprio. Já a ACS seria responsável pela operação comercial da base, alugando-a aos países interessados em colocar satélites em órbita. O acordo nunca foi à frente e nenhum foguete foi lançado da base maranhense.

No ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma auditoria (Acórdão 2727/17) no tratado, a pedido da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A fiscalização apontou que o Brasil gastou, até 2016, R$ 483,9 milhões para integralizar o capital da ACS.

Tramitação

A medida provisória será analisada agora em uma comissão mista. É nessa fase que são realizadas as audiências públicas e apresentadas as emendas de deputados e senadores.

O parecer aprovado é votado posteriormente nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado.

Com Agência Câmara