18 de abril de 2024
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CULTURA

Murtinhenses ganham presente histórico em exposição de Roberto Higa

“Um Pouco da História de Porto Murtinho”

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Este é o nome da exposição que vai invadir as lembranças e a alma simples do povo porto-murtinhense no próximo final de semana, quando o fotógrafo Roberto Higa estará na cidade para as comemorações dos 107 anos de fundação. A presença de Higa tem uma motivação especial: ele é o profissional que tem certamente a mais completa e mais  variada coleção autoral de registros da história murtinhense a partir dos anos 1970, com foco principalmente nas enchentes do Rio Paraguai..

Com a chancela da Água Comunicação, a exposição acontecerá na Praça de Eventos, nos dias 14 e 15, a partir das 20 horas, e faz parte da programação comemorativa oficial. Ao todo, a empresa, que atua na área artístico-cultural , aprsentará três projetos. Um é a Exposição de Fotos da Enchente de 1979 e da Cidade Lona de 1982, do fotógrafo Roberto Higa. Os outros são os documentários do Festival do Toro Candil 2018 (dirigido por Mara Silvestre) e do III Festival Folclórico do Toro Candil 2019.

 A saga dos murtinhenses guarda ciclos e protagonismos de elevada significação histórica, cultural e humanista. Na fronteira com o Paraguai e banhada pelo rio de mesmo nome, Porto Murtinho é um contexto singular e precioso no mosaico geográfico brasileiro. E Roberto Higa, com suas lentes instigantes, capazes de enveredar pela alma e pelos sentimentos, com segue fazer do click um disparador de emoções. É um gatilho para narrativas densas, curiosas, esclarecedoras e redescobertas.

Foi assim quando este nissei - a dois anos de tornar-se septuagneário – desembarcou na cidade para registrar a grande enchente que marcou as vésperas da década de 10980. Ele não se limitou a registrar a fúria das águas tomando conta das ruas, casas, cemitério e fazendas ou a clicar em flagrantes de pessoas fugindo para a parte alta. Higa preocupou-se também com a demarcação conservacionista de tesouros patrimoniais e humanos: nativos, imigrantes, índios, arquiteturas e outras relíquias, como o Castelinho e a velha “Maria Fumaça” usada pela Companhia Mate Laranjeira.

(Fotógrafo Roberto Higa. Foto: Ana Planez). 

Tudo isso poderia estar sintetizado no universo provisório de medo e esperança em que se transformou o acampamento da Cidade de Lona, motivo de uma conhecida canção sertaneja. Improvisado às margens da estrada (hoje a BR-267), o local era o abrigo de famílias, comércio e repartições publicas. As pessoas viviam e cuidavam daqueles barracos como se fossem a extensão da cidade e davam a ela um funcionamento regular.

Higa registrou tudo isso. E não parou aí. Fez outras visitas e identificou as maneiras muito peculiares de um povo que faz sua própria resistência, acreditando na evolução e agarrado aos seus costumes e conhecimentos. Comitivas dos governadores Harry Amorim, Pedro Pedrossian e Marcelo Miranda, além de incursões palacianas, como as do ministro dos Transportes, Mário Andreazza, estão assinaladas no arquivo de Hige, um dos maiores e mais completos acervos fotográficos do País. Só em fotogramas são mais de 400 mil.

Por isso, a chance de o murtinhense de ontem e de hoje reencontrar-se com sua própria história, a que viveu ou a que conheceu por ouvir dizer, é única. A exposição de Roberto Higa possibilita essa viagem mágica pelo tempo e pelas coisas que só podem existir nesta fronteira singular, aonde um rio divisório une dois povos numa única geografia humana, em vez de separar línguas, territórios e sonhos. A fotografia fala a linguagem do comum, do universal e do territorial.