28 de março de 2024
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ARTIGO

O perigo do radicalismo ideológico

Iran Coelho das Neves é Presidente do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul

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Pesquisa recente do Instituto Ipsos revela que 32% dos brasileiros acham que não vale a pena buscar o diálogo com pessoas com opiniões políticas diferentes das suas, enquanto 42% se sentem mais confortáveis com quem tem opiniões similares, e 39% concordam com a frase: “Quem tem visão política diferente de mim foi enganado”.

Esses índices, mais altos do que os detectados na grande maioria dos 27 países pesquisados, delineiam um preocupante panorama político e social em que o debate de ideias, onde as divergências podem gerar diálogos construtivos, está obstruído ou mesmo bloqueado.

Os radicalismos excludentes à direita e à esquerda do espectro político-ideológico, insuflados por pautas calcadas em alegados ‘valores morais’ ou de “costumes”, configuram uma beligerância insensata nas redes sociais, onde o que pensa diferente é o inimigo a ser destruído, a começar pelo aniquilamento de sua reputação pessoal.

Esse grave quadro de polarização, que sequer dissimula a intolerância e o ódio, impõe às lideranças políticas, e a todos os que temos sobre os ombros responsabilidades públicas pelas atribuições constitucionais que exercemos, a obrigação de mobilizar esforços objetivos pela pacificação dos espíritos. Ou, ao menos, pela redução dos radicalismos que ameaçam a paz social e põem em risco a própria democracia.

Tudo o que o atual contexto de exacerbação não precisa neste momento delicado da vida nacional é de heroísmos oportunistas ou de voluntarismos individualistas.

O que o Brasil cobra de cada um de nós, como tributo patriótico pelas responsabilidades de liderança que exercemos, é austera e firme determinação para, no contexto de nossas instituições, incentivar o diálogo e o respeito às divergências, fundamentais para, pelo menos, atenuar o radicalismo ideológico que esgarça o tecido social.

Como disse em pronunciamento recente o deputado federal Fabio Trad, “a democracia brasileira é ainda uma planta frágil e, como tal, não pode e não deve ser submetida a solavancos e sacolejos provocados por voluntarismos equivocados”.