28 de março de 2024
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LUTO | MEIO AMBIENTE

Pantanal perde Emiko Kawakami, uma das principais defensoras do bioma

Aposentada, Emiko morava com a família em Pouso Alegre, Minas Gerais

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Emiko Kawakami de Resende, de 74 anos, ex-chefe-geral da Embrapa Pantanal, morreu na quinta-feira (9.jun.22). Ela foi vítima de infecção decorrente de tratamento contra câncer.

Tratada como uma das principais defensoras e conhecedoras do bioma pantaneiro, Emiko foi pesquisadora de vanguarda, desenhou uma trajetória de pesquisa que permitiu conhecimentos fundamentais sobre a população de peixes do Pantanal.

Foi uma mulher referência, liderando a a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Emiko nasceu em Taguaí (SP), era casada com José Edson de Resende, deixando dois filhos Marcelo e Diogo e netos.

Dedicou 38 anos de sua vida à área de pesquisa e desenvolvimento, dos quais 31 à Embrapa. Coordenou vários projetos e comissões, exerceu também, por diversas vezes, funções de gerenciamento, dentre elas: Gerente de Comunicação e Negócios, Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), e foi Chefe-Geral da Embrapa Pantanal por dois mandatos de 2001 a 2006 e de 2011 até 2016.

O Chefe-Geral da Embrapa Pantanal, Jorge Antonio Ferreira de Lara, fala sobre a perda da profissional e colega de trabalho, “é com pesar que recebemos a notícia do falecimento da Dra. Emiko, um símbolo da Embrapa Pantanal, ela sempre foi uma profissional focada e competente que ajudou muito na construção da nossa Unidade”.  “A Emiko se destacou nas suas pesquisas, como gestora e como agente pública. A Embrapa Pantanal reconhece todo esforço e trabalho da Emiko no crescimento e desenvolvimento da Unidade, e tenho a convicção que muitas pessoas, assim como eu, recebem essa notícia com dor e na esperança que o exemplo dela fique e que a Unidade possa seguir em frente sempre buscando os melhores resultados e o bem estar de todos”, conclui Jorge.

Emiko apoiou os estudos mais completos sobre o rio Taquari, já realizados até hoje.

Estava sempre à frente das discussões, de maneira assertiva e direta, defendendo o Pantanal com a ciência de um lado, e o profundo respeito aos conhecimentos locais do outro.

Ela também foi secretária estadual do Meio Ambiente em Mato Grosso do Sul, deu aulas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

O Instituto Taquari Vivo, que trabalha intensamente na busca por soluções para a restauração ambiental e produtiva da bacia do Alto Taquari, disse lamentar profundamente a perda, e repassou à família e amigos as mais sinceras condolências.

Atualmente, Emiko estava aposentada e morando com a família em Pouso Alegre, Minas Gerais.

O sepultamento dela ocorrerá na Funerária Santa Edwiges, em Pouso Alegre (MG), nesta sexta-feira (10.jun.22), às 16h.

DESPEDIDAS 

O Sincato Rural de Corumbá emitiu uma nota de pesar. A entidade diz que Emiko se tornou "pantaneira por merecimento e sentimento".  

"Durante muitos anos, tivemos o privilégio de conviver com estas duas Emikos, a amiga e a pesquisadora cientista. Deslindou nossas espécies de peixes, catalogou-os sempre com um profundo respeito pelo conhecimento tradicional, usado como base para construir inúmeras e inovadoras teses científicas, que lhe grangearam renome nacional e internacional.

Com sua paciência oriental, sempre conseguiu avanços mesmo quando enfrentava demagógicas narrativas e dogmas imediatistas, abrindo caminhos para que, no futuro, a razão e a ciência triunfassem.

O Rio Taquari talvez seja seu principal feito, pois quando a contrariaram e reabriram os taludes recompostos, destruiram o mais piscoso dos rios do Pantanal, trocando as águas do seu canal navegável por dunas de areia...

Sua tese da vida no Pantanal baseada nos pulsos de água e seca, voltam com toda a força à nossa memória.

Sua repentina partida seca um pouco da inteligência sobre os problemas do Taquari e inundam nossos corações com a saudade do privilégio de sua convivência.

O Sindicato Rural de Corumbá e todos os membros e colaboradores expressam sua mais profunda gratidão por todos os esforços que realizou para melhor compreensão do Pantanal. Ao mesmo tempo, rogam ao Senhor que conforte e minimize a dor da separação que atinge a todos seus familiares, amigos e colegas. Adeus Dra. Emiko, adeus amiga e companheira Emiko, pantaneira de opção e coração, o Pantanal jamais a esquecerá! (Sindicato Rural de Corumbá)

O jornalista cololabrador do MS Notícias, Edson Moraes se despediu de Emiko dizendo que "O mundo se esvazia quando gente assim vai embora". 

MAIS DE VOCÊ! (Edson Moraes - Em 09.06.2022)

O mundo se esvazia quando gente assim vai embora.

Mas no mesmo instante o vazio sai de cena e o legado ocupa seu lugar.

Ainda assim, não há como não curvar-se à saudade e à real sensação de que os seres necessários e imprescindíveis ocupam lugares sem substitutos, titularidades sem suplência.

Porque você é item raro na rara coleção de agentes humanos fundamentais para a Humanidade.

Você fez do exercício profissional das Ciências Biológicas um credo pessoal, moral, conceitual e devocional de respeito e de amor à vida e aos vivos!

Você cuidava das aves, répteis, mamíferos e dos peixes - ah, os peixes! - como a mãe que cuida da cria, dá o banho, o leite o colo e a lição de coragem para construir amanheceres!

Obrigado, Emiko!

Há um tudo de você em cada sopro verde de oxigênio que matas e rios pantaneiros derramam a partir de agora, em sopros de confiança e de compromisso com a construção dos melhores ambientes para a vida dos homens e dos animais!

Há um tudo de você em cada folha ciliar renascida para a higienização dos rios, para a desinfecção das ambições, para a alvura transparente dos espaços, para a convivência harmônica e natural entre as estações, os climas, a chuva, o sol, os astros, a cheia e a estiagem!

Obrigado, Emiko!