23 de abril de 2024
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Vítima de abuso

Réu por morte nega "ciúme doentio" de afilhada e acusa vítima de abuso

Patrick Freire diz que "perdeu a cabeça" ao saber de supostas agressões contra a afilhada e matou a tiros o padrasto da menina

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Sentado no banco dos réus, o auxiliar de mecânico Patrick Insfran Freire, 39 anos, alegou ter “perdido a cabeça” ao atirar e matar a tiros Hudson Franco, em outubro de 2016, no Jardim Santa Emília. A justificativa é que a vítima teria agredido e abusado da enteada de 4 anos, afilhada do réu. O réu nega a versão de que tinha "ciúme doentio" da menina.

Patrick está sendo julgado por homicídio qualificado por motivo torpe e porte ilegal de arma, e responde pelos crimes em liberdade. A sessão da 1º Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande, sob responsabilidade do juiz Carlos Alberto Garcete começou esta manhã.

O réu disse que tinha grande preocupação pelo bem estar da menina, por ser padrinho e muito amigo do pai, já falecido. Ele negou que tivesse “ciúme doentio” da afilhada. Depois que a mãe da menina se casou com Hudson, teve problemas de relacionamento com ele. Em 2014, o auxiliar de mecânico já havia sido denunciado por ter atropelado e atirado em Hudson, depois que o rapaz limitou o tempo de visita de Patrick com a afilhada.

No decorrer do tempo, Patrick diz que a menina aparecia com marcas que pareciam ser de agressão e denunciou o caso à polícia. Porém, ele acreditava que a criança era influenciada pelo padrasto, pois não confirmava a violência e o caso não era levado adiante. 

Na sessão de julgamento, repassou o que aconteceu no dia 23 de outubro de 2016: diz que foi à casa da madrinha da menina e usou o computador para ouvir música, mas acabou encontrando áudios de conversas da mulher com tia da criança que ela armazenava.

Nessas conversas, as duas falavam de agressões do padrasto. “Saí transtornado, fui para casa e peguei a arma”. Neste ponto do relato, Patrick mudou a versão que havia apresentado anteriormente: agora, diz que chegou à casa de Hudson com a arma na cintura e só a pegou depois que foi empurrado pela vítima.

Na fase de inquérito, havia dito que chegou com a arma em punho, versão também sustentada pelas testemunhas à época. Hudson foi atingido por cinco tiros: peito, virilha, perna esquerda e dois no braço direito.

 

Hudson foi  morto a tiros, em casa, no Jardim Santa Emília (Foto/Arquivo)
Hudson foi morto a tiros, em casa, no Jardim Santa Emília (Foto/Arquivo)

A promotora de Justiça Lívia Carla Guadanhim Bariani criticou o argumento de que a vítima teria agredido ou abusado da menina. Segundo ela, não consta há provas de que Hudson teria sido responsável por qualquer violência contra a enteada.

Além disso, com base no relato das testemunhas e perícia, diz que Hudson nem chegou a se manifestar quando Patrick chegou, empunhando a arma. “Ele nunca tinha conversado para tentar resolver a situação e, naquele dia, já pegou arma e foi conversar? ele podia ter evitado, mas, propositalmente foi e procurou a vítima”.

A promotora alertou ainda para o fato do réu ter arma sem registro. Patrick disse que comprou em 2012 e tinha intenção de registrá-la, mas ainda não o havia feito por conta da burocracia. Lívia Carla fez crítica ao argumento de proteção. “O fim é sempre o mesmo, um sentado no banco dos réus e, o outro, morto”.

A sessão de julgamento entrou em recesso e deve retornar no início da tarde.