18 de abril de 2024
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CRISE | CONTA DE ENERGIA

"Tarifaço" da luz custará R$ 7,6 bilhões, usado para cobrir perdas de empresas do setor

Peso que dura oito meses no orçamento das famílias, será bônus concedido aos grandes que reduzirem consumo de energia

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Com o início de setembro, logo no dia 1º passou a valer a nova tarifa da conta de luz que, segundo aponta a coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), vai custar R$ 3,45 bilhões por mês a mais no bolso dos consumidores. 

Ainda no dia 31 de agosto, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, usou da rede nacional de rádio e televisão para pedir que a população se esforçasse na redução do consumo de energia, citando que  “a condição hidro-energética do país se agravou”. 

De acordo com o ministro, a população deve desligar: "luzes e aparelhos que não estão em uso, aproveitando mais a luz natural, reduzindo a utilização de equipamentos que consomem muita energia como chuveiros elétricos, condicionadores de ar e ferros de passar”.

Para o MAB, a chamada "bandeira de escassez hídrica" consumirá um total de R$ 27,6 bilhões do orçamento das famílias num período de apenas oito meses, prazo que deve ficar em vigor (pelo menos, até abril de 2022), segundo informações do portal Brasil de Fato. 

Nessa bandeira fica estipulada uma taxa extra de R$ 14,20 para cada 100 kWh consumidos, um aumento de quase metade (49,6%), em relação ao patamar 2 de bandeira vermelha que estava em vigor (R$ 9,492 a cada 100 kWh).

Em alerta, o Movimento fala que esse “gigantesco volume de recursos” será usado para cobrir perdas das empresas do setor elétrico, que operam com custos mais altos, com a ativação das usinas termelétricas. 

Além de que, esse dinheiro também será subsídio do bônus que será concedido àqueles grandes consumidores que reduzirem o consumo de energia elétrica.

“Ou seja, o povo está sendo taxado nas contas de luz para que os donos da energia e as grandes indústrias possam seguir lucrando alto em plena crise elétrica que se soma à crise na economia nacional”, destaca a nota do MAB. 

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Ainda em junho, o ministro Bento pediu para que a população poupasse, sendo que, na época até citou compensações em forma de futuros descontos na conta de luz, mas não apresentou medidas de planejamento para a recuperação dos mananciais do país, limitando-se a responsabilizar a falta de chuvas pela crise hídrica, segundo a Rede Brasil Atual.

“Necessitaremos recuperar nossos reservatórios. Isso vai levar tempo, pois dependemos, além do empenho de todos nós, também, das chuvas. É por isso que, nesse momento de escassez, precisamos, mais do que nunca, usar nossa água e nossa energia de forma consciente e responsável”, disse Bento. 

Em resposta, o Movimento considera "uma falsidade completa" colocar a culpa do aumento na conta de luz na falta de chuvas. De acordo com o MAB, esse esvaziamento dos reservatórios é produto da política energética adotada pelo próprio governo.

Como prova, o volume de água que entrou nos reservatórios em 2020 é o quarto maior da última década, segundo dados do Operador Nacional do Sistema (ONS). Quando houve redução de 10% no consumo em 2020, algumas hidrelétricas, principalmente as privadas, produziam acima da média, visando aproveitar o baixo custo de produção. 

Outras, inclusive, vertiam água que poderia ser armazenada. Agora os produtores privados também ganham, pois têm os custos das termelétricas amortizados pelo governo.

RESPOSTAS

Uma alternativa seria a retomada do horário de verão, extinguido por Jair Bolsonaro. Como justificativa, em abril de 2019, o presidente afirmou que o fim desse período aumentaria a produtividade do trabalhador.

Acontece que o horário de verão servia de estratégia para poupar o consumo de energia nos chamados horários de pico, e foi extinguido por decreto. 

Sem sinal de melhoras, é previsto que os reservatórios das usinas do Sudeste e Centro-Oeste cheguem ao fim de setembro com 15,4% da capacidade, volume esse menor do que o registrado na crise de 2001. Ainda que tenha o "tarifaço", o Movimento prevê “novos e grandes aumentos”, e até apagões, no próximo período, como reflexo da “incompetência ou má fé” na administração do setor elétrico.