23 de abril de 2024
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“Zé Dirceu: Memórias”

Zé Dirceu quer PT e esquerda fazendo rigorosa autocrítica

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Ao longo de milhares de km rodoviários que vem rodando desde setembro até hoje (terça-feira, 18), ele já percorreu 23 capitais e outras cidades brasileiras para lançar e divulgar a sua biografia “Zé Dirceu: Memórias”. Na sexta-feira, 14, o ex-ministro e os companheiros de viagem desembarcaram em Campo Grande com a agenda definida: hospedagem no apartamento do procurador de Justiça aposentado e ex-prefeito de Porto Murtinho, Heitor Miranda dos Santos, amigo e correligionário, o lançamento do livro e outras atividades relacionadas na Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação Publica).

Algumas surpresas o aguardavam. E não eram manifestações provocadoras e violentas de ativistas de direita, entre os quais o MBL. Primeiro, a calorosa e vibrante saudação com que foi recebido nos eventos. Ele se emocionou com tanto carinho, sobretudo na noite da sexta-feira com o auditório da Fetems completamente lotado de pessoas dispostas a ouvi-lo e ter seu autógrafo na obra. 

Calcula-se que mais de 80% das pessoas adquiriram o livro, algumas levando mais de um exemplar. Houve, no entanto, outras surpresas, e nada agradáveis, embora sem grandes consequências: uma incômoda tosse e dores agudas nas costas, causadas por um tombo, obrigaram-no a interromper sua fala várias vezes e submeter-se a uma consulta médico-hospitalar.

Entretanto, a análise de José Dirceu fluiu com vigor e serenidade. Quase didática, a avaliação sobre a vitória de Jair Bolsonaro foi vista por dois ângulos e de forma incisiva: um, no acúmulo que o candidato eleito agregou de apoio nas urnas e o transformou num mandatário extremamente forte, com sustentação ampla na sociedade e bem assentado nas concepções de direita com que pretende marcar o seu governo; outro, nos erros do PT e da esquerda, que não souberam fazer a necessária e cirúrgica autocrítica sobre as razões pelas quais contribuiu com o avanço do conservadorismo e a ascensão de forças tão reacionárias.

Zé Dirceu disse, entre outras coisas, que não recomenda ninguém a atacar os evangélicos pelo apoio que dão a Bolsonaro. Reconhece que foi este o suporte eleitoral decisivo para o triunfo do candidato direitista, mas ressalva que a própria esquerda já buscou, direta e indiretamente, vitaminar suas lutas sociais com o concurso da influência religiosa da Igreja Católica. 

Por meio das Cebs (Comunidades Eclesiais de Base), os padres da ala progressista do catolicismo reforçaram lutas temáticas que eram emblemáticas na esquerda, como as dos sem-terra, dos negros, dos índios, das crianças e das mulheres.

Na segunda-feira, pela manhã, Zé Dirceu viajou de carro mais 720km até Cuiabá para nova sessão de lançamento da biografia. Ele está em liberdade por força de habeas corpus deliberado em junho pela maioria (3 a 2) dos ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Havia sido preso em maio na Operação Lava Jato e condenado a 30 anos e nove meses. Os advogados do ex-ministro recorreram da condenação e entraram com recurso que deve ser julgado em março do próximo ano.