16 de abril de 2024
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Brasil aparece como 3º pior em ranking de índice ambiental, social e anticorrupção

Gestão precária de Bolsonaro pode prejudicar único ponto "positivo", o cumprimento de regras ambientais

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Após receber uma chamada na última 6ª feira (30.mai.2021), com cobranças vindas dos EUA sobre o corte de recursos para o Meio Ambiente, feito por Bolsonaro um dia depois de seu discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima, um levantamento exclusivo da consultoria MB Associados apontou que o Brasil está na 3ª colocação como um dos piores em ranking ambiental, social e anticorrupção.

Os dados inéditos dessa primeira amostragem da MB Associados, divulgados pela Agência Folhapress, mostram a colocação do Brasil entre 18 outros países, ficando atrás apenas das Filipinas e África do Sul nos chamados "critérios ESG" (Meio Ambiente, Social e Governança, na sigla em inglês), que usa como base o ranking ambiental da Universidade Yale, nos Estados Unidos, o índice de Gini (medidor de desigualdade) e os dados do Banco Mundial para mapear indicadores de governança, como estabilidade política, eficiência do governo e controle da corrupção.

Para conquistar seu terceiro lugar no ranking, o Brasil somou 60 pontos percentuais, sendo que a situação é pior quanto mais próximo de 100%. Já países como Coreia do Sul (2%) e Chile (24%) ficaram com o topo.

Análise dos números mostram que o país vai pior nos quesitos sociais e de governança, com 71% e 72% respectivamente. Quanto ao cumprimento de regras ambientais, acaba sendo o único ponto em que o Brasil vai bem (com 39%), mas já sentindo os reflexos da má gestão ambiental nacional de Bolsonaro, como indica o economista-chefe da MB, Sergio Vale.

"A gestão Bolsonaro tem sido tão precária no manejo da questão ambiental, que será muito provável ver a posição do país piorar no ano que vem", argumentou o especialista, que aponta não haver esforços do chefe do executivo nacional para tratar do assunto, ponto que fica evidente com o corte realizado após o discurso na cúpula convocada por Joe Biden, presidente dos EUA.

Ele sinaliza uma vergonha futura que o Brasil vai passar no indicador ambiental de Yale, "caso o país não mude a trajetória dos últimos dois anos".

MINISTRO DO DESMATAMENTO

Durante a gestão de Bolsonaro, Ricardo Salles é responsável pelo ministério do Meio Ambiente, sendo peça-chave do atual presidente na busca por apoios em uma possível tentativa de reeleição em 2022. Ainda ontem (03.mai.2021) ele fugiu de todas as perguntas sobre a operação da Polícia Federal no Pará que fez a maior apreensão de madeira da história, segundo informações do portal Brasil 247.

Esse fato, em que Salles saiu em defesa de madeireiros, foi o que levou à troca do delegado Alexandre Saraiva da chefia da PF do Amazonas. Essa parceria entre o ministro e desmatadores - e seus crimes cometidos - foi denunciada pelo próprio Saraiva na Câmara, o que desencadeou no protocolo que pede uma CPI do Meio Ambiente.

Sob o comando de Salles, o ministério do Meio Ambiente tem o orçamento mais baixo dos últimos 21 anos. Ricardo - que culpa o PT pela redução do Orçamento na pasta - sugeriu então que os próprios deputados doassem  recursos de emendas parlamentares individuais, o que causou alvoroço no plenário.

De acordo com o registro do site Congresso em Foco, durante a sessão, Salles foi chamado de "moleque", sem que desse para identificar o parlamentar que dirigiu o xingamento.

PONTOS PREOCUPANTES

São vários os indicadores que preocupam a situação do Brasil, diante de um cenário de pandemia que agrava ainda mais variáveis como a desigualdade e desgovernança. Esse fraco desempenho pode piorar e muito a própria recuperação do país, que enfrentará dificuldades para atrair investidores estrangeiros, ou dar a chance para que se revertam importantes acordos comerciais.

Mais recente o jornal Folha de São Paulo publicou que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia pode enfraquecer, e que isso só não aconteceu porque a Comissão Europeia não completou uma avaliação atualizada, do impacto sobre a sustentabilidade, antes de fechar o acordo comercial entre os blocos.

Entretanto, como ressaltou a Folha dando destaque à fala da Defensora Pública Europeia (Emily O'Reilly), além da conclusão sem avaliar plenamente o impacto no acordo comercial, "também corre o risco de enfraquecer a capacidade do Parlamento Europeu e dos parlamentos nacionais, para debater de maneira exaustiva o acordo comercial".

Diplomata, Rubens Ricupero foi ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, ele avalia que foi perdida a confiabilidade que os governos estrangeiros tinham de que, independente do líder, os governantes brasileiros tinham valores compatíveis e eram fiéis aos princípios da Constituição, além de apresentarem engajamento em favor do meio ambiente, povos indígenas e direitos humanos.

Ricupero, em entrevista à BBC Brasil, disse que: "com a experiência Bolsonaro, ainda que ela termine no ano que vem, vai ficar sempre aquela dúvida sobre o futuro do Brasil. Até que ponto o Brasil não vai ter uma recaída nesse tipo de comportamento?", questionou ele.