19 de abril de 2024
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PANDEMIA | BRASIL

"Catástrofe Humanitária" no país é reflexo de falta de "vontade política", diz MSF

Médicos Sem Fronteiras apontam que ausência de resposta efetiva, por parte do poder público, custou a vida de milhares de brasileiros

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Com base no boletim do Observatório Covid-19, da Fiocruz, a Organização Médicos Sem Fronteiras classificou a atual situaçao brasileira como uma "catástrofe humanitária". A falta de uma resposta efetiva por parte do poder público, de vontade política de reagir são pontos apontados pela MSF como a causa da morte de milhares de brasileiros.

Em um apelo, publico nesta 5ª feira (15.abr.2021), a Médico Sem Fronteiras pede às autoridades brasileiras para que reconheçam a gravidade da crise e coloquem em marcha uma resposta centralizada e coordenada para impedir que continuem ocorrendo mortes que podem ser evitadas.

Como bem ressaltou o presidente internacional de MSF, Dr. Christos Christou, simples medidas de saúde pública se transformaram em tema de disputa política no Brasil. Para ele a "consequência disso é que ações de política pública com fundamento científico são vinculadas a posicionamentos políticos, em vez de estarem associadas à necessidade de proteger indivíduos e suas comunidades da COVID-19", disse no comunicado.

Dados da semana passada mostram que mais de vinte e cinco (26,2) porcento das mortes de todo o mundo aconteceram no Brasil. Ainda no dia 8 desse mês, em 24h morreram 4.249 pessoas. Para a MSF, esses números apontam a falta de habilidade das autoridades em lidar com a crise humanitária - e de saúde - que atinge o país e seu fracasso em proteger os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, do vírus.

Mas em seguida, a diretora-geral da organização, Meinie Nicolai, lembra que "a resposta à COVID-19 no Brasil tem de começar na comunidade, não na UTI”. Para ela, a logística para transportar suprimentos médicos e fazer com que eles cheguem onde precisam, como oxigênios e sedativos, é tão importante quanto as atitudes que cada um pode tomar no dia-a-dia.

"A uso de máscaras, o distanciamento físico, medidas de higiene e restrições a atividades não essenciais e à movimentação devem ser promovidas e implementadas no nível da comunidade, de acordo com a situação epidemiológica de cada região", destacou

Segundo o Boletim da Fiocruz, números da semana passada indicam que 19 das 27 capitais brasileiras estavam com sua taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTI's) acima de 90%, incluindo Campo Grande (MS).

Taxa de ocupação dos leitos no Brasil, entre julho de 2020 até abril de 2021
 

BRASIL SEGUNDO MSF

Na pandemia vivida no Brasil, os casos de escassez não ficam restritos ao oxigênio. Em muitos hospitais faltam inclusive sedativos - que são essenciais para pacientes em estado crítico que precisam ser intubados - e, com isso, muitos médicos vêem  pacientes que teriam tido chance de sobrevivência ficarem sem acesso a cuidados adequados de saúde, segundo nota do MSF.

“A devastação que as equipes de MSF testemunharam pela primeira vez no Amazonas se tornou a realidade na maioria do território brasileiro. A falta de planejamento e coordenação entre as autoridades federais de saúde e suas contrapartes nos estados e municípios está tendo consequências de vida ou morte”, disse o coordenador de emergência da organização no Brasil, Pierre Van Heddegem.

Aliada às precárias situações das unidades do sistema de saúde, ao negacionismo e falta de adoção de medidas de proteção pessoal por parte da população, diante da pandemia, ainda entra na conta a limitação de que médicos estrangeiros (e brasileiros formados no exterior) não podem trabalhar com atendimento a pacientes no Brasil.

A nota ressalta a rejeição e politização do uso de máscaras, distanciamento físico e restrição de movimentos e de atividades não essenciais, causada pelo volume de desinformação que circula pela sociedade atualmente. Esses itens são apontados como "alimentadores" do ciclo de doença e mortes pela Organização Médicos Sem Fronteiras.

"Além disso, medicamentos como a hidroxicloroquina (usada geralmente contra malária) e ivermectina (um vermífugo) são apregoados [divulgados] por políticos como panaceia (aquilo que se emprega para remediar dificuldades) e receitados por alguns médicos tanto como profilaxia quanto como tratamento para a COVID-19", salienta o texto.

“As autoridades brasileiras têm acompanhado o avanço sem freios da COVID-19 durante todo o último ano. A recusa em colocar em prática medidas de saúde pública baseadas em evidências científicas resultou na morte prematura de muitas pessoas. A resposta à pandemia precisa urgentemente de um recomeço, baseado em conhecimentos científicos e bem coordenado, para evitar mais mortes desnecessárias e a destruição de um sistema de saúde conceituado e prestigiado", finaliza o Dr Christou no comunicado.