25 de abril de 2024
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Cemig: O caso esquecido pelo PT e por Sergio Moro

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Na última quarta-feira, o líder do PT Sibá Machado entregou à Procuradoria-Geral da República um pedido para que o Ministério Público investigue casos de corrupção na era FHC. O motivo foi a delação premiada do executivo Pedro Barusco, que confessou roubar a Petrobras desde 1997.

A avaliação de Sibá, e de outros parlamentares petistas, é de que há direcionamento político nas investigações, com o objetivo de se atingir apenas o PT e o governo da presidente Dilma Rousseff. Em entrevistas recentes, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, endossou a mesma posição.

No entanto, apurar o que ocorreu há 17 anos, quando Barusco diz ter começado a roubar a Petrobras, poderá ser uma tarefa inglória. Um caso de potencial mais explosivo atinge a Cemig, que, até recentemente, era a joia da coroa de Minas Gerais. Trata-se de uma comissão de R$ 4,6 milhões paga a uma empresa do doleiro Alberto Youssef, num negócio que envolve a Light, subsidiária da Cemig.

Resumidamente, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor, vendeu uma pequena central hidrelétrica à Light, controlada pela Cemig. Em contrapartida, depositou R$ 4,6 milhões numa conta indicada por Youssef.

Na Lava Jato, o caso apareceu e o juiz Sergio Moro o classificou como "suspeito", num despacho de novembro do ano passado. Mas fez uma ressalva. "Aparentemente, trata-se de negócio que, embora suspeito, não estaria relacionado aos desvios na Petrobras."

É exatamente aí que surgem as primeiras contradições da Lava Jato. Juiz de primeira instância do Paraná, Moro não tem competência legal para investigar a Petrobras, sediada no Rio de Janeiro, nem as empreiteiras, que são de outros estados. A estatal caiu no seu colo graças aos vínculos de Youssef, que é paranaense, com o ex-diretor Paulo Roberto Costa, também do Paraná. Ocorre que, se é legítimo investigar a Petrobras, o mesmo critério deveria ser aplicado à Cemig. No entanto, até agora, nada foi perguntado ao doleiro sobre a comissão de R$ 4,6 milhões na operação da Light, paga em pleno ano eleitoral.

Um dos erros de análise da Lava Jato é classificar o doleiro Youssef como um operador da Petrobras. Youssef é, na verdade, um operador das empreiteiras, que prestam serviços a políticos de todos os partidos, sem distinção ideológica. Investigá-lo apenas na Petrobras, ignorando casos como o da Cemig, é o principal indício de direcionamento político.