25 de abril de 2024
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Editorial

Consumidor abastece por R$ 3,150 o litro de combustível, mas paga R$ 3,483 por litro de gasolina

Deste ontem (16) a mistura de álcool no combustível passa a ser de 27%. Se você engasgou com o preço, espere seu carro engasgar com uma mistura que ainda não foi testada.

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Algumas coisas se tornam tão comuns que mal percebemos os '‘arranjos’' embutidos no real. Um exemplo é a autorização dada pela Anatel para que as operadoras cobrem valores referentes a 100% da banda larga contratada, mas obriga-as a entregar 70% dessa velocidade ao consumidor. Outro é o caso dos hidrômetros que, após um período sem água (ou quando o volume é grande em determinado período do dia, e menor em outros) registram o ar que contêm nos canos. Ou ainda, o volume de água desperdiçada nas redes de abastecimento, cuja responsabilidade é da concessionária, mas que é rateado entre os consumidores.

Talvez isso devesse ser abordado nas manifestações, mas é provável que mesmo inconscientemente, quando o povo se manifesta exigindo respeito dos governantes. Outro detalhe que não foi esquecido, mas muito pouco lembrado e pouco divulgado pela imprensa, é o fato de o ministro Dias Toffoli ter requerido transferência da Primeira para a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) encarregada de julgar as ações penais do Petrolão.

O que nos chama atenção para esta matéria, no entanto, é que no caso dos combustíveis somos levados a crer no erro comum como se fosse real. Como um desabafo ou uma crítica bem-humorada, quando anunciados os percentuais de aumento dos combustíveis vários internautas brincaram por meio das redes sociais, divulgando um “redução na gasolina por determinação do governo”. E dizia: Dilma reduz a gasolina, agora o litro passa a ter 900ml.

Esbarraram na verdade, ou atiraram no que viram e acertaram o que não viram.

Se formos lógicos, desde há muito nenhum brasileiro abastece seu carro com gasolina, mas com uma mistura de gasolina e etanol. Abastecemos os automóveis com esse combustível chamado tecnicamente de “gasool”, portanto aquelas placas e as bombas de combustível trazem a palavra “gasolina” erroneamente.

História da mistura

Segundo o site Nova Cana – em matéria “História da Legislação Sobre Etanol”, isso vem de longe. A lei é de 1938 – Decreto-Lei nº 737, de 23 de setembro – que torna obrigatória a mistura de álcool (naquela época) anidro a gasolina '‘importada’', em porcentagens que deveriam ser estipuladas em comum acordo pelo CNP (Conselho Nacional do Petróleo) e IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool).

O tempo passou, os veículos brasileiros já chegaram a utilizar gasogênio durante a época da Segunda Guerra Mundial, leis que estipularam porcentagens vieram e foram, aumentando ou reduzindo, alterando os órgãos reguladores etc.

Outro dado, desta vez publicado no Auto Esporte do portal G1, o Brasil adota a mistura de álcool na gasolina desde 1977, quando esse percentual era de 4,5%. Ele foi subindo, gradativamente, até os 25% atuais. O novo aumento deve ajudar a produção de álcool.

E em artigo no site do Senado Federal, sob o título “História e Economia dos Biocombustíveis no Brasil”, o autor Fernando Lagares Távora, diz que “em 1975, foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool) e, em 1977, começa a adição de 4,5% de álcool a gasolina.

Hoje no Brasil, a mistura é obrigatória e pode ser fixado entre 18 e 27,5% o percentual de álcool misturado com gasolina convencional. Em julho de 2007, devido a problemas de fornecimento dos produtores de etanol e à necessidade de importar álcool dos Estados Unidos, o governo federal reduziu a mistura para 20%. Porém desde 1 de maio de 2013, o percentual obrigatório de etanol anidro combustível na gasolina é de 25%.

Outra composição

Visando socorrer o setor sucroalcooleiro de uma das piores crises da história, o governo confirmou o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, dos atuais 25% para 27%, e está valendo desde ontem (16).

Após o anúncio do governo, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, recomendou que veículos movidos apenas a gasolina usem somente combustível “premium”, que não terá o índice de mistura elevado, permanecendo com 25% de mistura, pois os estudos de durabilidade desses motores com a nova composição da gasolina não estão concluídos. "A premium não será alterada. É uma alternativa para motoristas com esses veículos. Para os que têm carros flex, não há qualquer restrição", disse.

Fazendo as contas

Tirando por média os preços dos combustíveis praticados em Campo Grande, média de R$ 3,150, verificamos que o humor crítico dos brasileiros não foge à realidade.

Fazendo contas simples, se o valor do litro do combustível é de R$ 3,150 e que este litro contém 73% de gasolina, o preço real do preço da “gasolina” é de R$ 3,483 (Para o cálculo foi determinado o preço médio do litro de etanol que é de R$ 2,150). Pagamos o risco de termos o motor do veículo estourado por falta de finalização nos estudos por parte do governo.

Portanto, se houverem manifestações em 12 de abril, conforme vem sendo divulgado, não podemos nos esquecer que esta mistura vem desde 1938, ou 1977, já tendo passado pelo gasogênio, o que não nos permite perceber qualquer engodo.

Em tempo, de todos os países que utilizam essa mistura, o Brasil é o que tem o maior percentual autorizado (18 a 27,5%) de álcool, seguido pela Tailândia (10 a 20%) e Paraguai (12%). Países que obrigam a mistura em 10%: Colômbia, Costa Rica e Jamaica. Opcional em 10%: Austrália, Canadá, China, Nova Zelândia e Áustria. Obrigatória 5%: Índia e Suécia. Estados Unidos, obrigatória em 10% nos seguintes estados: Flórida, Hawaii, Iowa, Kansas, Louisiana, Minnesota, Missouri, Montana, Oregon, Washington.