25 de abril de 2024
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RETÓRICA

Eduardo Bolsonaro nega casos como o de Floyd no Brasil, mas PMs espancam jovem

"Se você observar o que está acontecendo nos Estados Unidos, os protestos... eles dizem manifestações, eu diria baderna. Eles dizem contra racistas... eles estão tentando importar isso aqui para o Brasil, mesmo não havendo caso como o de Floyd" disse o '0

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Em evento virtual da maior conferência da direita conservadora dos Estados Unidos, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que o Brasil não tem casos como o de George Floyd, morto em Minneapolis após abordagem policial truculenta. Para o filho do presidente Jair Bolsonaro, a onda de protestos gerada com o episódio não é antirrascista, mas apenas uma "estratégia esquerdista" para "tomar o poder". No entanto, dois dias após sua declaração feita em 12 de junho, no domingo 14 de junho, PMs foram filmados espancando um jovem indefeso em uma favela paulista no Brasil. Na ocasião, os 14 PMs alegaram legítima defesa, mas depois acabaram sendo desmentidos pelas imagens gravadas e foram afastados.  

O parlamentar foi convidado pela Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês) para falar, entre outras coisas, dos reflexos no Brasil das revoltas que eclodiram nos Estados Unidos. Na transmissão, realizada na última sexta-feira, 12, o brasileiro referiu-se às manifestações como "riots", palavra usada por críticos dos movimentos. Tem significado semelhante a baderna, vandalismo.

"Se você observar o que está acontecendo nos Estados Unidos, os protestos... eles dizem manifestações, eu diria baderna. Eles dizem contra racistas... eles estão tentando importar isso aqui para o Brasil mesmo não havendo caso como o de Floyd, que infelizmente morreu, ninguém quer que isso aconteça. Mas eles estão tentando trazer para cá esse tipo de 'protestos'. No final das contas, sabemos que é só estratégia dos esquerdistas para tentar tomar o poder", afirmou o Zero Três.

Durante seus comentários, Eduardo recorreu à estratégia do Palácio do Planalto para tirar a legitimidade das manifestações que ganharam as ruas há três finais de semana com pautas antifascistas, antirracistas e contra o governo. Governistas têm tentando ampliar episódios pontuais de violência e vandalismo para desmerecê-las no todo, como mostrou o Estadão. O temor é o de que os atos cresçam e se tornem pró-impeachment.

VIOLÊNCIA CONTRA FAVELA 

Luiz Antônio de Souza Ferreira da Silva e João Pedro Mattos Pinto, ambos com 14 anos. Thiago Santiago da Silva e Estevão Freitas de Souza, os dois aos 17. O que esses jovens têm em comum? Todos morreram em ações policiais no Rio de Janeiro em 2020, segundo os dados do Fogo Cruzado, aplicativo responsável por captar informações de tiroteios ou ações com agentes públicos.

“É UM PROJETO DE EXTERMÍNIO”

Operações das polícias em abril mataram 58% a mais em relação ao ano passado, segundo Rede de Observatórios da Segurança; ‘é um projeto de extermínio’, afirma ativista Buba Aguiar.  Imagem - quatro dos cinco adolescentes mortos em ações policiais | Foto: Arquivo/Ponte.  

Os moradores das favelas do Rio entendem que o recado com as operações policiais é claro: “É para a gente recuar”, define Buba Aguiar, ativista e moradora do Complexo do Acari, zona norte da capital. Buba critica principalmente o fato de as operações coincidirem com a entrega de cestas básicas em que grupos ajudam moradores atingidos pela crise financeira do coronavírus.

“Nós estamos fazendo uma atividade, um papel que não é nosso, não deveríamos fazer campanhas par não matar nosso povo. O Estado deveria”, afirma. “Ao mesmo tempo, o Estado impede a ação com o seu braço armado. Vemos que, de fato, é um projeto de extermínio, de dar cabo da nossa vida”.

Ao ser informada da pesquisa do Fogo Cruzado, a jovem relata mais um homicídio: a de Rodrigo Cerqueira, 19 anos, no Morro da Providência, também quando ativistas entregavam cestas básicas para moradores, assim como na morte de João Vitor. “Precisamos dar os nomes corretos. Não morreu, foi morto, executado pelo Estado no meio de uma pandemia, na qual as pessoas tem a recomendação de ficar em casa, se preservar. Onde elas estão sendo mortas? Em suas localidades, em sua casa, como o João Pedro”, afirmou a reportagem da Ponte Jornalismo, veja AQUI todo o conteúdo.