20 de abril de 2024
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PETROBRAS

Estatal sofre com troca e gasolina é impactada pela alta do dólar

Perca de confiança dos investidores levaram à maior queda de ativo em toda a história da empresa

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Com crise presente não somente na forma sanitária, em uma luta contra a COVID-19 que já se estende por cerca de um ano -, a pauta da gasolina começou a entrar no radar da "preocupação", tanto dos órgãos e poderes públicos quanto da população. Na Petrobras, as ações despencaram 21% no pregão de ontem (22.fev.2021) e apresentou uma leve recuperação nesta 3ª feira (23.fev.2021), apontando um aumento de 7% nas ações da estatal.

Ontem houve a segunda maior queda do ativo em toda a sua história, segundo apontam especialistas, e o motivo foi a troca, anunciada por Bolsonaro, do presidente da companhia. Roberto Castello Branco saiu para a indicação do atual diretor da Itaipu Binacional, general Joaquim Silva e Luna, que o chefe do Executivo garante "dar uma arrumada" na empresa.

Discordância da política de preços, que tem resultado em recorrentes reajustes no preço dos combustíveis, foram as motivações de Jair Bolsonaro que, mesmo com a determinação da troca de presidentes, garante não ter interferido na empresa.

"O que eu interferi na Petrobras? O que eu falei para baixar o preço [dos combustíveis]? Nada, zero. O que essa imprensa está fazendo? Tem muita coisa errada. O novo presidente [Silva e Luna] vai dar uma arrumada lá [Petrobras], pode deixar", disse Bolsonaro em conversa com apoiadores em frente ao Palácio do Planalto, transmitida por um site bolsonarista.

Pressão de caminhoneiros e discordância da política de preços, causadora de recorrentes reajustes no preço dos combustíveis, foram motivações de Bolsonaro

Investidores perderam confiança nas ações mais negociadas (preferenciais) e nas com direito a voto (ordinárias) da Petrobras. Ambas fecharam o pregão de ontem com queda de 21,5%, indo a R$ 21,45 e 20,47%, fechando em R$ 21,55 respectivamente.

A substituição demonstra que Bolsonaro cedeu à forte pressão dos caminhoneiros, categoria que é próxima ao bolsonarismo e se mostra descontente com os reajustes no preço dos combustíveis, cada vez mais recorrentes.

Com isso, a Câmara dos Deputados - presidida pelo eleito com ajuda de emendas e cargos oferecidos pelo Palácio do Planalto (Arthur Lira), saiu em defesa do presidente, classificando o caos na estatal como "bolha histérica".

Durante entrevista ao jornal Valor Econômico, nesta manhã (23.fev), Lira negou que a decisão de Jair Bolsonaro pela substituição de Roberto Castello Branco pelo general Joaquim Silva e Luna seja uma ingerência na estatal, negando o ato nos preços praticados pela empresa ou o risco de "voltarmos a épocas anteriores".

"Será que o ex-presidente da Petrobras era o único que poderia ter a fórmula do cálculo ideal de como que é feita a conta do combustível, do óleo, da gasolina? Não. Eu não vejo simplesmente o fato de você trocar o presidente da empresa de livre nomeação do presidente da República possa gerar esse tipo de expectativa e a Câmara dos Deputados e o Senado Federal têm todas as ferramentas para manter o Brasil nos trilhos e com os acompanhamentos das situações econômicas que possam acontecer com freios e contrapesos, como aconteceu no ano passado", disse Arthur Lira.

Após sua indicação à presidência da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna delegou à diretoria-executiva a decisão quanto a política de preços. Ele defendeu que "a empresa deve ter consciência de que é parte da sociedade e que seus produtos são voltados a pessoas".

ENTENDA

Cenário internacional impacta no preço do combustível. A Petrobrás utiliza da "paridade de importação" para saber o quanto custaria para vender o combustível importado no país, considerando cotações internacionais, a taxa de câmbio e custos logísticos. Mais recente, o fechamento de poços e refinarias durante a onda histórica de frio nos EUA foi um fator de pressão.

Entretanto, algumas instalações de petróleo paralisadas pela onda de frio no Texas retornaram suas operações. Com isso, não há muitos sinais de que as cotações internacionais que caíram na 6ª feira (19) recuarão fortemente dentro dos próximos meses.

Dados da agência americana de informações em energia (EIA) mostram que o preço médio do diesel na região do golfo do México bateu US$ 2,722 (cerca de R$ 15) por galão, alta de 3,6% em relação à semana anterior. A Petrobrás usa a cotação do petróleo tipo Brent como referência.

Essa cotação registrou uma oscilação de, cerca de, US$ 60 por barril, que recuperava o patamar verificado no início de 2020, antes da pandemia do novo coronavírus, quando o dólar girava em torno dos R$ 4,10. Atualmente a moeda norte-americana encontra-se num patamar vigente de R$ 5,40.

Especialistas que analisam o mercado financeiro mostram que - até pelas declarações intervencionistas de Bolsonaro - o cenário do real seguirá desvalorizado em meio a tantas incertezas

Na 6ª feira o Itaú disse esperar que a taxa de câmbio feche 2022 em R$ 5 por dólar. Já a corretora Ativa Investimentos prevê "câmbio e juros mais elevado, uma eventual maior deterioração fiscal e um PIB mais baixo", durante anúncio de suas expectativas. Com isso novos aumentos se farão necessários, com a corretora indicando espaço para alta de até 6%.

"Ainda que Bolsonaro tenha dito que não irá intervir no preço da Petrobras, o discurso dele torna-se populista quando se vale de uma tentativa de colocar o povo como explorado", disse Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, à Folhapress.