O âncora brasileiro Ricardo Boechat que sempre se recusou ser refém dos textos do teleprompter e da ideologia do politicamente correto, aproveitou a conferida a ele no Jornal da Band para emitir opiniões inimagináveis na bancada de outros telejornais.
Um exemplo aconteceu na noite de ontem, quando o apresentador classificou o cantor Renner como um “vagabundo”, “assassino” e “criminoso” ao comentar a prisão do sertanejo que aconteceu na última sexta-feira, por dirigir embriagado e bater o carro em outro veículo, treze anos após provocar a morte de um casal em uma rodovia do interior paulista.
De acordo om o Terra, as palavras foram ditas no plural. Aplicaram-se também ao motorista responsável pelo acidente que matou, no domingo (28), pai e filha de 2 anos na zona norte de São Paulo — o acusado já havia provocado, também ao volante, a morte de uma mulher em 2008.
Ao verbalizar sua indignação, às vezes com virulência, ainda que sem desbancar para o populismo, Ricardo Boechat dá voz aos milhões de telespectadores igualmente revoltados. De certa maneira, ele atua como expurgador da aversão coletiva contra males crônicos da sociedade, como a impunidade.
Boechat dá a cara a tapa. Tornou-se, intencionalmente ou não, o âncora mais destemido e combativo do telejornalismo brasileiro. Já ganhou tantos prêmios que passou a ser considerado hors concours pela organização de alguns deles.
Tamanha liberdade de expressão tem um preço, literalmente. O jornalista é réu em mais de 50 processos por danos morais, cujos reclamantes exigem indenizações. A Band oferece o suporte jurídico e, tão importante quanto, o apoio editorial para que seu principal âncora não arrefeça.
Com o noticiário tomado por violência, corrupção e outras mazelas, tomara que nós, telespectadores e cidadãos, continuemos a levar sacudidas de Boechat. O dia no qual deixarmos de, assim como ele, nos indignar, será a vitória do caos e a banalização.
Dany Nascimento