18 de abril de 2024
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Editorial

Os políticos e a difícil arte de lidar com a verdade

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A coisa não anda bem no Brasil, e faz tempo. Quando em 1993 o então candidato de oposição Luiz Inácio Lula da Silva percorria o país em campanha, questionado sobre como via o Congresso Nacional, disse que “há uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. Agora, 22 anos passados, o ministro da Educação, Cid Gomes, durante palestra a estudantes da Universidade Federal do Pará, afirmou que a Casa [Câmara Federal] tem de 300 a 400 parlamentares que "achacam". "Eles [deputados federais] querem é que o governo esteja frágil porque é a forma de eles achacarem mais, tomarem mais, tirarem mais dele, aprovarem as emendas impositivas".

Para Lula, nada além de discursos exaltados e pedidos de desculpas públicas. Cães que lambem cães para curar as feridas. A resposta ao Congresso foi dada tempos depois (vinte exatos anos), então com um Lula já eleito e empossado. Durante solenidade de entrega da medalha “Suprema Distinção”, na Câmara, concedida pelo à época presidente da Casa, Henrique Cardoso Alves (PMDB-RN) ao já presidente Lula, este declarou: “Não tem nada mais nobre do que o exercício de um mandato parlamentar”. Já nesta época (na condição de presidente) sendo achacado pelos picaretas.

O desabafo de Cid Gomes fez com que o Congresso fosse além do lamber suas feridas e o chamou às falas. Cid Gomes, pediu desculpas pelas declarações, mas atacou o presidente da Casa, Eduardo Cunha, dizendo: “Prefiro ser acusado por ele de mal-educado do que ser acusado como ele de achaque.” Cid deixou a tribuna ao ser chamada de "palhaço" pelo deputado Sérgio Sveiter (PSD -RJ) e seguiu para o Planalto para entregar pessoalmente à presidente Dilma Rousseff (PT) sua carta de demissão. Gesto raro.

Talvez o agora ex-ministro deixe de transitar, ele também, no lamacento terreno da política e, além de palestras aos estudantes, decida por lecionar. De graça, obedecendo aos seus conselhos dados à época em que foi governador do Ceará pelo PSB: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado".

Melhor definição

A melhor definição deste imbróglio, partiu do ex-senador Eduardo Suplicy (PT), longe, muito longe de ser picareta ou achacador, que postou em redes sociais: “Avalio que o ministro Cid Gomes teve o propósito de ajudar a Presidente Dilma ao fazer análise crítica do comportamento dos parlamentares, cujas decisões de voto estão relacionadas a nomeações e favores do Executivo. Ao renunciar da forma que fez prestou um serviço. É importante logo colocar em prática as medidas anunciadas contra a corrupção.”

Claque dos palhaços

Eduardo Cunha pediu para a Polícia Legislativa retirar manifestantes das galerias do Plenário que aplaudiram o ministro da Educação. “Plenário da Câmara dos Deputados não é lugar de claque”, criticou Cunha.

Pois então que retire das ruas os milhões de manifestantes que foram às ruas no dia 15 de março, em protestos contra a presidente Dilma Rousseff, sim, mas principalmente contra a atual de corrupção desenfreada que pelo Brasil afora corrói os três poderes da República. Que rasgue as pesquisas que apontam vergonhosos índices de aprovação à atividade política e um vergonhoso índice de reprovação da política do “é dando que se recebe”, frase dita pelo então deputado constituinte Roberto Cardoso Alves (PMDB-SP), falecido em 1988 mas lembrado até hoje por haver sido o idealizador do “Centrão” que deu cinco anos de mandato ao presidente Sarney, por quem foi convidado para a chefia do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio. A frase foi tão marcante, expressão maior do fisiologismo que imperava, que o entrevistado, mesmo de depois de sua morte (ocorrida em 1996) ainda é lembrado por ela.

Somos todos da claque, senhor Eduardo Cunha.

Como bem coloca Valfrido Silva, em seu Blog, no subtítulo “Vira-latas”:

Não bastasse a carapuça colocada na hora ao som de um estridente uivo, ops, de uma vaia estrondosa, deve ter pesado o complexo de vira-latas daqueles useiros e vezeiros em trocar de partido (nada de achaque, apenas uma graninha a mais para se eleger mais fácil por uma dessas siglas de aluguel) como quem troca de camisa.

Para encerrar

Probos senhores deputados, para consolidar a lisura de suas condutas éticas e morais, quando do comparecimento do senhor Paulo Roberto Costa à CPI da Petrobras, questionem sua acusação na “Delação Premiada” - e notem que falo em Delação, não Declaração durante uma palestra – conforme publicado na Folha de S. Paulo sob o título “Doação oficial é balela, diz Paulo Roberto Costa”

Em vídeo gravado pela Procuradoria Geral da República o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa afirmou que o sistema de doações eleitorais registradas na Justiça Eleitoral no Brasil é uma falsidade.

“Esse negócio de doação oficial... A maior balela que tem nesse Brasil é a doação oficial, né(?). Agora há pouco saiu na imprensa várias vezes que o dono da UTC fez uma doação oficial de não sei quantos milhões para o PT. Pô, com esse dinheiro daqui (Petrobras). Não tem doação oficial, isso é balela”, disse Costa.

Segundo o ex-diretor, as doações na realidade são “empréstimos”. “Esse negócio de contribuição oficial não existe, tá(?). (…) Na realidade todas as doações, seja oficial ou não oficial, não são doações, são empréstimos. A empresa está emprestando pro cara e depois vai cobrar dele”. Disse.

E não venha dizer que é de agora, coisa recente. Nada disso. Vimos acima a santificada declaração dada por deputado constituinte, e corroborado (em sua antiguidade) pelo delator atual, que acusa:

A compra de turbinas em caráter emergencial durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) foram usadas apenas 10 anos depois, permanecendo estocadas em almoxarifado sem que ninguém questionasse esse fato. AS turbinas foram compradas da Alstom, acusada de pagar propina a servidores e políticos do PSDB de São Paulo.