19 de abril de 2024
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GENOCÍDIO CULTURAL | INTERNACIONAL

Ossadas de 215 crianças indígenas são encontradas enterradas em antigo 'internato' católico

Algumas das crianças tinham apenas três anos

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Os restos mortais de 215 crianças indígenas foram encontrados enterrados num antigo internato no Canadá, construído há mais de um século supostamente para promover a integração dos indígenas com os brancos, de acordo com uma comunidade indígena local.

A chefe Rosanne Casimir, da Primeira Nação Tk'emlups te Secwépemc, disse em um comunicado à imprensa ontem, quinta-feira, 27 de maio, que os restos mortais foram confirmados no fim de semana passado com a ajuda de um especialista em radar de penetração no solo.

Casimir chamou a descoberta de uma "perda impensável que foi comentada, mas nunca documentada na Escola Residencial Indígena Kamloops".

Ela disse que acredita que as mortes não sejam documentadas, embora um arquivista de um museu local esteja trabalhando com o Royal British Columbia Museum para ver se algum registro das mortes pode ser encontrado.

Algumas das crianças tinham apenas três anos, disse ela.

A escola já foi a maior do sistema de escolas residenciais do Canadá. “Dado o tamanho da escola, com até 500 alunos matriculados e frequentando ao mesmo tempo, entendemos que esta perda confirmada afeta as comunidades das Primeiras Nações em toda a Colúmbia Britânica e além”, disse Casimir no comunicado.

O chefe disse que o trabalho para identificar o local foi liderado pelo departamento cultural e de idioma da Primeira Nação, juntamente com guardiões do conhecimento cerimonial, que garantiram que o trabalho fosse feito de acordo com os protocolos culturais.

Um especialista descobriu os restos mortais no último fim de semana usando um georadar no local do internato, perto de Kamloops, na província de British Columbia, anunciou a comunidade aborígine Tk'emlups te Secwepemc em um comunicado à imprensa.

"Algumas tinham apenas três anos", disse Rosanne Casimir, a chefe da comunidade, sobre as crianças. Segundo ela, as mortes, cujas causas e datas são desconhecidas, nunca foram registradas pela direção do internato, embora desaparecimentos já tenham sido mencionados anteriormente por membros da comunidade.

Os resultados preliminares da investigação devem ser divulgados em um relatório em junho, disse Casimir. Enquanto isso, a comunidade está trabalhando com o legista e museus da província para tentar esclarecer a descoberta e encontrar qualquer documentação relacionada às mortes. "Parte meu coração", reagiu no Twitter o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. "É uma triste lembrança deste obscuro e lamentável capítulo da nossa história. Meus pensamentos estão com todos os afetados por esta terrível notícia", escreveu o chefe de governo, que fez da reconciliação com os primeiros pobos do Canadá uma de suas prioridades desde que assumiu o cargo, em 2015.

O antigo internato, era administrado pela Igreja Católica em nome do governo canadense, foi uma das 139 instituições criadas no país no final do século 19. Foi inaugurado em 1890. Fechou as portas em 1969.

Cerca de 150 mil crianças ameríndias e mestiças foram matriculadas à força nessas escolas, onde foram separadas de suas famílias, de sua língua e de sua cultura. Na série "Anne with an E", os criadores mostram a menina indígena Ka'kwet sendo tirada a força da sua família, próximo a ilha do Príncipe Eduardo (uma das províncias marítimas do leste do Canadá).

Muitas crianças foram submetidas a maus-tratos ou abusos sexuais e pelo menos 3.200 morreram, principalmente de tuberculose, de acordo com as conclusões de uma comissão nacional de inquérito.

A comissão disse que ouviu o testemunho de vários nativos americanos que diziam que a pobreza, o alcoolismo, a violência doméstica e as altas taxas de suicídio que ainda afetam muitas de suas comunidades são, em grande medida, o legado do sistema de escolas residenciais.

Em 1910, o diretor da instituição Kamloops reclamou que o governo canadense não estava fornecendo fundos suficientes para "alimentar adequadamente os alunos", segundo o comunicado da comunidade.

Ottawa pediu desculpas formalmente aos descendentes dos internados em 2008 como parte de um acordo de 1,9 bilhão de dólares canadenses (1,3 bilhão de euros).

Eles foram vítimas de um "genocídio cultural", conforme concluído pela comissão nacional de inquérito em 2015.

*Com AFP e Thestar