25 de abril de 2024
Campo Grande 28ºC

'RUMO DA COVID19'

Veja perguntas e respostas sobre a nova variante "P1" do coronavírus

Além das festas de fim de ano, cepa, mais transmissível, é apontada como causa do aumento de casos, que levou a saúde do Manaus ao colapso

A- A+

Visto o colapso da saúde na região norte, com pessoas morrendo asfixiadas, alguns pesquisadores apontaram como parte do problema, não só as aglomerações causadas pelas festas de fim de ano, mas, também, a circulação de uma variante do novo coronavírus - batizada de P1.

Atila Iamarino é Doutor em Microbiologia, biólogo e pesquisador, acompanha a situação mundial da COVID19 desde o aparecimento dos primeiros casos e, visto o terror que pandemias como a da "gripe espanhola" causou para a humanidade, transmite boletins periódicos com análise da situação. Em seu parecer transmitido em 20.jan.2021 ele analisou o aumento da prevalência dessa variante nos casos de coronavírus em Manaus, que na data já chegava à 40% dos infectados apresentando a mutação.

Sem a vigilância epidemiológica de casos e uma vigilância molecular, para acompanhar qual vírus que causa esses casos nas pessoas, é difícil saber o que está acontecendo e com o que estamos lidando, disse na transmissão. "Não é por que ela é mais transmissível que vai furar máscara, nem que vai ser mais resistível ao sabonete, álcool em gel, ela é tão vulnerável a isso quanto qualquer vírus. Mas, se tomar essa medida de maneira errada e incompleta, ela aproveita melhor do seu vacilo. Qualquer vacilo é mais bem explorado pelo vírus", afirmou.

Veja algumas perguntas e respostas para novas perguntas que surgem diante de uma variante, apurada pelo O Globo com especialistas.

  • SENDO MAIS TRANSMISSÍVEL, É TAMBÉM MAIS LETAL?

R: No momento não se sabe do nível de letalidade. É preciso melhores estudos clínicos e epidemiológicos já que estudos epidemiológicos demonstram potencial de contágio.

Sabe-se que as mutações afetam a proteína S, considerada determinante na propagação do vírus. Observando o pico de doentes em Manaus, cientistas acreditam que ela é sim mais transmissível. O próprio ministro da saúde Eduardo Pazuello apontou a variante como "três vezes mais contagiosa", apesar de não apresentar estratégia para evitar a disseminação da cepa.

  • QUEM JÁ PEGOU COVID, É POSSÍVEL SE REINFECTAR PELA VARIANTE?

R: Sim! Ester Sabino lidera os sequenciamentos genéticos do vírus na USP e afirma que reinfecções estão acontecendo, apesar de não poder apontar a frequência.

Também não se sabe da intensidade com que a reinfecção acontece, se igual, menos ou mais forte para quem já adoeceu. Pesquisadores se preocupam pela capacidade que essa linhagem do coronavírus apresenta de “driblar” o sistema imunológico de quem já superou a doença e deveria ser, em tese, resistente.

  • PRECISO TESTAR PARA SABER SE ME CONTAMINEI COM ESSA CEPA?

R: Não tem exame disponível que possa identificar. Por iniciativa própria é impossível descobrir se o cidadão está infectado, por qualquer variante, incluindo a de Manaus.

Somente o sequenciamento genético em laboratórios, ainda indisponível no nosso país, podem identificar a cepa.

  • AS VACINAS QUE ESTÃO USANDO AQUI, SÃO EFICAZES CONTRA ESSA CEPA?

R: Tanto AstraZeneca/Oxford, produzida em parceria com a Fiocruz, e a do Butantan, em acordo com a Sinovac, não divulgaram estudos que respondam sua ação diante da linhagem de Manaus.

O Butantan diz que está em curso de testes para checagem de eficácia nesses casos e pontuam que os resultados serão apresentados "nas próximas semanas". A responsável pela vacina AstraZeneca afirmou que também avalia seu imunizante contra a cepa brasileira, mas a Fiocruz não se posicionou sobre estágio de investigação, segundo O Globo.

Ester Sabino ainda ressalta que não existem recursos suficientes para a condução de um sequenciamento genético mais amplo no país, com amostras de vírus que circulam em território nacional. Ele cita a existência de grupos nacionais com esse enfoque, mas que os esforços não estão bem distribuídos “no tempo nem no espaço", dando um retrato incompleto da epidemia.

O QUA MAIS SE SABE

Essa variante brasileira tem algumas das mesmas mutações, todas e mais um pouco, do vírus que circulou melhor no Reino Unido. Temos, na mesma variante, mutações que estão vindo com o vírus que circula na África do Sul, que tem uma interação pior e diferente com a imunidade.

Ainda sendo necessário muito estudo, mesmo se não fizer diferença na imunidade, só de ser mais transmissível, o vírus já vai explorar melhor quem é vulnerável, vide Manaus, que teve mais da metade da população com o vírus e muita gente com anticorpo e, mesmo assim, o vírus está circulando.

Fernando Spilki é virologista e coordena a Rede Corona-ômica (iniciativa do Ministério da Ciência para observar a evolução do coronavírus). Para ele, com a vacinação em ritmo lento e um número elevado de casos, diante da circulação da nova linhagem, deve-se considerar “se não um lockdown completo”, medidas que restrinjam a circulação.

Ele alerta dizendo ainda que o país corre risco e encaminha-se para enfrentar uma terceira onda.

*Com informações do O Globo