Ontem, segunda (16), o tenente Ítalo Nunes, comandante da patrulha, que alvejou e matou Luciano Macedo, catador de materiais recicláveis, morto ao tentar salvar a família do músico Evaldo dos Santos, cujo carro foi alvejado por militares, em Guadalupe, Zona Norte do Rio, em abril, o caso foi amplamente divulgado pela imprensa, já que a ação policial custou a vida do músico que estava indo para um chá de bebê junto com a família quando, segundo a polícia, foram confundidos com bandidos. Evaldo também morreu. O Chocante é que em depoimento à Justiça Militar, trouxe uma nova justificativa, mas sem provas: disse que o catador estava armado e atirou em sua direção.
A arma que Luciano teria usado? A perícia só encontrou a dos nove militares que respondem por duplo homicídio. Ao todo, aliás, foram 257 tiros disparados por eles, dos quais 83 atingiram o carro.
"Nas imagens feitas posteriormente de cima, é possível ver uma das ocupantes do carro olhando para o chão, procurando algo. As imagens não mostram arma no chão, mas esta postura é suspeita. Se ela estava olhando para baixo, certamente sabia que encontraria algo. Possivelmente um armamento", disse o tenente em seu depoimento. O registro é de Gabriel Sabóia, do UOL.
A mulher, o filho pequeno e uma enteada não se feriram. O sogro de Evaldo foi atingido, mas sobreviveu.
Luciano Macedo morreu, aos 27 anos, depois de lutar 11 dias por sua vida no Hospital Carlos Chagas. Estava com a esposa, grávida de cinco meses, catando madeira para construir um barraco e garantir um teto aos três. Viu o desespero da família e foi ao seu socorro para retirá-los do carro.
As Forças Armadas nem deveriam estar atuando em contato direto com a população, mas em apoio a outros agentes de segurança e em serviços de inteligência. O Brasil segue adotando o terrorismo de Estado contra seu próprio povo. Dessa forma, vamos nos afastando das mudanças estruturais para garantir paz - que incluem um poder público que pense em qualidade de vida para todos e forças de segurança treinadas para não matar como reação básica.
Não há ordens diretas para metralhar negros e pobres da periferia dadas pelo comando do poder público. Mas nem precisaria. Primeiro, as forças de segurança em grandes metrópoles são treinadas para garantir a qualidade de vida e o patrimônio de quem vive na parte "cartão postal", atuando na "contenção" dos mais pobres. Segundo, com um governador e um presidente que apoiam a letalidade policial como política de combate à violência, a percepção da impunidade ajuda a apertar o gatilho primeiro e só perguntar depois.