18 de abril de 2024
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Bernal mesmo se engessa e cava mais um buraco: o do isolamento

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Até semanas atrás era quase impossível imaginar uma gestão pior que a de Gilmar Olarte, o vice-prefeito que, beneficiado por suposto um golpe, comandou a Prefeitura de Campo Grande por 17 meses. Alcides Bernal passou todo esse período acompanhando e avaliando os erros e acertos do vice que ele próprio escolheu. Quando reassumiu o cargo, em 25 de agosto passado, já tinha noção – ou deveria ter – do que fazer e do que não fazer para não repetir Olarte. Mas já lá se vão quase três meses e o governo de Bernal não sai do lugar.

Agora, cresce a probabilidade de Alcides Bernal conseguir o impossível e fazer a população sentir saudades de Olarte. Os erros se repetem, alguns ainda mais desastrosos. Olarte ainda logrou, mesmo a fórceps, conservar uma base de sustentação relativamente mobilizada e fiel. É o que ficou demonstrado com o parecer da Comissão Processante da Câmara Municipal, ao livrá-lo de um procedimento que o remeteria a um expurgo definitivo da vida publica.

Bernal, no entanto, desdenhou a necessidade de apoio político e parlamentar, ignorou a força do Legislativo e virou as costas a aliados que lhe foram fiéis nos longos meses de amargura e afastamento do poder. Numa cidade tomada por buracos em todo seu mapa viário, cavou um, mais fundo a cada dia: o do isolamento. O rompimento com o PT poderia ser evitado. Mas o prefeito parece ter construído esse desfecho, a partir do momento em que, na hora de montar a equipe de governo, alijou seus mais efetivos apoiadores. 

Os petistas são donos de três das 29 vagas do Legislativo. E nem mesmo para audiências protocolares essa bancada foi convocada, para indignação de parlamentares que se expuseram todo tempo como leais escudeiros, a exemplo do vereador Alex do PT.

Se o apoio de três vereadores do PT não fosse assim tão necessário, Bernal certamente deveria dispor de outras opções para não ficar quase solitário na Câmara. Contudo, até hoje ele sequer indicou seu próprio líder no Legislativo, deixando dupla hipótese como explicação: não confia em nenhum vereador ou não apareceu nenhum disposto a assumir tal responsabilidade. Ao seu lado, a mais efetiva e declarada voz de apoio é a da vereadora Luiza Ribeiro, do PPS – que também anda contrafeita com algumas decisões (ou falta delas) do prefeito.

Além do isolamento político e da rala interlocução com a sociedade, o prefeito periga fechar o exercício de 2015 sem deslanchar a administração, como já havia acontecido no primeiro ciclo de mandato. Naquele período (janeiro de 2013 a março de 2014), Bernal ainda se beneficiou de um forte pretexto para justificar o sofrível desempenho: bastava invocar a todo momento o caos financeiro e gerencial que herdou de Nelsinho Trad (PMDB). Não deixava de ter alguma razão, pois as milionárias pendências da Prefeitura exauriam os cofres públicos. Porém, não seriam motivos suficientes para paralisar vários serviços essenciais, como a manutenção das ruas e o funcionamento regular dos Centros de Educação Infantil (Ceinfs), privados de merenda e de outras condições indispensáveis.

Não fossem os préstimos de instituições que pouco ou nada têm a ver com a manutenção da cidade, como as Forças Armadas e a Águas Guariroba, a gestão Alcides Bernal estaria fadada a fechar 2015 como a mais esburacada do País. Campo Grande, vista do alto, é um território tomado por milhares de crateras em todas as regiões urbanas.

A buraqueira vergonhosa não é responsabilidade única de Nelsinho Trad ou de Gilmar Olarte. Um, entregou a manutenção da Capital às mãos de uma organização criminosa que há décadas fatura contratos milionários para serviços de tapa-buracos e asfaltamento nem sempre executados e muitas vezes ineficientes, o que motivou operações da Polícia e do Ministério Publico. Outro, porque durante 17 meses beneficiou-se de um golpe financiado pelos mesmos empresários que ganharam de Nelsinho o controle orçamentário das planilhas de gastos com obras viárias e limpeza publica. 

Nessa conta deve entrar, também, outra caneta ausente nos cuidados básicos com a Cidade Morena: l: somados o primeiro período (antes da cassação) e o segundo (na recente reinvestidura) já são 18 meses com Alcides Bernal à frente da administração municipal.

Se não vai bem gerencial e politicamente, incentivando eleitores desencantados a compará-lo com Olarte, o prefeito Alcides Bernal não estaria tão empolgado em trabalhar por mais quatro anos de mandato. As perdas que vêm sofrendo são determinantes. Perde aliados, por falta de um simples diálogo ou de, no mínimo, um processo de articulação institucional e política. E perde eleitores, que por sua vez estão perdendo a confiança naquele que um dia, em outubro de 2012, sintetizou nas urnas a maciça vontade de mudança de uma comunidade. Uma vontade que pode estar sendo renovada para avançar com igual ímpeto às eleições de 2016!