24 de abril de 2024
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Depois do caos em que deixou Campo Grande, Bernal é visto como ameaça pela população da Capital

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Será julgado hoje no STJ (Superior Tribunal de Justiça) um recurso do ex-prefeito de Campo Grande Alcides Bernal (PP). Caso o parecer seja favorável a Bernal ele pode reverter a decisão da Comissão Processante que por 23 votos cassou seu mandato, dia 12 de março, e o afastou da política por oito anos. Acontece que hoje, depois de dois meses sob nova administração, se a justiça tomar tal decisão, a mesma certamente não terá o apoio da população, que na época, aprovou a cassação depois de ser vítima de promessas de campanhas não cumpridas.

Embora o ex-prefeito consiga mobilizar uma pequena parcela da sociedade, formada por ex-colaboradores e alguns amigos, a maioria dos campo-grandenses reconhece as visíveis mudanças pelas quais a cidade está passando o que os ajuda a esquecer os tempos de Bernal.

Tempos em que a população esperava esperava por medicamentos nos postos de saúde, por materiais escolares para seus filhos e, por isso, se arrependeu de ter acreditado em uma mudança. Bastava andar pelos postos da saúde da Capital ou ficar 15 minutos em frente a um Ceinf (Centro de Educação Infantil) para ouvir as reclamações. Hoje, mais de 90 médicos já foram contratados e mais 231 novos profissionais serão contratados ainda este mês.

A revolta da população, que via o caos em que a cidade estava se afundando se deu, principalmente, diante do fato de que a inércia do prefeito não decorreu de falta de recursos nem mesmo de falta de estrutura para resolver os problemas. Ao contrário, Bernal assumiu uma prefeitura com orçamento maior que o de seu antecessor e com condições e programa de governo que já vinham demonstrando desempenho positivo, bastava a ele, apenas, dar continuidade.

No entanto, o prefeito, por vaidade segundo pessoas próximas a ele, faz questão, sempre, de resolver tudo sozinho, de não ouvir seus secretários, de não ouvir os vereadores que tentavam a todo custo defender seu mandato na Câmara e por isso, tem visto sua imagem se deteriorando perante a população. Bernal assim que assumiu a prefeitura em 2013 trocou a maioria dos fornecedores da administração anterior e fez isso de forma apressada, sem licitação, o que, hoje comprovadamente trouxe dano ao erário público. As auditorias feitas pelo novo secretariado mostram rombos na prefeitura.

Na saúde, por exemplo, foi perdido apenas no SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) mais de R$ 100 mil, equipamentos de mamografia estavam encaixotados nas unidades de saúde, nem mesmo os artistas que se apresentaram na festa de Carnaval de 2014 receberam. Aliás apenas neste evento foram mais de R$ 140 mil não pago e onde está esse dinheiro? Não se sabe, nem os relatórios, nem notas fisais do evento foram encontrados na Fundac (Fundação de Cultura), e agora mais poeria começa a ser levantada, está ainda sendo investigado, mas há fortes indícios de que a prefeitura, sob o comando de Bernal, recebeu recursos de um fundo de saúde para o IMPCG cujo valor é acima dos R$ 100 mil, e esse recurso simplesmente desapareceu.

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do calote mostrou tudo isso, mostrou que Bernal não conseguiu cumprir seu papel de chefe do executivo e deixou crianças começarem as aulas sem material escolar, sem uniformes, sem comida e em alguns casos comendo carne estragada, com quantias de gorduras superiores ao estabelecido pelas normas de vigilância sanitária.

Falta de recursos não pode ser, pois, em 2013, por exemplo, a prefeitura de Campo Grand recebeu do MEC (Ministério da Educação) pouco mais de R$ 800 mil que deveriam ser destinados exclusivamente à compra de produtos alimentares para os alunos do Ceinfs, e até hoje não se sabe o que foi feito com este recurso. O dinheiro sumiu como em um passe de mágicas.

Na última prestação de contas da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Púbica), o secretário Ivandro Fonseca não conseguiu explicar o que a prefeitura fez com cerca de R$ 40 milhões que foram repassados pelo Ministério da Saúde em 2013 e não foram revertidos em melhorias nos postos de saúde da Capital. Basta lembrar que nos primeiros quatro meses de 2013, a população sofreu com a falta de medicamentos nos postos e, hoje, o atual prefeito tenta resolver problemas como consertar equipamentos de raio-x que estavam sucateados. O prejuízo para campo grande foi milionário. Apenas na área de habitação, por exemplo, a cidade perdeu recursos federais por falta de apresentação de documentos, falta de cumprimento de prazos. Campo Grande quase perdeu a vinda de uma grande rede de supermercados porque a prefeitura de Bernal não levou um ano para emitir um alvará.

Brenal não consegue administrar a cidade, as obras estavam todas paradas, agora que a Guaicurus finalmente começa a ser revitalizada, depois de um ano do projeto pronto. O prefeito sequer conseguiu resolver, seja por dificuldade administrativa ou emocional, o problema do pagamento do aluguel da Câmara dos Vereadores e as pessoas que votaram em Bernal começaram a acreditar que era por "birra", e deveria ser, pois o novo chefe do administrativo resolveu o impasse em apenas um mês. Bernal, ao invés de negociar e dialogar com os vereadores, preferiu governar sozinho, tal como os ditadores do período da Guerra Fria, vale lembrar que o maior sonho da população dos países comunistas era justamente mudar de lado e conhecer o mundo capitalista em que as pessoas tinham condições de trabalhar e ter acesso aos serviços públicos de qualidade para garantir uma vida melhor.

Em 2013, o município deixou de receber algumas indústrias, como é o caso de uma montadora chinesa que acabou se instalando no interior do Estado, simplesmente porque a secretaria que deveria promover e garantir a instalação de novas indústrias na cidade sequer possuía titular. Campo Grande foi a cidade de Mato Grosso do Sul que registrou um dos menores números de pedidos de recursos federais junto ao Siconv (Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse do Governo Federal), foram apenas quatro. Municípios como Naviraí, Aquidauana e Sidrolândia, por exemplo, foram mais ágeis ao solicitar convênios junto ao governo federal. E o que isso significa? Que Campo Grande perdeu postos de emprego e que a renda da população progressivamente diminuiu assim como a economia da cidade.

Se pôde existir um quadro pior para Campo Grande, era impossível precisar, mas fato é que a cidade não aguentou mais ser refém de um administrador que sequer sabia reconhecer a importância daqueles que o ajudaram e que o salvaram de perder seu mandato no dia 26 de dezembro de 2013. Bernal teve uma segunda chance, mas não soube valorizá-la. Bernal andava pelos corredores da prefeitura literalmente falando mal de deputados, de vereadores, de empresários a ainda dizia que não o deixavam trabalhar. Por essas e outras, mesmo que a justiça conceda a ele um parecer favorável, a população, provavelmente, não irá aprovar o retorno daquele que lhes tirou a garantia de direitos básicos como saúde e educação.

Heloísa Lazarini