17 de abril de 2024
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Brasil supera Itália em mortes: "O clima é diferente", disse Bolsonaro sobre o vírus

Morreram 34.072 brasileiros e países que respeitaram isolamento já voltam ao norma, no Brasil número continua a subir

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Desde o 1º diagnóstico da Covid-19, em 25 de fevereiro em São Paulo, até este 5 de junho, 34.072 pessoas morreram em decorrência do novo coronavírus. O Brasil supera neste dia a Itália, e passa a ser o 3º país com mais mortes no mundo. Apesar de o presidente Jair Bolsonaro minimizar e dizer que as condições climáticas do Brasil eram diferentes da Itália, e que por isso o país não teria tantas mortes, neste dia 5 de junho, novamente o presidente erra, e com seu erro vão milhares de vidas brasileiras para o túmulo. Em março, o governo federal defendia a diminuição do isolamento social sem base científica. "Há um alarmismo muito grande por grande parte da mídia. Alguns dizem que estou na contramão. Eu estou naquilo que acho que tem que ser feito. Posso estar errado, mas acho que deve ser tratado dessa maneira", afirmou Bolsonaro em 22 de março. 

"Não podemos nos comparar [Brasil] com a Itália. Lá o número de habitantes por quilômetro quadrado é 200. Na França, 230. No Brasil, 24. O clima é diferente. A população lá é extremamente idosa. Esse clima não pode vir pra cá porque causa certa agonia e causa um estado de preocupação enorme. Uma pessoa estressada perde imunidade", afirmou o presidente em reunião no dia 22 de março deste ano.  

O saldo de mortes deve ser reparado com 4.000 mortes ainda em investigação, é difícil dizer se o país atingiu um pico de óbitos diários e quando isso ocorreu. A métrica precária, mas possível, vem dos registros diários de novas mortes confirmadas, que bateram recordes nos dois últimos dias. O governo opera para segurar dano à imagem. Para evitar que o Jornal Nacional possa abrir com o número de mortes provocadas pela doença, o Ministério da Saúde pelo segundo dia seguinte atrasou para após o noticiário o anúncio do levantamento. O jornalismo da TV Globo passou a fazer a conta com a equipe do G1, que está se informando diretamente com as secretarias estaduais de Saúde.

O Ministério da Saúde negou atraso proposital na divulgação de dados sobre infectados e mortos. A divulgação tem sido feita cada vez mais tarde. No começo da pandemia, ainda na gestão de Luiz Henrique Mandetta, a situação epidemiológica era apresentada diariamente em entrevista à imprensa. Desde o começo de maio, os dados passaram a ser divulgados depois das 19h e são comentados por técnicos apenas em declarações a jornalistas no dia seguinte.

A Itália foi o país apontado como primeiro símbolo da tragédia, onde o vírus se instalou antes, em janeiro, e faz do país o 3º em óbitos na pandemia. Em número de mortes chegou a 3º no ranking. O Ministério da Saúde divulgou ontem, em boletim diário da pandemia do coronavírus no Brasil, que o país teve 1.473 mortes confirmadas em 24 horas e chegou a 34.021 no total. Os dados apontam, pelo terceiro dia consecutivo, o maior número contabilizado no período. O índice supera a alta de quarta-feira, quando foram registrados 1.349 óbitos Com os registros mais recentes, o país está atrás apenas do Reino Unido (39.987) e dos Estados Unidos (107.474), segundo ranking da Universidade John Hopkins.

O balanço, que foi divulgado por volta das 22 horas, registrou também 366 mortes que aconteceram nos últimos 3 dias. Além disso, segundo o Ministério da Saúde, há mais 4.159 suspeitas que estão sob investigação. A taxa para cada 100 mil habitantes aponta que o Brasil tem 14 mortes a cada 100 mil. Essa taxa mostra o efeito do vírus em países menos populosos, como o Reino Unido (66,6 milhões) e a Itália (60,3 milhões de habitantes), em comparação com os EUA (329,5 milhões) e Brasil (209,5 milhões). Nessa comparação, o país fica atrás dos Estados Unidos (32,9), da Itália (55,8) e do Reino Unido (59,9). Nestes países, o pico diário de mortes foi alcançado há mais tempo que no Brasil, e muitos já passam por um processo de desaceleração na contagem de mortos.

Enquanto cidades ensaiam a reabertura econômica, a pandemia do novo coronavírus ainda cresce no Brasil, que desrespeita o isolamento, indo contra as recomendações de cientistas e da Organização Mundial da Saúde (OMS), e dando mais valer o que indica o presidente, que nega a existência do vírus. Num momento em que praticamente todos os Estados ainda apresentam níveis de contágio elevados, com índice de transmissão superiores a 1. Isso significa que cada infectado transmite a Covid-19 para mais de uma pessoa, um índice superior à marca ventilada por especialistas para considerar desaceleração dos contágios. Ceará, Pernambuco e Espírito Santo começam a apresentar uma tendência de estabilização no registro de novos casos. Na contramão dessa possível desaceleração, está Goiás. Por enquanto, o Brasil segue com dificuldade de desenhar o tamanho e a intensidade da epidemia no país. 

Em São Paulo, a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e o Sindicato dos Advogados entraram na Justiça com ação contra o estado e a capital paulistas pedindo a suspensão do decreto que flexibiliza a quarentena. “O defendido ‘direito individual de ir e vir’ não pode prevalecer diante do interesse coletivo de proteção à saúde”, diz o documento.