29 de março de 2024
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Camisas 10 de PSDB e PT, FHC e Lula fazem luta do século

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Capazes de protagonizar jogadas políticas de efeito, como a indicação, quatro anos atrás, da então ministra Dilma Rousseff para ser candidata a presidente ou, no final de 2012, antecipar o calendário eleitoral com o lançamento do senador Aécio Neves, os ex-presidentes Lula e FHC também costumam trocar chutes e pontapés verbais entre si. É o que está acontece neste exato momento, quando ambos aumentam ainda mais suas presenças nas campanhas eleitorais do PT e do PSDB. Culminando anos de trocas de farpas, os últimos dias foram especialmente virulentos entre eles. O primeiro ataque da atual safra partiu de FHC. No sábado, quando a convenção nacional tucana, realizada em São Paulo, apontou Aécio como candidato oficial do partido, o ex-presidente afirmou, em discurso, que "as pessoas estão cansadas de empulhação, de corrupção e de mentira". No dia seguinte, durante o lançamento do candidato a governador Alexandre Padilha, Lula resolveu devolver com troco. Afirmou que o governo FHC (1995-2002) havia estabelecido a "promiscuidade" entre autoridades e políticos. Esperto, Fernando Henrique recuperou a iniciativa com uma nota pessoal em que, irônico, como é do seu estilo, afirmou que Lula "não precisava ter vestido a carapuça". Camisas 10 de seus respectivos partidos, FHC e Lula têm estilos diversos. Ser sutil e jocoso, na maior parte do tempo, faz parte do jeito Fernando Henrique de bater no PT e no ex-presidente. - Eles tinham duas grandes metas, uma ligada ao socialismo e outra ligada à ética", disparou FHC, tempos atrás, num evento pró-Aécio. "Do socialismo nunca mais ninguém falou. E de ética? Meu Deus, não sou eu quem vai falar sobre o que está acontecendo", divertiu-se, arrancado gargalhadas de seus correligionários. Lula é o oposto. Ácido e direto, ele prefere ser agressivo em lugar de fazer rodeios: - No governo deles, tentaram privatizar o Banco do Brasil e a Petrobras, costuma dizer Lula. "As ferrovias foram praticamente dadas". Desde que deixou a Presidência da República, doze anos atrás, FHC justifica sua postura de participação na vida partidária do PSDB com um a lembrança do ex-primeiro ministro inglês Winston Churchill. "Depois da Segunda Guerra, Churchill perdeu a eleição mas não se recolheu em sua casa: continuou lutando para voltar ao poder". É o que o próprio FHC tem feito como principal estimulador da candidatura de Aécio a presidente. Atuando como verdadeiro chefe de seu partido, ele tirou da cena principal o ex-governador José Serra, lançou o senador mineiro em campanha e, agora, além de marcar Lula sob pressão, articula a volta por cima de Serra como vice de Aécio. Nada acontece no PSDB sem que ele tenha conhecimento ou avalize. Lula continua no epicentro do comando do PT. Depois de indicar Dilma para ser sua sucessora, marcou outro gol ao lançar e ser o principal eleitor do atual prefeito Fernando Haddad, de São Paulo. Agora, o ex-presidente sustenta a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo e aparece em todos os comerciais do PT, revezando-se com a presidente Dilma, na defesa do governo. Ao contrário do que acontece em países centrais, onde ex-presidentes retiram-se da cena política ou aparecem com discrição, aqui é o contrário. Dentro do antagonismo histórico entre PT e PSDB há a disputa pessoal e intransferível de Lula com FHC e de FHC com Lula. Homens oriundos de classes sociais diferentes, um ex-operário e o outro intelectual, os ex-presidentes continuarão sua rinha, cada vez mais afiados, até que a eleição se decida. Brasil 247