18 de abril de 2024
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“Caso Pasadena”: tom dos ataques ajuda a dinamitar “affair” PT e PSDB

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RENAN CERVERO  DELCÍDIO 

A polêmica que tomou conta da mídia e da opinião pública do Brasil sobre a compra da refinaria de Pasadena, pela Petrobras, já é apontada como mais um dos  devastadores torpedos para abastecer a artilharia dos adversários e inimigos do PT. No dia em que a pesquisa Ibope confirmava a sólida vantagem da presidenta Dilma Roussef sobre os prováveis adversários na disputa presidencial, o “caso Pasadena” era alçado à condição de reforço da retórica oposicionista num nível de importância que só não supera a pendenga que alimenta o chamado “mensalão do PT”.

Embora o negócio da Petrobras renda farta matéria-prima para o noticiário e as demandas envolvendo a sucessão presidencial, não há como negar o impacto que deve causar no processo político-eleitoral de alguns estados, por conta de cenários e arranjos específicos. É o caso de Mato Grosso do Sul, onde o PT e o PSDB, ferozes rivais no plano nacional, enredam-se numa aproximação que, subvertendo a lógica, colocaria no mesmo palanque e no mesmo projeto aliados e opositores da presidenta Dilma, no caso o senador petista Delcídio Amaral, pré-candidato ao Governo, e o deputado federal tucano Reinaldo Azambuja, aspirante a uma cadeira no Senado.

Essa inusitada tentativa de aliança se dá em virtude dos desencontros entre PT e PMDB e da manifesta intenção do PSDB de trocar de garupa. Delcídio estendeu suas conversas a peemedebistas e tucanos, históricos e renhidos rivais na paróquia guaicuru. Mas seria impossível ficar com os dois e Delcídio tinha que escolher. Só que seu tempo de escolha não era o tempo do PMDB do governador André Puccinelli, que não quis esperar e lançou a candidatura do ex-prefeito Nelson Trad Filho. Enquanto isso, Azambuja oferecia-se mais e mais à insólita empreitada de trocar a antiga parceria com o PMDB pela nova e promissora sociedade com a legenda do pré-candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto.

VÃ TENTATIVA - PT e PSDB tentam legitimamente emplacar um acordo local. Tentativa, como se verá, vã. São partidos nacionais, como água e óleo, que não se misturam, nem numa “aliança branca” de jurisdição estadual. Nem mesmo uma improvável autorização dos diretórios nacionais conseguiria fazer desse um enlace duradouro, especialmente após a adoção do chamado “mensalão petista” como munição da campanha anti-Dilma e agora com o reforço do “caso Pasadena” no arsenal do presidenciável Aécio Neves.

E assim, em Mato Grosso do Sul o “caso Pasadena” desceu da amplitude geopolítica de uma disputa presidencial para os limites da unidade federativa estadual, apimentado pelo tiroteio verbal entre Delcídio e o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB). Ambos se acusam pelo apadrinhamento da indicação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras, que operou a compra da refinaria de Pasadena (EUA), transação que, segundo as denúncias, foi irregular.

Para petistas e tucanos de Mato Grosso do Sul que sonham com uma aliança tão insólita quanto poderosa na sucessão estadual, saber agora quem foi o “padrinho” da indicação de Cerveró é menos importante que o tom dos discursos a serem adotados na campanha e a reação das direções nacionais ao tom que já se eleva hoje, seis meses antes das eleições. É tom de briga pesada, no tradicional vale-tudo. Basta conferir os disparos de Aécio e das lideranças nacionais do PSDB em direção ao Planalto.

Não haverá trégua. Cada um tomará sua posição nesta guerra , na qual não haverá lugar para contemporizações. Ou se é de um lado, ou de outro. A defesa do PT é o governo que o PT vem realizando desde Lula, com seus resultados convincentes na economia e nas políticas sociais, espelhados nas várias pesquisas de avaliação administrativa e de sondagem de voto. 

Contudo, só isso não bastará. O PT chegará num momento em que precisará contra-atacar para não ficar refém do escapismo defensivo que não agrada ao eleitorado. Guerra sem quartel, disparos intermitentes. Será impraticável conceber uma aliança tucano-petista sob o pretexto da abstração. Junte-se à fervura dos embates verbais a necessidade que os partidos terão de ampliar ao máximo sua representação congressual.                A guerra eleitoral vai acabar em outubro e logo em seguida outra se inicia, pelo controle da Câmara dos Deputados e do Senado. A oposição para atrapalhar a situação e esta para garantir a governabilidade. O voto de um senador - cargo que Azambuja almeja conquistar trocando apoios com Delcídio -, valerá muito mais ou muito menos para uma Dilma reeleita que o voto do eleitor de um Estado sem peso decisivo na disputa presidencial.

Redação