18 de abril de 2024
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ALERTA MUNDIAL

Contrário ao mundo, Brasil avança em direção à morte com uso de agrotóxicos

Audiência Pública acontece no interior de MS para debater os perigos

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O avanço no uso dos agrotóxicos no país faz um movimento contrário ao do mundo, que vem proibindo e reavaliando muitas substâncias, com intuito de proteger a população, a fala é da pesquisadora da Fiocruz, doutora Fernanda Savicki de Almeida, que ministrará palestra em Audiência Pública para debater o consumo de agrotóxicos em Mato Grosso do Sul. O evento está marcado para ter início as 18h30, desta quinta-feira (25), na Camara Municipal de Dourados. A proposição é do vereador Elias Ishy (PT). 

Conforme os realizadores, o Brasil é o líder mundial no consumo de agrotóxicos, com 7,3 litros por ano para cada um dos habitantes do país. Em Mato Grosso do Sul a taxa é de 40 litros, quase seis vezes a mais do que a média nacional. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram registrados 4 mil casos de intoxicação por agrotóxicos em 2017 no Brasil, quase o dobro de registros em relação há uma década atrás. Em 2018, 154 pessoas morreram por conta do contato com  veneno. Fernanda é integrante da Comissão de Estudo dos Impactos dos Agrotóxicos no MS.

Conforme Fernanda, as consequências dos modelos de desenvolvimento refletem em outras áreas, como na saúde e educação e em outras partes da economia do Brasil. Essa situação fica cada vez mais clara, afirma, com a crise mundial e o cenário político atual, como o de flexibilização das Leis e a força da indústria agroquímico farmacêutica sobre determinados governos.

Durante o evento em palestra, Fernanda deve abordar um pouco das condições dos índices de tolerância de resíduos permitidos pela legislação brasileira, as contaminações ambientais, casos de doenças relacionadas e os problemas gerados ao Sistema Único de Saúde (SUS).  “O interesse financeiro está, muitas vezes, acima da saúde e do meio ambiente. O quanto isso onera, o que representa a nossa realidade?”, questionou.

Além do câncer, segundo a palestrante, os agrotóxicos provocam alterações nas funções sexuais, atrofia dos testículos, puberdade precoce, diabetes, infertilidade, malformações fetais, aborto, endometriose, disfunções de tireoide, obesidade,  parkison, entre outras.

Grandes pontências mundiais como a Europa, já proibiram o paraquate, oitavo agrotóxico mais vendido aqui no Brasil e proibido no território europeu desde 2007, associado a envenenamentos fatais. 

Em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovou o uso de 121 produtos elaborados com agrotóxicos nos dois primeiros meses do atual governo e liberou o registro de 31 novos agrotóxicos. Entre os produtos, 16 foram considerados extremamente tóxicos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Já o glisofato, apontado como causador de câncer em julgamento na Califórnia, segue permitido no Brasil.

Para Fernanda, contrária a decisão de manter o registro do glisofato, esse é apenas um exemplo que se deve manter o debate, principalmente, aberto com a população. Além disso, ela destaca o importante papel da imprensa, de continuar questionando. Como pesquisadora, ela afirma que a discussão deve ser pautada em diversos espaços, nas universidades, escolas, sempre que surgir a oportunidade, bem como ficar atentos aos projetos de leis.

O vereador Ishy, propositor do evento, acredita que o trabalho na Câmara é justamente esse, de garantir a participação, o controle social e a transparência nas ações do Poder Público e que falar sobre o assunto é oportuno para o momento que o país enfrenta, de retrocessos em vários setores. “Todos e todas estão convidados para a atividade. A transformação só acontece com a mobilização popular”, finaliza.