23 de abril de 2024
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NÃO SAI DO PAPEL

Deputado petista diz não acreditar em impeachment de Bolsonaro

Parlamentar analisa que Centrão prefere Bolsonaro fraco

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O Deputado Federal, Vander Loubet (PT), disse nesta quarta (8.set) que não acredita que seja possível tirar do papel o impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido). "Bolsonaro entregou seu governo na mão do Centrão, por isso, interessa ao Centrão que o presidente continue fraco", introduziu o petista. 

Vander esteve na manifestação contra Jair Bolsonaro em Campo Grande (MS), no mesmo dia 7 de setembro, quando ocorreram os atos antidemocráticos em que o presidente insuflou seus apoiadores contra o Supremo Tribunal Federal (STF) em São Paulo e Brasília. Na análise de Vander, o ato foi mais prejudicial do que favorável à Bolsonaro. "Os atos antidemocráticos convocados por Bolsonaro no 7 de setembro deixaram o presidente mais enfraquecido e isolado. Enfraquecido, porque os números dos movimentos ficaram muito abaixo do que esperavam, hoje a imprensa traz a informação de que foram apenas 6% daquilo que os organizadores aguardavam", explicou.  

O deputado sul-mato-grossense disse ainda que Bolsonaro não terá apoio para passar o nome do bolsonarista André Mendonça à vaga deixada pelo ministro Marco Aurélio no STF. "Com essa pauta autoritária a tendência é que ele tenha cada vez menos apoio do Congresso Nacional. No Senado isso deve ficar mais visível e já se cogita, por exemplo, que não haverá maioria para aprovar o nome do bolsonarista André Mendonça para a vaga deixada pelo ministro Marco Aurélio no STF", adiantou.  

Vander em discurso na Praça Ary Coelho em Campo Grande - Foto: Tero QueirozVander em discurso na Praça Ary Coelho em Campo Grande - Foto: Tero Queiroz

De acordo com Vander as ações de Bolsonaro desgastam ainda mais a economia brasileira e a crise pode piorar. "Outra questão que é necessário destacar é que os atos de ontem e esses movimentos golpistas dos bolsonaristas já estão causando e vão causar mais instabilidade no mercado financeiro - hoje a Bolsa já iniciou operando em queda e o dólar em alta. Ou seja, a crise que estamos vivendo (gás de cozinha caro, combustíveis caros, comida cara, desemprego, fome, etc.) pode piorar por culpa da irresponsabilidade do Bolsonaro e dos seus apoiadores. Quem vai sofrer com isso é a maioria da população, que é justamente a parcela mais ignorada pelo bolsonarismo", finalizou uma das principais figuras políticas da oposição ao Governo Federal em MS.  

REBOTE

Além da oposição, hoje Bolsonaro caiu no desgosto no ninho dos tucanos. A executiva nacional do PSDB decidiu nesta quarta-feira que a sigla fará oposição ao governo, porém, adiou a discussão interna sobre o impeachment. A reunião foi convocada pelo presidente do partido Bruno Araújo ainda durante os atos do 7 de setembro, quando o presidente pregou desobediência ao Supremo Tribunal Federal (STF) e fez insinuações golpistas.

“O PSDB repudia as atitudes antidemocráticas e irresponsáveis adotadas pelo presidente da República em manifestações pelo Dia da Independência. Ao mesmo tempo, conclama as forças de centro para que se unam numa postura de oposição a este projeto autoritário de poder; e para evitar a volta do modelo político econômico petista também responsável pela profunda crise que enfrentamos", diz a nota do partido, que repudiou as atitudes antidemocráticas de Bolsonaro na última terça-feira.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que a solução da crise "não está no autoritarismo e arroubos antidemocráticos".

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, também endossou a discussão acerca do impeachment de Jair Bolsonaro após as falas golpistas desta terça. "Parece que as condições estão criadas" para a análise de um pedido de impedimento do presidente, afirmou à rede CNN.

Kassab é um dos principais fiéis da balança no jogo de poder de Brasília. Para ele, Bolsonaro precisa ser submetido ao processo "caso descumpra" alguma ordem judicial do ministro Alexandre de Moraes, como prometeu nesta terça.

JUDICIÁRIO RESPONDEU 

Durante a tarde desta quarta em pronunciamento, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, mandou diversos recados à Jair Bolsonaro. 

Destacam-se momentos já noticiados aqui no MS Notícias:  "Ninguém fechará esta corte", crava Fux

Em um tom firme, Fux destinou disse que Jair Bolsonaro cometeu crime e que precisa ser investigado aponatando a Casa competente. Veja o pronunciamento na íntegra abaixo: 

"O Brasil comemorou, na data de ontem, 199 anos de sua independência. Em todas as capitais e em diversas cidades do país, cidadãos compareceram às ruas. O país acompanhou atento o desenrolar das manifestações e, para tranquilidade de todos nós, os movimentos não registraram incidentes graves.

Com efeito, os participantes exerceram as suas liberdades de reunião e de expressão – direitos fundamentais ostensivamente protegidos por este Supremo Tribunal Federal. 

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Nesse ponto, é forçoso enaltecer a atuação das forças de segurança do país, em especial as polícias militares e a Polícia Federal, cujos membros não mediram esforços para a preservação da ordem e da incolumidade do patrimônio público, com integral respeito à dignidade dos manifestantes.

Destaque-se, por seu turno, o empenho das Forças Armadas, dos governadores de Estado e dos demais agentes de segurança e de inteligência pública, que monitoraram em tempo real todas as manifestações, permitindo assim o seu desenrolar com ordem e paz.

De norte a sul do país, percebemos que os policiais e demais agentes atuaram conscientes de que a democracia é importante não apenas para si, mas também para seus filhos, que crescerão ao pálio da normalidade institucional que seus pais contribuíram para manter.

Este Supremo Tribunal Federal também esteve atento à forma e ao conteúdo dos atos realizados no dia de ontem. Cartazes e palavras de ordem veicularam duras críticas à Corte e aos seus membros, muitas delas também vocalizadas pelo senhor presidente da República, em seus discursos em Brasília e em São Paulo.

Na qualidade de chefe do Poder Judiciário e presidente do Supremo Tribunal Federal, impõe-se uma palavra de patriotismo e de respeito às instituições do país.

Nós, magistrados, ministras e ministros do Supremo Tribunal Federal, sabemos que nenhuma nação constrói a sua identidade sem dissenso.

A convivência entre visões diferentes sobre o mesmo mundo é pressuposto da democracia, que não sobrevive sem debates sobre o desempenho dos seus governos e de suas instituições.

Nesse contexto, em toda a sua trajetória nesses 130 anos de vida republicana, o Supremo Tribunal Federal jamais se negou – e jamais se negará – ao aprimoramento institucional em prol do nosso amado país.

No entanto, a crítica institucional não se confunde – e nem se adequa – com narrativas de descredibilização do Supremo Tribunal Federal e de seus membros, tal como vem sendo gravemente difundidas pelo Chefe da Nação.

Ofender a honra dos ministros, incitar a população a propagar discursos de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas e ilícitas, intoleráveis, em respeito ao juramento constitucional que fizemos ao assumirmos uma cadeira nesta Corte.

Infelizmente, tem sido cada vez mais comum que alguns movimentos invoquem a democracia como pretexto para a promoção de ideais antidemocráticos.

Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra as suas instituições.

Todos sabemos que quem promove o discurso do "nós contra eles" não propaga democracia, mas a política do caos.

Em verdade, a democracia é o discurso do "um por todos e todos por um, respeitadas as nossas diferenças e complexidades".

Povo brasileiro, não caia na tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos da nação.

Mais do que nunca, o nosso tempo requer respeito aos poderes constituídos. O verdadeiro patriota não fecha os olhos para os problemas reais e urgentes do país. Pelo contrário, procura enfrentá-los, tal como um incansável artesão, tecendo consensos mínimos entre os grupos que naturalmente pensam diferentes. Só assim é possível pacificar e revigorar uma nação inteira.

Imbuído desse espírito democrático e de vigor institucional, este Supremo Tribunal Federal jamais aceitará ameaças à sua independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções.

Os juízes da Suprema Corte – e todos os mais de 20 mil magistrados do país – têm compromisso com a sua independência, assegurada nesse documento sagrado que é a nossa Constituição, que consagra as aspirações do povo brasileiro e faz jus às lutas por direitos empreendidas pelas gerações que nos antecederam.

O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.

Num ambiente político maduro, questionamentos às decisões judiciais devem ser realizados não através da desobediência, não através da desordem, não através do caos provocado, mas decerto pelos recursos que as vias processuais oferecem.

Ninguém, ninguém fechará esta Corte.

Nós a manteremos de pé, com suor, perseverança e coragem. No exercício de seu papel, o Supremo Tribunal Federal não se cansará de pregar fidelidade à Constituição e, ao assim proceder, esta Corte reafirmará, ao longo de sua perene existência, o seu necessário compromisso com o regime democrático, com os direitos humanos e com o respeito aos poderes e às instituições deste país.

Em nome das ministras e dos ministros desta Casa, conclamo os líderes do nosso país a que se dediquem aos problemas reais que assolam o nosso povo: a pandemia, que ainda não acabou e já levou para o túmulo mais de 580 mil vidas brasileiras, e levou a dor a estes familiares que perderam entes queridos; devemos nos preocupar com o desemprego, que conduz o cidadão ao limite da sobrevivência biológica; nos preocupar com a inflação, que corrói a renda dos mais pobres; e a crise hídrica, que se avizinha e que ameaça a nossa retomada econômica.

Esperança por dias melhores é o nosso desejo e o desejo de todos, mas continuamos firmes na exigência de narrativas e comportamentos democráticos, à altura do que o povo brasileiro almeja e merece. Não temos mais tempo a perder".