28 de março de 2024
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Em "voo cego", pré-candidatura de Miglioli morre no nascedouro

Traição, ingratidão e trajetória obscura de ex-secretário mancham currículo precoce na vida pública

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A partir do quarto lugar entre os candidatos que em 2018 disputaram as duas vagas do Senado em Mato Grosso do Sul, Marcelo Miglioli poderia construir uma promissora trajetória na vida pública. Até então, era um ilustre desconhecido que só começou a sair do anonimato em 2014, quando foi presenteado pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) com um cargo de primeiro escalão: secretário de Infraestrutura.

Nos anos seguintes, novas chances de visibilidade lhes foram concedidas por Azambuja, culminando com o lançamento de sua candidatura ao Senado. Os votos que alcançou na disputa resultaram do apoio e do envolvimento político e pessoal do governador, aliados do governo e centenas de vereadores seduzidos pelos brilhosos argumentos da máquina sob seu comando. Porém, não se elegeu porque não tinha seus próprios votos e os que alcançou com o empurrão de terceiros não foram suficientes.

Ainda assim, Miglioli saiu das eleições com uma reserva eleitoral que poderia trabalhar, com humildade e grandeza, para sair da sombra do governador e criar sua própria luz na política. No entanto, só os humildes e os grandes conseguem preservar a confiança e a responsabilidade que lhes são atribuídas – e não fariam de um cargo de primeiro escalão o divisor de águas das relações afetivas, administrativas e políticas com o governador. Miglioli não foi chamado para fazer parte do segundo governo de Azambuja e já colecionava algumas ranhuras no PSDB e entre membros do staff governamental.

Mudou-se de mala e cuia de Mato Grosso do Sul, deixando em sua despedida o gosto azedo do ressentimento e da frustração com o insucesso eleitoral e a ausência na nova equipe de governo. Menos de um ano depois da partida, Miglioli retorna, trazendo na bagagem um projeto pessoal de candidatura à sucessão municipal e os discursos que combinam ressentimento, desejos de vingança e a tentativa de mostrar-se diferente do que é, como se não fosse personagem de ponta do contexto político-administrativo do Estado da Capital.

CONTRADIÇÕES 

Miglioli quer ser candidato fazendo oposição ao prefeito Marquinhos Trad (PSD), de quem recebeu apoio administrativo e político quando foi secretário e na campanha para o Senado. E despeja grosseiras contradições, com abordagens típicas dos ingratos. “Hoje, a Prefeitura de Campo Grande gasta o dinheiro do cidadão para se comparar ao pior período administrativo da cidade. A nossa população merece uma gestão igual ou melhor do que as grandes administrações que conhecemos no passado recente. E vou trabalhar para isso”, critica e promete o engenheiro.

Mais descarada ainda é a cortesia que faz com chapéu alheio ao afirmar: “A Avenida Euler de Azevedo era a única saída de Campo Grande não duplicada. Projetar e executar esta obra foi um dos legados que deixei para Campo Grande nos meus três anos e alguns meses como secretário...”

O ex-secretário não hesitou em cometer a apropriação indébita de autoria. A obra na Euler de Azevedo era um dos itens do programa de governo que Marquinhos Trad defendia na campanha de 2016 e foi referendada por Azambuja logo após aquela eleição. Miglioli apenas cumpriu ordens e fez o que eram suas obrigações como titular da Secretaria Estadual de Infraestrutura: projetar e executar um dos itens do programa de governo concebido pelo prefeito e avalizado pelo governador, uma obra de parceria.

Miglioli nada fez além de cumprir ordens do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que o tirou do redoma obscuro em que vivia. Deu-lhe uma identificação partidária, apresentou-o ao mundo político, lançando-o como candidato a senador e permitindo que, para atrair eleitores, chamasse para si as obras do programa de governo que Azambuja defendia desde a campanha.

Agora, filiado ao Solidariedade, Marcel Miglioli procura convencer a sociedade que é uma nova liderança política e que tem competência para fazer tudo o que o prefeito, a seu ver, não está fazendo. É uma pré-candidatura natimorta. Pode ser que um dia ainda chegue à condição de “liderança”, mas nem tão nova e nem inovadora como apregoa. E até lá terá tempo para se desfazer da imagem negativa que ele mesmo lapidou ao chutar o governador, os filiados e os partidos que o abraçaram na tentativa de fazê-lo senador e não transformar-se no que se transformou.