20 de abril de 2024
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PANDEMIA

Entenda o porquê está sendo egoísta ao cobrar celebração do número de curados

Estados Unidos e Brasil, são responsáveis por quase a metade das novas infecções no mundo

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A curva de novos casos confirmados de coronavírus no Brasil reverteu a tendência de queda, e, desde a última semana, voltou a subir. Apesar de especialistas apontar, em estudos, que os estados em que mais cresce o número de infectados e de óbitos pelo vírus são os Estados e regiões onde também há um eleitorado mais expressívo de Jair Bolsonaro, bem como, são os locais, onde mais se descumpre as recomendações médicas do isolamento social. Além disso, são também locais e regiões, onde a população mais acusa a mídia de estar causando 'terror' ao divulgar o número de óbitos e pouco dar importância ao número de curados. Entenda o porquê o cidadão que adota este discurso está sendo egoísta.  

Dados do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, compilados a partir de estatísticas do Ministério da Saúde e baseados na média dos sete dias imediatamente anteriores, revelam que o número de casos confirmados de covid-19 está em trajetória ascendente — e "deve continuar assim", diz Domingos Alves, coordenador do LIS.

Gráfico do LIS mostra curva de novos casos de coronavírus no Brasil em ascensão. Foto: LIS 

Esse método, que leva em conta a média dos sete dias anteriores, é usado para corrigir possíveis distorções na contabilização dos números.

Um levantamento realizado pela agência de notícias Reuters reforça essa tendência de alta.

Quase 40 países, incluindo o Brasil, registraram recordes diários de infecções por coronavírus na semana passada, o dobro do verificado na semana anterior, segundo a Reuters. Isso, no Brasil, se deve principalmente a cresce estabelecida pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, de que, hidroxicloroquina e ivermectina, inibem o avanço da doença no organismo. A afirmação do presidente, não consta em nenhuma pesquisa cientifica como verídica. E até o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que era grande defensor do cloroquina, deixou de indicar o uso do medicamento e até, ficou proibida do mesmo nas unidas públicas de combate ao vírus no Pais.  

Na última sexta-feira (24/07), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo registrou 284.196 novos casos em um único dia, um recorde.

A alta foi puxada por Estados Unidos e Brasil, que responderam por quase a metade das novas infecções. A marca anterior era de 259.848 em 18 de julho. Ambos os países são os mais resistentes ao isolamento social, e são também, os países, onde mais se registram ataques a veículos de imprensa, que alertam o aumento de casos, mas que de acordo com os leitores, não valorizam o número de curados.  

No mundo, já são mais de 15,7 milhões de casos confirmados de covid-19 e 640 mil mortes.

O número de casos vem aumentando não apenas em países como Estados Unidos, Brasil e Índia, mas na Austrália, Japão, Hong Kong, Bolívia, Sudão, Etiópia, Bulgária, Bélgica, Uzbequistão e Israel, entre outros.

No Brasil, o número de novas infecções por dia atingiu um pico de 45.665 no último sábado, considerando a média dos sete dias anteriores. Na semana anterior, esse número era aproximadamente 30% menor, 33.573.

Mas por que isso vem acontecendo?

INTERIORIZAÇÃO 

Alguns Estados onde as capitais registraram uma redução no número de casos passaram a verificar um aumento no número de casos em seu interior.

É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, por exemplo.

"O agravamento dessa interiorização pode ser vista por volta do dia 20 de julho nesses três Estados", diz Alves.

Alves assinala que a média móvel de óbitos nessas unidades da federação permanece "em alta" nas últimas semanas.

Ele diz acreditar que os casos do interior devem começar "a suplantar os da capital". Esse efeito, segundo Alves, também tem o potencial de voltar a afetar as capitais em médio prazo.

"Chamamos isso de 'efeito bumerangue'. Além disso, as quedas no número de casos nas capitais desses Estados não são estáveis."

Alves argumenta que não se pode falar ainda de "imunidade de rebanho" (também chamada "imunidade de grupo" ou "imunidade coletiva").

Ela ocorre quando uma parte suficientemente grande de uma população está imune (protegida) contra essa doença e contribui para que esta não se dissemine. Como ainda não há uma vacina contra a covid-19, essa imunidade de rebanho só seria alcançada por uma imunidade "natural" desenvolvida por uma parte importante da população, depois de ter sido infectada.

Mas muitos especialistas advertem que a imunidade de rebanho não seria a melhor estratégia para vencer o coronavírus.

Além disso, ainda restam muitas dúvidas quanto à imunidade que desenvolvemos contra essa doença. Um estudo recente da Universidade King's College em Londres, no Reino Unido, mostrou que pacientes que se recuperam de covid-19 possivelmente perdem a imunidade em um prazo de meses.

"O que aconteceu foi um fenômeno conhecido como 'bolhas de proteção'. Essas bolhas podem estourar nas próximas semanas, devido ao relaxamento das medidas de isolamento social com a reabertura, e podemos começar a ver um agravamento da situação", acrescenta.

Um estudo recente realizado por pesquisadores da iniciativa Ação Covid-19, dedicados a estudar a evolução da doença, mostrou que o ritmo de desaceleração do número de casos de coronavírus estaria relacionado à formação de "bolhas de proteção" em cidades como São Paulo.

"Se formaram bolhas de proteção na cidade de São Paulo, em que grupos com muitos infectados e grupos quase sem infecções não interagem. Isto explica por que o ritmo da doença desacelerou na cidade, sem chegar à imunidade comunitária. Também mostramos que um eventual aumento da circulação pode estourar essas bolhas", dizem os autores do estudo.

EM MS 

Nesta 6ª-feira (31. julho), o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul divulgou em sua live semanal o segundo relatório situacional do Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir), com indicação do grau de risco nos 79 municípios do Mato Grosso Sul.  

A iniciativa, classifica os municípios em faixas de cores de acordo com o grau de risco que cada cidade apresenta (de baixo a extremo), traz recomendações de medidas no âmbito da Saúde Pública, de Serviços Públicos e do Social a fim de nortear agentes da sociedade, principalmente entes públicos, a tomarem suas decisões e tornarem suas ações mais eficientes no combate à propagação e aos impactos da Covid-19.

Para gerar essa classificação, o programa avalia indicadores municipais relacionados à disponibilidade de leitos de UTI, quantidade de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), busca por contatos de casos confirmados, redução da mortalidade por Covid-19, disponibilidade de testes, incidência na população indígena, redução de casos entre profissionais da saúde, redução de novos casos, fronteira ou divisa com estado que tenha aumento de casos e necessidade de expansão de leitos.

O mapa situacional das quatro macrorregiões de Saúde (Corumbá, Campo Grande, Três Lagoas e Dourados), referente à 30ª Semana Epidemiológica (de 19 a 25 de julho), apresenta 2 municípios na faixa de risco tolerável (amarela), 39 municípios no grau médio (bandeira laranja), 35 no grau de risco alto (bandeira vermelha) e três no grau extremo (bandeira preta). 

Por esse, e por outros motivos que serão aborados abaixo, os alertas são feitos em cima dos casos em a vítima veio a óbitos, pois esta morte poderia ter sido evitada, como muitas foram em países que seguiram as recomendações científicas.  

AUMENTO DE CASOS NO SUL E NO CENTRO-OESTE 

Nas últimas semanas, houve um aumento expressivo de novos casos de coronavírus no Sul e no Centro-Oeste, até então regiões que tinham conseguido controlar o contágio da doença.

Em Santa Catarina, por exemplo, a média móvel dos novos casos chegou a 3274 no último dia 28 de julho, uma alta de 254% comparada à do dia 1 de julho.

O mesmo aconteceu no Paraná e no Rio Grande Sul.

Em Curitiba, onde mais de 90% dos leitos UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão ocupados, os casos estão aumentando exponencialmente. Ainda assim, academias e shopping centers seguem reabertos. A cidade está "no olho do furacão", destaca a física Patricia Magalhães, pesquisadora da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Já na região Centro-Oeste, Goiás vem registrando uma forte alta no número de novos casos desde o último dia 21 de julho.

Segunda onda?

Apesar dos aumentos no número de casos, Alves diz acreditar que não está havendo uma segunda onda.

"O que temos visto é consequência ainda da primeira onda. As curvas do Brasil e dos países que realizaram confinamento em massa de sua população ou até mesmo mantiveram-se de portas abertas, como é o caso da Suécia, não são comparáveis", ressalva.

"O que tem acontecido no Brasil é muito mais parecido ao que acontece nos Estados Unidos", concluiu. 

Fonte: Com BBC NEWS.