20 de abril de 2024
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"Esperança militante". Leia artigo de Semy Ferraz

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Homem de atitudes firmes e coragem singular, o advogado e professor Plínio de Arruda Sampaio, falecido no início desta semana depois de ter resistido altivamente a um duro tratamento de câncer nos ossos, fez de sua vida um exemplo para os brasileiros de todos os credos, partidos e gerações. Desde tenra idade soube enfrentar toda sorte de desafios – nem no período mais intenso da ditadura se silenciou. Ficou exilado inicialmente no Chile e depois, com o golpe sanguinário de Augusto Pinochet, nos Estados Unidos, onde acabou por fazer o mestrado em economia agrícola.

Tão logo retornou ao Brasil, ainda antes do final da ditadura, deu aulas na Fundação Getúlio Vargas, quando se articulou com outros intelectuais de esquerda e fundou o CEDEC (Centro de Estudos de Cultura Contemporânea). Em 1978, ao lado do então dirigente sindical Luiz Inácio Lula da Silva, apoiou e ajudou a eleger nomes da oposição ao regime para construir um partido de perfil socialista. Por conta desse projeto, esteve, desde a primeira hora, ao lado dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, partido no qual permaneceu por 25 anos e pelo qual exerceu vários mandatos eletivos e deu contribuições fundamentais à sociedade brasileira.

Tive a honra de estarmos, lado a lado, com ele em seu último embate pelas teses maiores do Partido dos Trabalhadores, quando de sua candidatura a Presidente do Diretório Nacional, em 2005, na campanha emblemática, denominada “Esperança Militante”. Embora tivesse ficado em quarto lugar na disputa interna, o processo de discussão foi vitorioso para amadurecer e fortalecer o partido, que experimentava sua condição de partido no governo federal. E muito me envaidece ter contribuído para que sua candidatura fosse vencedora em minha cidade-natal, Paranaíba, e obtivesse o segundo lugar no estado.

Como deputado federal em diversas legislaturas, Plínio de Arruda Sampaio – sobretudo nos duros debates da Assembleia Nacional Constituinte – foi fundamental para a conquista milimétrica dos direitos dos trabalhadores e da pessoa humana. Foi com a sua experiência nos movimentos sociais anteriores a 1964, ainda no tempo de sua vinculação à Igreja Católica, que conseguia raríssimos consensos com representantes de setores mais conservadores. Além de ter o dom do argumento lúcido, não fugia do diálogo, do bom debate, daí obtendo emblemáticas conquistas para as camadas populares de um país que até pouco tempo ignorava acintosamente amplas camadas da população.

A despeito de tanta injúria feita ao PT, por meio da maledicência, a história tem mostrado que nosso partido é um celeiro de grandes brasileiros que têm contribuições concretas para a conquista de uma sociedade verdadeiramente democrática e solidária, fundamentada rigorosamente nos valores democráticos. Isso, aliás, é o que incomoda a oposição raivosa que de forma perversa procrastina a sólida trajetória cidadã de nosso partido, feito por homens e mulheres firmes e de valor, com a coragem necessária para mudar a vida das maiorias esquecidas há séculos em nosso País.

Plínio de Arruda Sampaio, independentemente de ter saído há menos de 10 anos do PT, é um dos pilares de dignidade e cidadania amalgamados nas entranhas de dignidade, na alma, do Partido dos Trabalhadores, legado que está na essência e na trajetória de nossa história e que ninguém, por mais ousado possa ser, poderá rasgar, desonrar ou calar, seja pela calúnia ou pela violência.

(*) Semy Alves Ferraz é engenheiro civil e secretário de Infraestrutura, Transportes e Habitação de Campo Grande.