23 de abril de 2024
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ESCUTA JUDICIAM

Grampo revela: Bolsonaro teria antecipado operação à Milton Ribeiro

Ribeiro foi preso na 4ª feira (22.jun.2022) em investigação sobre suposta corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação

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O pastor e ex-ministro Milton Ribeiro caiu num grampo da Polícia Federal (PF), em que afirma que Jair Bolsonaro (PL) o ligou para lhe adiantar sobre “buscas e apreensão”, antecipadamente. O grapo é de uma ligação que aconteceu entre Milton Ribeiro e sua filha ao telefone em 9 de junho. A transcrição em imagem:  

Milton diz: “A única coisa meio… hoje o presidente me ligou… ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?”, conta à filha.

“Ele quer que você pare de mandar mensagens?”, questionada a filha. “Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?”, completa. 

Como já mostramos aqui no MS Notícias, Milton Ribeiro é alvo de investigação envolvendo supostas irregularidades na distribuição de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Nessa escuta anexada em documento assinado nesta 6ª feira (24.jun.2022), o delegado Bruno Calandrini, responsável pelas investigações, diz que o trecho da conversa entre Milton e sua filha deve constar no inquérito. Também afirma que “chamou a atenção” a declaração de Milton de que ele “seria alvo de busca e apreensão” e de que a informação teria sido passada ao ex-ministro por Bolsonaro.

“Nos chamou a atenção […] a precisão da afirmação de Milton ao relatar à sua filha que seria alvo de busca e apreensão, informação supostamente obtida através de ligação recebida do Presidente da República”, diz o documento.

“Isso posto, os indícios de vazamento são verossímeis e necessitam de aprofundamento diante da gravidade do fato aqui investigado”, escreveu o delegado.

As escutas foram autorizadas pelo juiz Renato Borelli, da Justiça Federal em Brasília, que determinou no começo da noite de quinta-feira (23.jun.2022), o envio da investigação de volta para o Supremo Tribunal Federal (STF), por suposta interferência do presidente Bolsonaro. Eis a íntegra

O órgão afirma haver “indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações”.

O juiz citou outros diálogos de Milton interceptados pela PF. Leia a íntegra das conversas:

“Com Waldomiro (terceiro)

“MILTON: Tudo caminhando, tudo caminhando. Agora… tem que aguardar né…. alguns assuntos tão sendo resolvidos pela misericórdia divina né…negócio da arma, resolveu… aquele… aquela mentira que eles falavam… que os ônibus estavam superfaturados no FNDE… pra… (ininteligível) também… agora vai faltar o assunto dos pastores, né? Mas eu acho assim, que o assunto dos pastores… é uma coisa que eu tenho receio um pouco é de… o processo… fazer aquele negócio de busca e apreensão, entendeu?

“Com Adolfo (terceiro, registro feito aos :00:02:45)

“MILTON: (…) mas algumas coisas já foram resolvidas né… acusação de que houve superfaturamento… isso já foi… agora, ainda resta o assunto do envolvimento dos pastores, mas eu creio que, no devido tempo, vão ser esclarecidos….

“Em conversa com familiar (terceiro)

“MILTON: Não! Não é isso… ele acha que vão fazer uma busca e apreensão… em casa… sabe… é… é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? se houver indícios né…”. 

MEMÓRIA

Ribeiro foi preso na 4ª feira (22.jun.2022) em investigação sobre suposta corrupção e tráfico de influência no Ministério da Educação. A prisão preventiva foi revogada na 5ª feira (23.jun), após decisão do juiz federal Ney Bello, do TRF-1. Em nota, a defesa de Ribeiro afirma que “recebeu com surpresa a decisão judicial de remessa dos autos” de volta para o STF. “Observando o áudio citado na decisão, causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação.”

DEFESA

A defesa do ex-ministro nega qualquer irregularidade e diz que a prisão não tinha justificativa, porque ele não exercia mais influência no governo federal e tem bons antecedentes criminais. O advogado Daniel Bialski também vê nulidades nos áudios sobre suposta interferência de Bolsonaro. Segundo ele, a Justiça de primeira instância não tinha competência para autorizar a operação se o caso envolvia suspeitas sobre o presidente, que é uma autoridade com foro privilegiado.

Em outro momento, a filha avisa a Milton Ribeiro que aquele telefonema entre eles estava sendo feito em ligação normal. Para os investigadores, esse aviso foi feito para evitar serem grampeados. Ao ser informado, o ex-ministro pede então para conversarem depois sobre o tema da investigação.

Filha: — Não, pai, essa voz não é definitiva. Eu não sei se ele tem alguma informação. Eu tô te ligando no celular normal viu pai.

Milton: — Ah é? Ah então depois a gente fala então, tá.

Na quinta, o delegado do caso, Bruno Calandrini, havia escrito uma mensagem a colegas dizendo que houve interferência da cúpula da PF para que Milton Ribeiro, após sua prisão, não fosse transferido para a carceragem da PF no Distrito Federal. Ele, entretanto, não citava nenhuma autoridade responsável por essa suposta interferência.