24 de abril de 2024
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ENTREVISTA

"Maia está abalado com problemas pessoais", diz Bolsonaro

Bolsonaro não passa tema e aliados acham que estão 'perdendo tempo com bobagens'. ?Bolsa de valores despenca

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“Não tenho problema com Rodrigo Maia”, disse ontem o presidente Jair Bolsonaro em entrevista a José Luiz Datena, âncora do Brasil Urgente, da Band. “Nada, zero problema com ele. Ele está um pouco abalado com questões pessoais que vêm acontecendo na vida dele. Não quero entrar em detalhes, coisas pessoais, que logicamente isso passa por esse estado emocional dele no momento.” Veja.  

Quando perguntado se a questão teria a ver com a prisão do padrasto de sua mulher, o ex-ministro Moreira Franco, o presidente negou.

“Abalados estão os brasileiros, que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar”, respondeu o presidente da Câmara. “São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de vivendo abaixo da linha de pobreza, capacidade de investimento do Estado diminuindo, 60 mil homicídios e o presidente brincando de presidir o Brasil. Está na hora de a gente parar com esse tipo de brincadeira, de ele sentar na cadeira dele, de o parlamento sentar aqui, e em conjunto resolver os problemas do Brasil. Não dá mais para a gente perder tempo com coisas secundárias.”

PRETERINDO 

Teve tréplica. Numa entrevista em que TV Globo, GloboNews, CBN, O Globo, Valor, Estadão, Folha e UOL foram proibidos, Bolsonaro retrucou. “Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário”, afirmou. “Lamento palavras nesse sentido e quero acreditar que ele não tenha falado isso. Não é palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Se alguém quiser que eu faça o que os presidentes anteriores fizeram, não vou fazer.”

Bolsonaro havia ido à São Paulo para uma visita à Universidade Presbiteriana Mackenzie, noutros tempos conhecida pelo perfil conservador de seus alunos e cenário de embates estudantis no período da Ditadura. Ele visitaria um centro de pesquisas sobre o grafeno. Quando soube que mil pessoas, principalmente estudantes, protestavam contra a celebração do golpe de 1964, suspendeu a visita.

Os ministros da ala militar gostariam que o presidente procurasse Maia e focasse na Previdência ao invés de se perder com temas como as comemorações do golpe. Segundo Andréia Sadi, um deles resumiu — “estamos gastando pólvora em chimango”. Em gauchês farroupilha, perdendo tempo com bobagens.

A ideia de submeter o governo a uma derrota de peso, tirando do Executivo poder sobre o Orçamento via emenda constitucional, surgiu entre os líderes para que o Planalto compreendesse a gravidade em que está a relação com o Congresso. Major Vitor Hugo, líder do governo, sequer percebeu o que estava acontecendo — estava fora da Câmara.

DERROTA 

No fim do dia, terça-feira (26), o ministro Onyx Lorenzoni pediu de última hora uma reunião com líderes de dez partidos para tentar evitar o pior. Não conseguiu. Para evitar a aparência de derrota retumbante, parte do PSL — incluindo Eduardo Bolsonaro — decidiram votar a favor. Os líderes estavam eufóricos. “Acabou o governo”, gritou um, ouvido pelo repórter Eduardo Bresciani. “Acabou, acabou”, repetiram outros, às gargalhadas. (Globo). 

Valdo Cruz: “Se a articulação política do governo não melhorar, vai sofrer novas derrotas no Congresso. A avaliação é de assessores do próprio presidente, preocupados com o clima de desorganização da base dentro do Legislativo. O problema, admitem, é que Bolsonaro ainda resiste a ter um contato mais próximo com seus aliados e assumir negociações políticas. Motivo: acredita que os parlamentares ainda não teriam entendido que não há mais espaço para ficar negociando cargos e verbas com o Executivo. Em tom de ironia, um deputado disse: ’É a velha política assumindo o papel da nova política e tirando poderes do Planalto.’ Agora, o Planalto avalia se vai tentar engavetar a proposta no Senado.”

VOLTAREI 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, virou suas armas contra o presidente, falando ontem aos senadores. “Acredito numa dinâmica virtuosa da nossa democracia”, afirmou. “Tenho certeza de que os poderes, cada um vai fazer o seu papel. Se o presidente apoiar as coisas que podem resolver o Brasil, estarei aqui. Agora, se o presidente ou a Câmara, ninguém quer aquilo, eu vou obstaculizar o trabalho dos senhores? De forma alguma, voltarei para onde sempre estive. Venho para ajudar. Se o presidente não quer, se o Congresso não quer, vocês acham que vou brigar para ficar aqui?”

O dólar fechou em R$ 3,96, maior patamar desde outubro. A Bolsa caiu mais de 3%. (Folha). 

EXEMPLO DE JÂNIO 

Barlaeus, colunista de A República: “Era uma vez um presidente que se elegeu com promessas de acabar com a corrupção no Brasil. Entrou no governo com enorme apoio popular. Governava mandando recadinhos informais para políticos e colaboradores do governo, preterindo a imprensa e os meios oficiais de comunicação. Sem conseguir passar nada no Congresso, onde bateu recordes de rejeição, seu governo ficou paralisado. Você pode achar tudo isso muito contemporâneo e familiar, mas estamos falando de Jânio Quadros, no ano de 1961.”

A primeira-ministra do Reino Unido disse que renunciará se o Parlamento aprovar seu acordo do brexit. Thereza May pediu ainda que deputados do Partido Conservador seguissem a decisão do povo britânico: “deixar a União de modo suave e ordenado”. (Folha).